29 de dezembro de 2012

De sábado à noite.

Eu não sei o que escrever aqui, e me dá agonia olhar para a tela do computador e o teclado, tela do computador, teclado... Tá passando aquela versão da MTV de O Morro dos Ventos Uivantes, e eu tô jogada no sofá passando os canais da tv, mas sabendo que vou voltar para o filme. Tô só, de pijama e rouca, com as pernas para cima e esperando qualquer mensagem no celular. Eu queria dizer que os dias são diferentes, que ontem eu acordei gostando de você, mas hoje eu nem lembrei da tua voz. É que eu me programei para lembrar dos prós e contras desse amor cansado e desgastado, e eu não sinto saudade. Eu sinto falta, mas saudade não. Saudade é forte e é bom, eu gosto. Mas sentir falta é só olhar para a parede e lembrar daquele quadro velho que a mãe guardou em algum canto da despensa. Talvez um dia ela se lembre dele e o coloque de volta no lugar, e é isso que acontece comigo e com você: talvez um dia a gente se lembre um do outro e se goste de novo e se abrace no sofá.

23 de dezembro de 2012

Crise dos 20 adiantada.

Eu não tenho um motivo específico para não gostar do Natal. Eu só fico triste, sempre. Sem que eu perceba, as lágrimas caem feito chuva forte. Na verdade, acho que não gosto de fim de ano. Não se pode desejar um verdadeiro feliz ano novo quando você sabe que as pessoas só irão envelhecer e passar mais um ano de suas vidas estressadas e rancorosas. Acontece que essa semana minha mãe e meu irmão comentaram que eu tô chegando perto dos 20 anos. São apenas poucos meses de distância e eu fico me perguntando o que fiz da vida até hoje. 

1. Saí de casa para morar com duas "amigas" e estudar Jornalismo.
2. Tive que me mudar e morar só porque a convivência com essas duas "amigas" não estava dando certo.
3. Voltei para a casa dos meus pais porque não aguentei morar só.

Me pergunto se o problema sou eu. Talvez eu não consiga conviver comigo mesma, e ficar trancada no meu quarto parece ser a melhor solução. Eu faço planos e mais planos e vejo que  talvez o meu futuro seja viver debaixo das asas da minha mãe porque, no fundo, eu não tenho coragem para nada. Eu sou cheia de medo do amanhã e queria me esconder debaixo da cama enquanto as pessoas falam como eu sou uma menina maravilhosa e dedicada, que vou fazer muito sucesso no futuro e que o mundo vai ser meu. Não vai não, minha senhora. Eu sou meia torta e assustada, gosto de escrever e de chorar com filmes e livros. Saio de pijamas para comprar comida na lanchonete da esquina, com um par de eternas olheiras e havaianas encardidas. O que eu tenho vontade? De ser alguém nesse mundo cheio de ninguém. Eu me sinto perdida e é por isso que eu choro na frente do computador enquanto escrevo esse texto sem sentido. O que me dói é que a cada passo dado eu não me sinto completa. Quando eu acho que isso ou aquilo vai dar certo, e dá, e mesmo assim eu continuo com um sorriso triste na cara porque ainda tá faltando algo. Meu irmão tem carteira de motorista e uma namorada. Eu tenho um bocado de livros na estante, uma parabólica que não funciona e cartas que nunca entreguei. As pessoas ao meu redor parecem felizes e inteiras e eu sou só um pedaço de mim.

7 de dezembro de 2012

Sobre o que deu errado.

Poderia fazer uma lista. Poderia passar dias fazendo isso e ainda faltaria tempo. Porque é assim: tudo acaba saindo dos eixos quando eu acho que tô vendo estrelas. Eu não lembro qual foi o dia, mas lembro que era fim de tarde. Te esperava com gosto e braços abertos, cheia de ansiedade e saudade no peito. O mundo era comum, mas a gente era diferente, sei lá, era como se o céu fosse nosso e a gente pudesse escolher quais as cores que iríamos pintá-lo. Sempre era vai e volta, mas o coração nunca batia mais devagar. Dava vontade de me declarar todo dia, porque ficava estampado no meu sorriso como eu gostava de você. Mas a música parou de tocar, chovia todo dia e você não queria mais me ver. Foi assim: primeiro as desculpas, depois as lágrimas. Era amor, sabe? Ou é. Eu sempre fui boa em português, mas nunca consegui conjugar ia verbos no tempo certo. É como a minha vida, não sei o que foi e o que é e o que vai ser. Mas as pessoas ainda falam da gente, de como poderia ser. Vai que para de chover algum dia e o céu volta a ter a nossa cor.


"(...) Paper clips and crayons in my bed
Everybody thinks that I am sad
I'll take a ride in melodies and bees and birds
Will hear my words
Will be both us and you and them together (...)"

(Janta - Marcelo Camelo e Mallu Magalhães)

3 de dezembro de 2012

"We found love in a hopeless place." (mais uma despedida)


É sempre uma despedida atrás da outra, não importa para onde eu vá ou para onde eu volte, ainda não inventaram um jeito de dar um "tchau" ou "até logo" sem doer no peito. A gente, nos tempos de colégio, sonha em sair de casa, morar só, essas coisas de quem sonha alto e esquece que o mundo é todo cheio de decepções. Lembro que na última noite dos meus pais aqui, antes de eles voltarem para casa, minha mãe deitou perto de mim e começou a chorar. "O que eu vou fazer sem tu por perto?" Eu acho que foi nesse momento que eu senti todo o amor, a vontade de ficar perto, de abraçar, só ia aumentar. E depois, ela me contou, meu pai chorou boa parte da viagem e, em casa mesmo, ele chorava vez em quando. Dizem que amor de mãe não se mede, mas acho que posso provar aqui que amor de filha também não. Bom, voltando para o foco do meu texto, eu odeio despedidas. E eu sei que sempre vou ter que me despedir, de um lado ou de outro, isso acontece quando você conhece pessoas em vários lugares e acaba pegando um pedacinho de cada uma para si. Acho que se ainda fosse no tempo do orkut, eu escreveria um depoimento para cada um assim:

"Iara Maria, eu já te escrevi uma carta, então acho que as palavras vão acabar se repetindo. Eu lembro que quando eu conheci tu e a Bia foi numa aula de Filosofia, vocês chegaram atrasadas e perguntaram o que era para fazer, e eu mostrei o caderno de exercícios pra vocês. Lembro que tu me seguiu no twitter e elogiou meu blog, e pronto, foi assim. Acho que o que eu mais vou sentir falta é dessa tua imensa fofura e, de todas do grupo de amigos, tu é a que eu mais consigo me identificar, talvez pelos gostos por textos melosos e românticos, ou por filmes dramáticos e que nos façam derramar meio mundo de lágrimas. Quero que tu seja muito, mas muito feliz, e eu sei que não vou perder contato contigo, sinto que tu não vai deixar isso acontecer. Agradeço por sempre tentar me fazer sair de casa, mesmo eu enrolando muito; por ter fé em mim, e ser uma pessoa maravilhosa comigo. Te amo!"

"Bia, de todas, tu é a mais chata e antipática, e acho que eu me dei bem contigo. Sempre vou lembrar da tua eterna vontade de me arrumar um namorado e de me fazer ser alguém sociável, das tuas brincadeiras com minha chatice e apertando minha barriga. Tu é uma boa amiga, mesmo sendo louca. E espero que vocês não consigam outra pessoa para fazer o resumo das provas, porque não vou aceitar ser substituída. Ah, e é óbvio, eu já ia até esquecendo: acho que vou decretar meu apelido oficial para Lidu, porque me apeguei tanto à ele quando à pessoa que o inventou. Te amo. Não esquece de mim, tá?"

