9 de agosto de 2014

"Poem scene."


Não sabia se ia para frente ou se ficava ali, parada. Olhando para o nada para ver se esse nada se transformava em qualquer coisa. Qualquer coisa, meu Deus. Qualquer coisa que dissesse para onde ir, o que fazer, o que sentir. Via o mundo indo e ela ali, encarando a vida como aquilo que passa sem que a gente precise se esforçar. Dormia e acordava todos os dias feito um robô. Sorria feito um robô. Conversava feito um robô. Dizia coisas feito um robô. Em que se transformara? Devia ter alguma coisa errada, mas o que? Não achava que estava errada - os outros, sim, eles estavam. Viviam e se importavam. Carregavam o tempo nas costas - trabalho, dinheiro, família. Procurava um lugar para se esconder. Dentro do pijama, quem sabe? Não cabia na estante de livros. Nem no guarda-roupa cheio de roupas sem histórias. As pessoas se vão, ela sabia. Velório, missa, adeus. E o que acontecia com aqueles que ficavam? Sentados em bancos enquanto as lágrimas caem. Segurando flores que vão murchar. Fechando as mãos com força para ver se a dor física consegue ser maior. Que nada! Seguem em frente. Sonham e rezam. Queria mais era chorar e se ver livre. E, para ela, o tempo nem ia nem vinha.