"Níncolas, querido Níncolas. Eu acho que é mais fácil contar quantas vezes a gente se xingou do que abraçou, né? Culpa minha, eu sei. Nunca fui uma pessoa carinhosa com amigos, mas isso não quer dizer que meu amor por eles não seja diretamente proporcional à quantidade de palavrões que eu falo. Eu queria escrever aqui uma lista de agradecimentos pelas coisas que tu fez por mim, mas não creio que seja necessário. Aqui, tu foi o meu melhor amigo. Ainda lembro do dia que tu falou que meu nome era igual ao da tua namorada, na aula de Introd. à Comput. Gráf., e eu só ri. E foi assim que nasceu nossa amizade. Eu te amo um bocado, até mesmo quando tenho vontade de arrancar teu cabelo quando tu me chama de desocupada por dormir no lugar de viver. Espero que tu consiga se realizar na vida, com família, emprego e todas essas coisas boas. E vê se de vez em quando manda uma mensagem, só pra eu lembrar que tu não esqueceu de mim! (Prometo que, mesmo longe, não vou te deixar em paz. Se tu quiser, até gravo um vídeo cantando pra tu ouvir quando der saudade.)"

"Ahynssa: sempre que falo ou leio esse nome perto de alguém, essa pessoa me pergunta como que alguém se chama assim? Ai eu vou explicar que tem todo um ritual no teu nome, com significado hindu e etc (mais ou menos isso, né?). Sei que te chamo de louca na maior parte do tempo, mas é só pelo fato de eu ser louca também, de me identificar com todas as tuas manias de escrever o futuro num pedaço de papel. Eu não tenho dúvidas de como teu futuro vai ser brilhante, e toda essa paranoia que tu tem vai servir para alguma coisa! Não sei se o mundo vai estar preparado para te conhecer, mas eu sei que ele vai ficar bastante orgulhoso de ter alguém assim. Acredito em ti, e vou sentir muita falta de todas as tuas loucuras, o teu costume de fazer mil perguntas e falar sem parar. Te amo!"

"Lila, eu sei que a vida é meio torta pra gente, colocando o pé no meio só pra gente tropeçar. Mas alguma coisa me diz que, no futuro, não vão haver pedras no nosso caminho e, mesmo com terminal de ônibus lotado, a vida vai ser tão bonita quanto já é. Eu sei que tu nunca vai desistir de mudar as coisas feias do mundo, e que continue assim. Tu é magra e linda, e o teu jeito de sorrir alegra qualquer um. Mostra isso pr'as pessoas, pra elas aprenderem contigo. Espero que em cada reclamação da vida tu lembre de mim (até parece que tu vai esquecer se continuar me seguindo no twitter, né?!). Que tu seja bem felizona, exalando sentimentos bons e bonitos, mesmo com o veneno que habita em nossos corações. Te amo!"

"Thaís, eu sei que a gente brigou muitas vezes, estresses de trabalho e coisa do tipo, é normal. Mas eu consegui me dar tão bem contigo pelo fato de a gente gostar das mesmas coisas, tipo, sermos eternas adolescentes, e espero que isso não acabe. Eu sei que você, com toda a sua criatividade, vai conseguir se dar tão bem no futuro como todo mundo do grupo, porque eu acredito em todos vocês! E eu também sei que nada vai te fazer desistir, porque tu é persistente e otimista, cheia de vontade. Te amo e queria dizer obrigada por me aguentar tanto tempo, por me fazer companhia nos intervalos tediosos, e por me fazer ter com quem compartilhar meus amores platônicos. 

"Otelinho, o que eu vou sentir mais falta de ti vai ser teu jeito de querer fazer todas as coisas ao mesmo tempo: trabalhos, estágios, academia, cursos, etc. Vou sentir falta dos teus treinamentos para as apresentações, acho que até consigo te imitar gesticulando! Tu e a Ahynssa são iguaizinhos, e consigo imaginar o futuro divertido de cada um. A gente vê escrito na tua testa que tu gosta do que faz, que tem vontade de fazer bem feito e, pode acreditar, tu vai ser dar muito bem. Espero te ver no lugar do Bonner algum dia, pra poder dizer: 'esse ai estudou comigo, eu lembro dele!' Continua desse jeitinho aqui que tu vai chegar lá! Ah, e obrigada pelos presentes! Fico feliz de ter uma coisa física que vai me fazer lembrar de todo mundo! Te amo!"

"Marina, espero que tu tenha paciência para ler o texto até aqui (o que eu acho difícil, mas torço para que aconteça, haha!). Sei que tu é bruta, e até preguiçosinha, mas eu acho que quando tu quer mostrar o que sabe fazer, tu consegue. Eu achei que nunca ia encontrar alguém no mundo que não soubesse andar de ônibus, mas ai está você para provar. Vou sentir saudade das tuas respostas delicadíssimas, dos teus estresses momentâneos e do teu bullying com todo mundo do danceteria. Espero que tu seja feliz, bem feliz, e que consiga se realizar no jornalismo. Te amo e tô torcendo por ti!"

Quero deixar uma coisa bem clara aqui: eu não vou abandonar vocês, nunca, nunquinha. E eu só moro a seiscentos quilômetros daqui, não é possível que a gente não consiga manter um contato frequente. E outra, não é fácil se livrar de mim, eu sou chata tanto no quesito de enjoada, quanto no quesito de não deixar as pessoas me esquecerem. Queria ter conseguido falar isso olhando para cada um de vocês, mas eu nunca fui boa em expressar o que eu sinto através da fala, iria acabar chorando antes da segunda frase, então escolhi escrever aqui para poder guardar para mim também. Nunca imaginei que uma música da Rihanna pudesse descrever esse sentimento que existe entre a gente, mas sim, eu encontrei amor em um lugar sem esperança, onde eu achava que ia dar tudo errado desde o primeiro dia. Eu acho que a saudade foi maior que minha vontade de continuar aqui, mas eu sei que ela vai continuar comigo, porque acaba de um lado e fica de outro. Que o mundo continue bonito aos nossos olhos, mesmo com tanta gente desestimuladora ao nosso redor. Que sejamos todos felizes, com sorrisos para dar e vender, tendo fé numa profissão tão ignorada pelos outros. Eu amo vocês, do tamanho da Danceteria Parafuso! 


"Lembra o que valeu a pena
Foi nossa cena não ter pressa pra passar..."
 (F. Anitelli  - Samba de Ir Embora Só)

27 de novembro de 2012

Todo dia é um dia novo.

            "Todo dia de manhã é nostalgia das besteiras que fizemos ontem." (OTM)

É costume meu passar mais tempo reclamando e odiando a vida, que até esqueço como, algumas vezes, ela pode ser divertida, até interessante. Não encontrei um amor novo, nem aprendi a fazer café. Ainda continuo queimando as comidas ao colocá-las no fogo, e tenho preguiça de sair nos fins de semana. Mas eu quero dizer que todo dia, quando eu acordo, a primeira coisa que faço é olhar para o céu. Eu acho que tenho um certo tipo de amor platônico por aquele mar azul com algodões brancos. Queria que saber como é o cheiro de céu, de nuvem, de vento limpo. Eu tenho dessas coisas que mais ninguém tem, sabe? Ou talvez tenha, não sei. E eu queria fazer as coisas direitinho: café, arroz, pão torrado sem queimar. Andar nas ruas de mãos dadas, conversar besteira, e sonhar junto. Todo dia é um dia novo, ensolarado, azul, com coisas bonitas pra gente se apegar.

21 de novembro de 2012

A vida que me ensinaram.

Era dia de arrumar meu apartamento e coloquei Educação Sentimental II para tocar. Com fones no ouvido e pronta para esquecer dos vizinhos, comecei a cantar junto com a Paula Toller. "A vida que me ensinaaram como uma vida normaaal...", minha voz era tão horrível que eu tinha medo de que a senhora que mora ao lado chamasse a polícia. Não era dia de me importar, de parecer uma gata borralheira esperando que aparecesse uma fada madrinha ou abóbora em forma de carruagem. Essas coisas não eram do meu mundo, e eu não esperava que um dia fossem. Minha mãe sempre falava que as coisas iam dar errado para mim porque eu as fazia darem errado. Sempre fui desastrada e preguiçosa, e tomava banho correndo para sair de casa cedo, sem precisar arrumar meu quarto. Chegava na escola e jogava a bolsa no chão, feito menina-moleque. Em casa, eu andava de descalça e sempre ouvia meu pai gritar lá da cozinha: "menina, calça essa chinela!" Não pensava no futuro ou se algum dia teria um namorado, muito menos pensava em viver só, tendo que pagar contas ou achar alguém para consertar o vazamento do banheiro. Dizem por ai que envelheci, que relaxei. Acostumei com a vida, só isso. Acordar cedo, tomar banho gelado, me arrumar apressadamente para esperar quarenta minutos por uma carona que não chega nunca. Aprendi a andar de ônibus, mas não aprendi a fazer café. O arroz sempre fica salgado demais e eu nunca consigo fazer certo. O mundo é meio torto para mim. Ou eu que sou torta para ele. Peguei mania de limpeza e vejo novela todo dia. A gente envelhece e nem percebe. Quando vê, já tá quarentona, enlouquecendo com o trabalho, cheia de cabelos brancos e com dois filhos para criar. Adolescente de quinze anos querendo sair de casa e eu já querendo voltar. "Tinha trabaaalho, dinheeeiro, família, filhos e tal..." A senhora grita que sou louca, que vai reclamar para o síndico, "isso é um absurdo!". Eu paro, rio baixinho e imagino se serei que nem ela, amargurada e sozinha, comprando ração para os gatos da rua. Hora de cantar no banho.

17 de novembro de 2012

"Happiness only real when shared."


Cada segundinho fica guardado no meu coração como se fosse único: desde a hora da chegada até a partida. O primeiro e último abraço. Eu nunca consigo escrever sobre a minha família sem derramar uma boa quantidade de lágrimas, mas de amor. Lágrimas de alegria e, desde já, de saudade. "Daqui a um mês a gente vem te buscar", meu pai disse. Quando eu me mudei para cá, eu era sonhadora (não que eu tenha deixado de ser); eu era passarinho novo levantando as asas para voar pela primeira vez. Eu conheci o lado ruim e o lado bom de ficar longe de casa. Conheci pessoas maravilhosas e pessoas que me fizeram ter vontade de desistir. Sempre fiquei em cima do muro, sem saber para que lado correr, se ficava ou se voltava, mas decidi. Tudo que eu mais gosto no mundo está a seiscentos quilômetros de mim, cinco horas e meia de viagem. "São tempos difíceis para os sonhadores", eu vi num filme. Mas é que eu quero continuar sonhando, porque longe de casa o mundo fica quase todo vazio para mim. Longe de casa o sorriso é mais cansado, com um quê de tristeza. Longe de casa eu fico com o coração partido, porque casa é onde tá pai e mãe, bolo de cenoura, visita de vó. Eu passei todos os dias, desde a última vinda dos meus pais, contando a volta deles. Eu marcava no calendário quanto faltava para eles chegarem. Até acordei cedo o tempo todo que eles estiveram aqui, para não perder nada, nem uma respiração sequer. Abracei e beijei o tanto que eu podia, cheirei e guardei tudo na memória da alma, para mais uma espera, porque demora, sabe? É como se cada hora se tornasse uma vida. Mas eu esperei nove meses para nascer e conhecer o rosto deles, então acho que consigo sobreviver esperando alguns dias a mais. Deixa a saudade crescer no peito e multiplicar, porque é dela que a gente se alimenta.

14 de novembro de 2012

"Você me faz parecer menos só, menos sozinho."

Tudo ficara pequeno diante da imensidão daquele céu azul. O sol tentava queimar todos os seus neurônios e o vento a carregava para os lados, como se ela fosse pena, leve e solta, folha de primavera. Ia encontrar o grande amor da sua vida naquele barzinho da esquina, de um amigo de um primo. "Você vai gostar, tem música boa e conversa maneira", seu primo dissera. Quem fala "conversa maneira" hoje em dia? Família é um negócio que ninguém entende. Não sabia o que vestir, os sapatos seriam simples demais? Que tal o vestido tubinho preto, discreto, mas que a faria parecer uma mulher? Sua mãe sempre dissera que aquele rostinho de menina nunca a faria crescer na vida, que seria difícil conseguir o respeito das pessoas, e jamais conseguiria um namorado. "Agora eu tenho o amor da minha vida, mamãe", ligara para ela no dia anterior, contando como havia conseguido o que sempre sonhou. Tomou um banho, escovou os cabelos pretos e longos, brilhantes. Nunca fora boa em usar maquiagem, envelhecia demais e a deixava parecendo alguém de outro planeta. Um pouco de batom e um colar que não chamasse a atenção. Tudo nela era calmo, discreto, escondido. O mundo era uma grande festa e era aquela garota que ficava escondida no box do banheiro, rezando para todo o barulho acabar e ela poder ir para casa. Escolheu os sapatos mais bonitos, pretos também, sem brilho. Já estava atrasada quando ligou para o táxi, trancou a porta do pequeno apartamento e se foi. No caminho, pensou na vida, mais uma vez. As estrelas haviam desaparecido e ela apostava que ia chover, mas esperava não ter que passar a noite em casa, sozinha, ouvindo os pingos através da sua janela. O lençol, ultimamente, era sua mais fiel companhia. Joe, o gato, havia fugido há alguns meses, deixando seu coração partido. Foi então que ela decidiu que deveria existir alguém no mundo para ela, um ser humano que seja, porque Deus não poderia tê-la colocado no mundo para viver num apartamento de dois quartos sozinha, abandonada por um gato. Ao entrar no bar, reconheceu algumas pessoas, conhecidos de faculdade, ninguém importante. Quando olhou para uma mesa, encostada no canto mais escondido dali, o viu. Um cigarro na mão e um copo de vodka, um olhar triste, cansado. "Ele é tão bonito", pensou consigo, enquanto sorria torto. Andou até a mesa e, quando ele a viu, o mundo girou em sua cabeça e jamais imaginara que a mulher da sua vida fosse tão bonita. Eles se conheceram num restaurante, haviam dividido uma mesa e se encantaram um com o outro. E foi assim, nada sério, sempre com medo de pisar no lugar errado e destruir todo aquele castelo de sentimentos. Ele se levantou, jogou o cigarro fora, e deixou toda a tristeza ir junto com ele. Se abraçaram e logo o beijo foi dado, ele com as mãos em sua cintura, ela com as mãos em seu cabelo liso, caindo nos ombros, com cheiro de shampoo de menino. Era isso, ele era um menino, cheio de manhas, de sonhos altos e imaginação. E ela queria beijar cada parte do seu rosto e dizer aquilo que o Zeca Baleiro disse em uma música que não lembrava o nome: "você me faz parecer menos só, menos sozinho, você me faz parecer menos pó, menos pozinho". A noite foi longa, quase durou uma vida, e ela sabia que eles continuariam tímidos, apaixonados, feito adolescentes de 13 anos, primeiro amor de escola. 

24 de outubro de 2012

Para sempre até amanhã.

Tinha que ser hoje. Acordara quase ao meio-dia, com a preguiça comum de todas as horas, e resolveu: vai ser hoje. Levantou da cama procurando forças em seus membros, passando a mão pelos cabelos bagunçados. "Olheiras, tenho certeza", ela pensava. Olhou-se no espelho e teve um pequeno susto. "O que eu fiz de mim?" Há quatro meses o namoro que duraria eternamente havia acabado. "A gente não dá mais certo, você sabe. As coisas não estão se movendo." Lembrava daquela fala dolorosa e assustadora do cara que partiu seu coração, o seu tão romântico coração. O mundo tinha acabado. Parou de ir trabalhar, de sair com os amigos, e até de comprar roupas. Os livros foram jogados dentro do armário no quarto ao lado, e Deus sabe quais os tipos de insetos que estavam habitando aquele lugar. As pessoas desistiram de ligar para ela, perguntar como estava. Não adiantava, nada estava bem. Mas hoje ela ia voltar a viver. Tomou um banho gelado, comeu uma maçã que estava perdida na geladeira, jogou algumas coisas na bolsa e foi. O sol estava mais que condenante e, imaginava ela, a parada de ônibus iria parecer a quilômetros de distância, mesmo que sendo um quarteirão depois. Ligara para a mãe no dia interior e disse que queria voltar a escrever, qualquer coisa, nem que fossem cartas anônimas românticas, contanto que ela ganhasse um mísero salário para isso. O ônibus demorou apenas dez minutos e tinham cadeiras vagas para sentar. Ótimo, pensou ela, pelo menos o dia está começando certo. E riu. O dia teve início há muitas horas antes, mas, para ela, as coisas só começavam a funcionar após maravilhosas horas de sono. Não sabia ainda para onde ir. Havia olhado alguns jornais procurando algum tipo de trabalho que a agradasse, mas nada. E, pela primeira vez, não desistiu. Desceu em uma rua do centro da cidade, movimentada, entrou em algumas lojas, até que encontrou um pequeno sebo de livros. Era bonito, antigo, e um casal de quase-idosos estavam sentados, folheando as páginas de um exemplar que estava praticamente se desfazendo em suas mãos. Era ali, tinha certeza. Cumprimentou a senhora, deu um sorriso fraco de início, mas, ao ver aquele sorriso de anos, um olhar cansado, mas cheio de alegria, sentiu vontade. Vontade de ser alguém melhor, de abraçar as pessoas na rua, de amar o primeiro homem sincero que lhe aparecesse. De amar a vida. Conversou com o casal e contou que precisava de um emprego, mesmo que fosse limpando os livros, não importava, ela apenas queria ser útil. O senhor pegou em uma de suas mãos e disse que ela seria bem-vinda, mas que trabalharia não limpando os livros, e sim escrevendo novos. "Pode levar um mês ou um ano, só escreva. Escreva sentimentos, sonhos, gestos. Escreva cada palavra escondida dentro de si." E escreveu, cada dia como um dia comum cheio de sorrisos, amores, segredos. E esperava que, um dia, outras pessoas pudesse ler aquelas palavras que demoraram tanto para sair e serem vistas, que demoraram para serem criadas e expressadas. O que era importante, naquele momento, era que ela sabia que as coisas poderiam existir por horas ou vidas, e que tudo seria para sempre, mesmo que só durasse até amanhã.

O que dá vontade de sorrir.


17 de outubro de 2012

De casa para casa.

A fila do check-in estava enorme. Gente de tantos lugares, tantos sotaques, tantos mundos. Eu estava começando a ficar assustada, não tinha dado tempo de matar toda a saudade e ela já estava ali, voltando pro lugarzinho exclusivo dela no meu peito. Meu irmão não quis ir me deixar no aeroporto, preferiu ficar em casa com a namorada. Namorada, poxa, quem diria?! Eu nunca imaginei que teria que dividir o tempo dele com outra pessoa. "As pessoas crescem", eu pensei, enquanto ele me dava um beijo no rosto e gritava tchau como se significasse até logo. O voo não foi tranquilo. Sentei próxima a saída de emergência e a aeromoça me deu um papel, e nele dizia que, ao sentar naquela poltrona, eu estaria me responsabilizando em ajudar todas as pessoas ali presentes, caso acontecesse alguma tragédia (ok, não foram exatamente essas palavras). "Eu? Responsável por aquelas vidas? Mas eu nem conseguiria me salvar, imagina salvar os outros!", falei com meus botões, nervosa, balançando as pernas e olhando para as pessoas ao meu redor. Me segurei forte, e esperei o avião decolar. O homem sentado ao meu lado paquerava a aeromoça, e eu estava ficando constrangida. Quarenta minutos que mais pareceram quarenta dias. Quando cheguei em casa fiquei alguns minutos olhando para a porta, imaginando o que me esperaria por trás dela: nada. Vazio, eco, silêncio. As lágrimas começaram a escorrer, como se tivessem vida própria. É triste, sabe? Eu sentia tudo em mim querer desmoronar, sentar ali no chão e, sei lá, esperar alguma coisa interessante. O mundo parecia estar dormindo, as pessoas haviam desaparecido. Nem os grilos faziam algum barulho. A gente nasce só e cresce junto, e se acostuma com as presenças, com as vozes. De longe, posso sentir o cheiro do perfume da minha mãe, posso até ouvir minha vó contando as mesmas piadas e todo mundo rindo. De longe, posso ouvir meu pai cantando Queen como se o mundo fosse acabar. Eles me deixam e a saudade fica, feito passarinho novo que não desgruda da mãe.

28 de setembro de 2012

"Alguma coisa a gente tem que amar."

Eu esqueci de dizer pra minha mãe porque eu tô desistindo desse mundo aos pouquinhos. Esqueci de dizer pro meu pai que eu só quero dar orgulho a ele. Nunca fui revolucionária, nunca sai por ai levantando cartazes ou gritando para as pessoas que eu sou contra isso ou aquilo. Eu sou mais de ficar quieta, no canto, choramingando baixinho pra Deus, tentando entender onde foi que o ser humano errou. Acho que foi na falta de amor, sabe? A gente só pensa em crescer e crescer e esquece de sonhar, de ler histórias bonitas, inspiradoras. De querer imitar a literatura, os romances de cinema. E eu continuo conversando com meus botões enquanto vejo as pessoas perdendo suas almas, deixando-as jogadas por ai, nas calçadas, nas esquinas, nos bares. Eu desisto todo dia de sair de casa, de enfrentar os ônibus lotados e ouvir aquelas senhoras falarem sobre os assaltos, a morte de uma amiga querida, o perigo do mundo. Só consigo respondê-las com um "Deus me livre" ou "tá difícil mesmo". Dá medo, num dá? Da cidade grande, do ar noturno. Não sei se o mundo vai acabar ou se já acabou; se, ao tomar algumas vodkas, vou esquecer de tudo isso, ou se vou gritar que tá tudo errado, 'cês tão perdidinhos. Talvez não, talvez eu chegue naquele bêbado cansado, fumando um cigarro velho, e diga: "óh, vai pra casa, não desiste. Deixa o mundo pra lá e sonha, pega um papel e bota a alma nele. Lê um livro, se apaixona de novo, abraça aquele cara que você brigou. Gosta de quem ainda merece ser gostado." Algumas pessoas  vivem no automático, não pensam em um amanhã bonito, mas apenas em um amanhã. Mas tem uma gente por ai que acorda, se benze, toma café com leite gostoso, pão quentinho, sai na calçada para ir trabalhar e pensa: "vai que hoje o mundo resolve dá certo." 

25 de setembro de 2012

"Mais pesado que o céu".



Eu tinha 13 anos. Não sei se estava na adolescência ou ainda era apenas uma criança. Usava umas roupas rasgadas, all star velho, e sentava na calçada do colégio com os amigos, debaixo daquele sol de meio-dia, fugindo da hora de ir para casa. Eu tinha o cabelo preto, curto, caído no rosto: quase um menino. Era tão bom. Conversar sobre coisas banais, planejar um futuro bonito, todo mundo junto. A banda dos amigos, típica época de colégio. Feliz. O mundo era pequeno e a gente era grande. Nenhum dia jogado fora, nenhum fim de semana desperdiçado em casa de frente para a tv. Era música, literatura e sorrisos. 13 anos e ficando de castigo porque minha mãe não queria que eu namorasse, porque eu ficava de recuperação em matemática e física, porque eu fugia do reforço escolar pra comer bolo na padaria. "Cada um segue o seu caminho", uma amiga disse, e a gente ria. Uma hora ia acabar, mas, para a gente, naquele tempo, nada ia mudar o nosso mundo. Sei lá se as pessoas se afastam porque querem ou porque o mundo começa a girar rápido demais. Sei lá se é destino ou Deus ou a triste realidade da vida. Essas coisas eu prefiro não saber. Prefiro ficar aqui, deitada, olhando a biografia do Kurt Cobain que me custou uma boa quantidade de lágrimas. Prefiro ficar lembrando desse tempo como o melhor, como o mais alegre, que talvez nunca se apague da memória de ninguém.

23 de setembro de 2012

Uma parte que ficou.

Esqueci de ligar o despertador e, como já perdi a hora mesmo, fico escondida debaixo do lençol. Não vejo o teto branco do meu quarto e percebo que os filhos do vizinho resolveram me dar um dia de paz (ou algumas horas, nunca se sabe quando eles darão o golpe). O ventilador faz um barulho relaxante, quase como um zumbido baixo. O lençol acima de mim balança com o vento e aquilo me conforta. Nada me incomodava a não ser as engrenagens do meu cérebro me colocando para pensar nas coisas que eu já deveria ter esquecido. Faz tanto tempo... Alguns poucos anos, talvez três? Sou péssima em contas e não quero levantar o braço para contar nos dedos. Não é exatamente saudade que eu sinto. Ou é? Mas é claro que sim. Tantas pessoas vem e vão, eu me deixando ocupar pelos sentimentos novos. Só que nenhum foi tão bonito quanto aquele. Ia além da ansiedade, da vontade, do coração pulando. Ia além do que o que eu via nos filmes e nos livros. Era infantil e ao mesmo tempo parecia ter cem anos. Duraria uma vida. Ai acabou. Às vezes os dias são como hoje: eu perco a hora, deixo a mente vagar por onde ela achar melhor, e então ela inventa de cutucar um espacinho  especialmente reservado para essas memórias. Parece que foi ontem. Se me pedir para lembrar os dias, não conseguirei. Mas as palavras, os sorrisos, os abraços... Eu deveria deixar tudo isso fugir, desaparecer. Até deixo. Mas em domingos comuns, silenciosos, tudo volta. E é pensando nisso que acabo dormindo de novo, para acordar horas depois sem lembrar de nada.

"Feliz o destino da inocente vestal. Esquecendo o mundo e por ele sendo esquecida. 
Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Toda prece é ouvida, toda graça se alcança..."
(Alexander Pope)

17 de setembro de 2012

Se minha vida fosse um livro.


A Culpa é das Estrelas,  John Green.

Me olhei no espelho e meu rosto estava da cor do meu cabelo, com exceção de umas manchas pretas por causa do rímel que tinha escorrido junto às lágrimas. E então comecei a pensar (como sempre acontece quando finalizo a leitura de um livro) como seria a minha vida se ela fosse um livro. Isso soa clichê, o que já faz entender que eu seria (sou?) uma personagem cheia de  clichês. Semana passada um amigo me disse que ele sabia viver, porque saía praticamente  todo dia. Eu não me considero uma pessoa (muito) anti-social. O que acontece é que não sei começar um diálogo com algum desconhecido, então, na maioria das vezes (ou quase sempre), passo o meu tempo em casa, deitada na cama, namorando um livro. O cheiro, o barulho das folhas passando, os personagens. É tudo de uma beleza só, de um amor que vai além das páginas. Eu não saberia escolher um gênero para definir minha vida: memórias eu tenho muitas, mas não suficientes; não vivi o bastante para ter uma biografia. Um romance? De Jane Austen a Nicholas Sparks existem muitas opções histórias. Talvez, no meu caso, ser uma Liesel Meminger cairia melhor. Alguém virá com aquela filosofia barata de que eu já sou personagem da minha própria vida. Olha, você, seja quem for, isso é coisa de gente conformada, de gente que só pensa em arrumar um emprego, um casamento bom e um casal de filhos sejam o orgulho da família. Ouso dizer que não é isso que quero para mim. Ouso dizer que, apesar de não ter um futuro escrito à caneta, já fiz alguns rascunhos. E, se minha vida fosse um livro, talvez eu tivesse uma história boa para contar, cheia de sorrisos e lágrimas, e um amor para a vida toda.


15 de setembro de 2012

Uma canção.

Senta aqui, deixa eu te contar uma coisa: era difícil, sabe? Ficar longe, ter sonhos bonitos e acordar. Eu ficava mais tempo dormindo e pensando como minha cama seria o lugar ideal para passar o resto da vida. Ai eu te ouvi cantar. Não cantar, exatamente. Era um tipo de assobio. Um assobio feliz, cheio de alegria que, enquanto eu ouvia, automaticamente um sorriso me apareceu. Eu sei que dá vontade de jogar tudo para o alto e se esconder debaixo da cama. Penso nisso principalmente quando aparece alguma barata aqui. Sim, uma barata! Corro para a cozinha e caio no choro. Aquele monstro que não se move e me encara. Me arrepio dos pés à cabeça, procuro um vizinho bondoso para me livrar daquele tormento, mas todos estão ocupados demais vivendo suas vidas. E eu sem conseguir matar uma barata! Rezo, faço promessa, pego o veneno e digo que terei coragem para matá-la, mas não tenho. "Não quero mais morar aqui", digo entre lágrimas. Normalmente levo de quarenta minutos a uma hora para me livrar daquela coisa. E por causa de uma barata eu já quis sumir do mundo! De vez em quando junta tudo, eu sei: uma barata, um grito da vizinha, a água que acaba do nada, o porteiro que não vem nos fins de semana... E vem saudade, falta de companhia, o cheiro bom que ficou no lençol. Mas ai eu lembro que te ouvi assobiar calmamente, sem preocupação, fazendo um ovo mexido para o café-da-manhã. Uma música desconhecida, talvez criação sua, talvez obra do momento. O que eu quero dizer é que em um momento ou em outro eu vou puxar meus cabelos e dizer que a vida tá uma merda. Eu faço isso, sempre. Mas quero te pedir para continuar assobiando por ai, despercebido por uns, encantando outros, e fazendo sorrir o mundo.

10 de setembro de 2012

Dois.

Eu estava lendo um livro quando a porta bateu e você chegou. Cansado. Na verdade, exausto. A secretária nova do escritório passava o dia cantando, e ela tinha uma voz fina, te deixava com dor de cabeça. Fiz um café, mesmo sabendo que você odeia quando me meto a fazer qualquer coisa na cozinha. "Te falta o dom", você diz. Enquanto você jogava o café no ralo da pia (fiz com carinho, eu juro!) e falava sobre mais-um-dia-comum, me esparramei no sofá e peguei uma revista, fingindo ler qualquer coisa ali. "Você nunca me ouve", e faz uma cara de menino birrento, de criança que bate o pé quando pede algo a mãe e ela simplesmente continua a conversar com a amiga tagarela. Você era todo lindo: desde o cabelo meio crescido e bagunçado até o dedo do pé. Eu te gostava por inteiro, nenhum defeito sequer. Você sentou no sofá e colocou minhas pernas por cima das suas. E ficou ali, meio que cochilando, meio que olhando para o céu que pintava a varanda. Te puxei para mais perto e beijei cada pedaço do teu rosto: nariz, olhos, bochechas... É sexta-feira. Alguns casais saem com os amigos. Alguns casais saem e se divertem por ai como se o mundo fosse acabar. A gente fica aqui, deitado, encolhidos num sofá de dois lugares. Você cozinharia ou pediríamos comida? "Não sinto fome nem sede com você." E eu poderia ficar te olhando sorrir para mim a noite toda, o tempo todo, a vida toda. Mas a vida toda ainda é pouco tempo para nós.

9 de setembro de 2012

Eu tive um sonho.

Hoje eu acordei pensando em como minha vida seria se eu conseguisse decidir alguma coisa por mim mesma, por menor que fosse. Arriscar em cozinhar algo diferente, pegar um ônibus aleatório e me aventurar por ai, ou até me declarar para alguém. Qualquer coisa que surpreendesse. Qualquer coisa que fizesse minha mente viajar para um lugar diferente, um mundo oposto a esse meu. Acordar cedo, tomar um  banho gelado, preparar meu café-da-manhã, esperar a carona. Todos os dias comuns. Sol, calor, suor, pessoas que passam e não se olham, pessoas que passam e se olham e se esquecem. No condomínio, aquele "bom dia" do vizinho, sem sentido, sem vontade. Essa semana, ao voltar para casa, uma mulher me ignorou no ônibus. "Oi! A senhora vai sentar nessa cadeira?" Com uma cara feia, ela responde que havia acabado de levantar. "Er, obrigado." Sorrio torto, para mostrar alguma simpatia e boa educação. Falta inspiração no mundo. "Logo você falando isso?", alguém diria. Eu tenho certa dificuldade em sorrir para desconhecidos, desde sempre. Mas quando se mora longe de casa, quando é necessário pedir uma informação boba, é bonito colocar um sorriso no rosto. E receber outro sorriso em troca. Isso sim inspira a alma. Isso sim faz a gente ter vontade de acordar todos os dias, com preguiça, mas com coragem. Coragem de sorrir mais, de escrever, de cantarolar desafinado, de dar um "bom dia" querendo realmente um bom dia.

3 de setembro de 2012

Falta um título pra tanto pensamento.

Não sei mais escrever. Sei lá se algum dia eu soube. Anda tudo tão corrido e cansativo que, quando pego um papel e uma caneta para botar umas palavrinhas, por mais simples que sejam, para fora, não saem. Penso no sono, na cama bagunçada, no barulho vindo do apartamento de cima, o choro do bebê que me fazem ter vontade de gritar um "cala a boca!" "Mas é só um bebê", eu penso comigo. Eu tô deixando a vida fugir de mim sem nem correr atrás, e vez em quando paro para pensar: "será que vou me arrepender daqui a cinco, dez anos?" Sei lá. Nunca sei de nada. Meio que tenho mania de não fazer as coisas certas, de ficar receosa, "melindrosa" (como diz minha mãe), sempre chorona. Sempre querendo resolver as coisas no choro. É assim que é não crescer? Não querer que o tempo passe? Ver as pessoas pensando num futuro, querendo terminar a faculdade, casar, ter filhos... Enquanto eu fico só pedindo pro tempo parar, ficar onde tá. Sabe, tá bom, tá legal. Desse jeitinho eu consigo. Sorrir meio torto ao ouvir os sonhos realistas dos outros, e ficar calada, guardando os meus pobres clichês para mim. 

"Os jovens não têm o monopólio dos corações partidos, sabe."
(A Última Carta de  Amor)

12 de julho de 2012

Primaveras.

Eu sei que é meio errado reclamar da vida o tempo todo, mas faz parte. 19 primaveras, 19 anos, 19 vidas até. Com o tempo, eu adquiri uma mania feia de ser nostálgica, de amar o passado e deixar o futuro para depois. É porque é tudo saudade. Algumas pessoas passaram, outras ficaram, novas chegaram. Aprendi a amar cada pessoa do jeito certo, a ter paciência. Amigos. É uma palavra tão bonita, não é? Eu tô aqui sentada, esperando as panquecas ficarem prontas, e deixando a vida passar na minha cabeça como num filme. Se eu sou clichê? Mas ora... Para mim, lembrar do ontem, lembrar do que passou é algo fixo, que tem que ser feito todo dia, pra não se deixar apagar. Algumas coisas somem, aquilo que é trivial. O resto fica, para marcar presença. Ontem minha mãe veio com aquela pergunta boba de amiga-adolescente: "e tu não tá gostando de ninguém?" Acho legal isso da minha mãe, sabe? Tentar se aproximar de mim, saber da minha vida. E ela sabe, mesmo que eu não diga, o que é raro de acontecer, porque até um espirro que eu dou tenho que contar a ela. Então, voltando a pergunta dela: eu não gosto de ninguém? Na verdade, eu gosto tanto, tanto, mas tanto, só que de todo mundo. Eu não tô fugindo do objetivo da pergunta, eu tô sendo sincera. Talvez eu seja até um pouco não-sociável, mas eu até gosto de algumas pessoas. A gente se afasta das pessoas importantes achando que alguma coisa vai mudar. Muda, mas nem é com todo mundo que isso acontece. Tem gente que eu passo meses sem ver, e quando encontro, parece que nada mudou. A confiança está intacta, a amizade, o afeto, tu-di-nho. E meu coração sorri, pula, bate por causa dessa alegria que chega do nada, sem motivo nenhum, só pra me lembrar que os anos passam, que a gente envelhece, mas que as coisas  boas sempre vão estar presentes e, se escondidas, logo aparecem para apertar a gente num abraço imaginário. Amigos. É um sentimento bonito, não é?

8 de julho de 2012

Gostar.

Em grande parte do meu tempo (ou em alguma conversa com alguém interessante) eu sinto inveja daquelas pessoas que conseguem se expressar melhor que eu. Não, não é daquelas invejas maldosas que a gente vê por ai, é coisa pouca, coisa boba. Com um papel (ou um computador ou um celular) na mão, eu consigo dizer coisas que jamais imaginei que diria. Eu consigo me abrir. Descubro saber palavras que pensei que nunca frequentaram meu cérebro. Descubro sentimentos, medos, e até coragem. Coragem de falar aqueles sentimentos tortos que existem em mim, de te dizer as coisas mais ridículas e, quem sabe, engraçadas, porém verdadeiras. Talvez na hora de falar eu fique travada, e nervosa, e gelada. Talvez eu consiga sentar no teu colo e sussurrar ao pé do teu ouvido: "eu te gosto um bocado." E ai eu ficaria em silêncio e vermelha, por ter dito tal coisa, por ter aberto a boca pra falar algo que eu sempre escrevi no papel. Mas que coragem a minha! E você rindo de mim, como se soubesse o que eu estava pensando, como se eu estivesse falando em voz alta. Será que eu estava? Mas de que importava mesmo, não é? Quando a gente gosta não importa o tamanho do frio na barriga, a gente tem uma coragem danada, que aparece como mágica, fazendo tudo parecer fácil, tranquilo, bonito. Parece um sonho bom. E é.

6 de julho de 2012

Buraco.

Tô meio assim, perdidinha, passando aba por aba do navegador da internet, procurando alguma coisa fixa pra me entreter e me fazer esquecer de certas coisas difíceis de lidar. Vejo as fotos de uns amigos, leio Gabito Nunes, e abro meu blog pra ver se consigo me livrar desse peso nas minhas costas. Hoje eu fiz alguns testes vocacionais, e um dos resultados dizia que consigo me expressar melhor escrevendo do que falando, que não sei lidar muito com a comunicação oral. Verdade. Acho mais difícil conversar olhando nos olhos das pessoas, acho um desafio e tanto, que não é pra mim. Há alguns dias venho pensando no que fazer do meu futuro e lembrei de um livro que li, Julieta, em que a personagem fala que nunca conseguiu imaginar um futuro certo, que quando ela tentava, só via um buraco negro. Acho que agora me identifico com isso. Na realidade, não vejo um buraco negro, vejo apenas algo faltando. Eu sou só mais um clichê, daquele tipo de adolescente que passa boa parte da vida dizendo: "quero ser escritora quando crescer!" E acha que é só assim. Crescer e escrever. Seria tão mais fácil... Sempre quis Jornalismo, nunca me imaginei fazendo outra coisa porque para mim não existia outra coisa. Era Jornalismo e pronto. Imaginei que essa seria a porta de entrada para o meu futuro, e talvez seja, só ainda não descobri como abri-la direito. E sempre venho me perguntando se eu gosto mesmo do curso e hoje, numa conversa com a minha mãe, ela veio me perguntar se tava valendo a pena: eu não sei. Olho para o teto, depois para os meus pés e não consigo definir esse sentimento. Como na maioria dos momentos da minha vida, eu sempre escolho o meio termo. Hoje, agora, não sei o que fazer, nem para que colo correr. Só queria que a vida se resolvesse enquanto eu leio um livro. Ou escrevo um desses desabafos desesperados. Sei lá, alguma frase que sirva de sinal. Qualquer coisa que me diga como lidar com o mundo ali fora.

23 de junho de 2012

Noite de São João.

A fogueira queima lá fora, como se tivesse vida própria. É bonito de se ver, sabe? As chamas parecem cabelos sendo jogados ao vento. Brilha, faísca, ilumina qualquer lugar escuro. Uma vez por ano acontece, noite de São João: fogos de artifício, traques, bombas, essas coisas que nos assustam na hora e depois nos fazem rir. É minha noite preferida. Ver todo mundo feliz, sorrindo por ai, crianças pulando e brincando, vivendo a infância. Mas ver aquela fogueira me entristeceu, como a maioria das coisas que acontecem diariamente. Eu quis fazer parte daquela fogueira, ser livre. Agir de acordo com o vento, queimar na hora certa. E quando a chuva chegar, me apagar, aos poucos, e sumir. Virar cinzas, também agindo de acordo com o vento. É isso, sempre o vento, que assanha os cabelos da gente, que faz as folhas voarem. Tudo se resume a vento e liberdade. Às vezes eu acho que me apaguei, mesmo não sendo fogueira, mesmo não sendo cinzas. Apaguei sem nem perceber, sem ver os dias passarem cheios de alegria. Virei faísca sozinha, sem me importar, me deixando levar pelo pouco sorriso do meu rosto. É São João e a chuva ali fora, tentando apagar todas aquelas fogueiras, grandes e pequenas, cheias de luz e gente pra olhar. Tem alegria, tem comida boa, tem tudo que as pessoas precisam para serem felizes. E elas são, enquanto eu fico no quarto, aproveitando o frio, vendo a goteira no teto, ouvindo o barulho que vem da rua, o movimento, as músicas, sentindo o mundo girar pra todo mundo, menos pra mim.

22 de junho de 2012

Sorrisos e cores.

São quatro da tarde e eu sentada na calçada paquerando o céu. Tá um azul bonito, tipo da cor do mar. Ou o mar que tem cor de céu? Não sei, essas coisas me deixam confusa. Passam dois cavalos brancos, alguns cachorros abandonados e com fome. As senhoras com aparência cansada de cuidar dos filhos, cuidar de casa, cuidar da vida. Eu só observo, parada, pensativa. Observo sorrisos nos rostos queimados pelo sol, das crianças que correm, sem preguiça, sem sono, cheias de disposição. Dentro de mim algo pulsava: tanta coisa pra viver por ai, e eu entregue às reclamações de uma eterna vida adolescente, cheia de mimos e amores impossíveis, como se fosse o fim do mundo. E aqui, nessa rua, as pessoas passam, indo trabalhar, indo na casa de um amigo conversar sobre a falta de água ou sobre o filho de fulano que está voltando da cidade grande. Elas se gostam, se ajudam.  O céu é azul, mas as ruas são amarelas, poeirentas, quentes, com alguns lixos jogados por ai. É coisa simples, que com um toque aqui ou ali se resolve. O sol já vai se pôr, mais um dia vai acabar. Amanhã os galos madrugam, servindo de despertadores para os vizinhos, servindo de alertas de mais uma rotina. O velho trabalhador se espreguiça, olha para o céu que logo estará azul, e agradece a Deus por mais um dia. Mais um dia de vida. 

3 de junho de 2012

O céu lá de casa.


Acordei feliz. Quarta-feira é dia de ir embora. Dia de deixar todo o cansaço do semestre pra trás e aproveitar um pouquinho enquanto a idade não chega. Uma coisa legal de ter dois lares é que você sempre está indo pra casa. Voltando. E, sei lá, tem um certo reconforto na palavra "casa", e eu só aprendi isso depois que sai da dos meus pais. É tipo você ter tudo em dobro: dois céus, duas camas, dois quartos. Eu gosto daqui, das minhas coisinhas no seus devidos lugares, tudo do meu jeito. Mas eu gosto mais da minha outra casa, que é uma casa de verdade. Tem sofá, tem comida gostosa, tem pessoas na rua andando e se cumprimentando. Tem um vizinho mau humorado, tem minha vó esquecendo meu nome, mas que não do meu aniversário. Tem minha mãe, brigando comigo na maior parte do tempo, mas fazendo as comidas que eu gosto só pra me encher de mimo. Sabe, é desse tipo de coisa que tô falando. Aqui tem-de-tudo, mas não tem aquela gente que eu tô acostumada a ver, a abraçar, a observar. Serão quase dois meses de muito disso, dessas coisas que eu não sei deixar de lado ou desacostumar. Dessa vidinha parada e cheia de tédio, de amigos e família. Cheia de abraços e amores que acabaram de sair do forno, prontinhos para serem servidos. E eu, acostumada a chorar com as coisas que escrevo, tô aqui rindo feito gente boba, esperando o dia chegar. Ei, eu tô feliz!

29 de maio de 2012

Acontece aqui e ali.

Acontece nos melhores lugares, nas melhores famílias, com as melhores pessoas. Acontece após uma conversa ou um banho. Acontece após um abraço ou um sorriso mal dado. Acontece todo dia, toda hora e a gente nem percebe. Acontece com um amigo ou com um amor antigo. A gente deixa passar, se deixa lavar, esquece de olhar pr'os lados, esquece de saber preservar aquelas coisas bonitas. Vai se ocupando com outras coisas, com outros pensamentos, outros mares. Sei lá, acontece do nada. A gente dorme de um jeito e acorda de outro. Acontece. A gente dorme gostando e acorda sem lembrar o gosto. Tempo é um bicho estranho, às vezes é rápido demais, come os sentimentos, consome as coisas boas que a gente guarda no peito. Acontece.

28 de maio de 2012

22 de maio de 2012

Menos um.

A gente deitado na cama, pensando na vida, sonhando alto, se abraçando forte como se o mundo fosse acabar. Tinha um cheiro bom, cheiro de coisa que a gente gosta. De pessoa que a gente gosta. A gente se gostou um bocado. Uns bons dias. Talvez se gostasse antes, só não sabia ao certo o que era aquilo que apertava dentro do peito. Talvez não. Nunca sei dessas coisas. Nunca sei pra onde correr, como fugir, como me esconder. Nunca sei se os dias vão passar rápido ou devagar, como aqueles dias em que eu fico bastante cansada, fugindo até de comida. Se foi exagero ou não, se foi errado ou não, não dá pra saber dessas coisas. A gente só aproveita, sabe? Aproveita o cheiro que fica no lençol, a briga boba, o abraço quentinho. Sei lá, vou ter oitenta anos e não vou saber o que se faz quando os mundos acabam por ai. Tô procurando um manual, uma bula ou só um conselho de biscoito da sorte. Alguma coisa que diga: "próximo passo." E todo dia passa como um dia exaustivo, cheio de rotina e vento que arde nos olhos. As pessoas nos ônibus, nos carros ou na calçada. Sorrindo entre si ou passando por cima umas das outras. O pneu arrastando, o barulho inconveniente. E eu olhando para aquilo, meio perdida, meio sem entender. Como cego em tiroteio, como criança sem os pais em shopping. Me sento no chão, cruzo as pernas, pedindo socorro, pedindo um tempo dessas loucuras que deixam a gente sem ar.

20 de maio de 2012

Mais saudade.

Sei lá, deu vontade de escrever alguma coisa. Deu vontade de voltar no tempo e ficar lá, me agarrando àquilo tudo que passou e que vai se apagando. "Ah, lembra daquele dia?" "Mas que dia?" Ai a gente esquece um nome, um dia, uma pessoa. Acho injusto isso de esquecer, sabe? Devia ter um cantinho no nosso cérebro onde todas as coisas ficassem guardadas, jamais sumissem, jamais fossem deixadas de lado. Tanta tecnologia no mundo e ainda não inventaram algo assim? Um chip ou um botão, mas qualquer coisa! As pessoas se deixam esquecer, se deixam levar pelos dias comuns. "Te ligo amanhã." E não ligam. Não mandam um recado dizendo da saudade ou "vamos marcar alguma coisa, sinto falta tempo." Eu rodo tudo e acabo escrevendo sobre saudade, sempre. Parece que domingo é dia de saudade. Parece que cama lembra saudade. Parece que tomar banho lembra saudade. Isso acontece com vocês também? Ou é só comigo? Às vezes acho que depois que comecei a morar só minha cabeça se revirou e eu fiquei com algum problema. Alguma coisa faltando. Mas é que falta mesmo... Falta almoço da família, mordida do meu irmão, minha vó me chamando pelo nome de uma prima, meu pai me acordando com um pulo em cima de mim, minha mãe brigando comigo porque não gosto de arroz branco. Essas coisas, que eu luto pra que fiquem guardadas naquele cantinho do cérebro. São as coisas que eu mais faço por onde não desaparecerem. Talvez eu as escreva num papel e guarde numa caixa, pra levar comigo, pra não soltar mais. Talvez eu só guarde no rascunho do celular. Talvez eu só guarde em mim, vai que funciona. 

14 de maio de 2012

Um dia bom.



Acordei pensando: "mais um dia". Já deve ter dado pra perceber que eu boto pouca fé nas coisas, certo? Certo. Tive dificuldade pra dormir noite passada, pensando nas coisas que aconteceram e vão acontecer. É tanto pessimismo que às vezes acho que eu realmente atraio isso pra mim, que é culpa minha. E é. Ai acordei hoje pensando que seria mais um dia, um dia daqueles, que você acorda com um sono imenso por ter dormido mal, toma um banho demorado, não come, e volta pra cama até dar a hora de sair. Chego na faculdade com aquela cara forçada, que na verdade é só preguiça de mover os membros, como todos os dias. Só que hoje foi diferente, entende? Eu sabia que ia chegar em casa tarde, mas eu me diverti. Eu realmente me diverti num dia tão comum quanto os outros, tão cansado, tão demorado. Então eu botei uma coisa na minha cabeça: as coisas podem não ser tão boas quanto eu espero, as pessoas podem não entender bem meus pensamentos, o mundo não pode parar porque eu tô sem paciência. Sou meio pavio curto, meio mole, meio exagerada num romance. Mas tem tanta coisa bonita lá fora, tem tanta gente pra sorrir pra gente. Tanto sonho pra se encontrar, tanto vento frio pra tirar o calor. Devagarzinho eu posso gostar mais de mim, ou das pessoas. Devagarzinho eu posso parar de entrar em desespero quando estiver em um ambiente lotado de gente. Devagarzinho meu estômago se acostuma com a vida. Devagarzinho eu perco a preguiça de sorrir e sorrio grande, bem grande, pra mostrar os dentes e a alma feliz.

13 de maio de 2012

Apego ao tempo.

A gente se apega às pessoas. A gente se apega a colo, carinho e poesia. A uma mensagem de "bom dia" ou qualquer coisa que te faça dar um sorriso bobo e sincero. A gente se apega até ao próprio apego, não quer deixar ir, não quer deixar o bicho voar. Ser livre. A gente se apega a saudade e, quando ela vai sumindo, mesmo assim a gente continua querendo e insistindo. Insistindo numa coisa que sabe que não vai voltar. Mas acaba vendo beleza em tudo isso. Não é fácil dizer "vai" pra quem a gente quer que fique, que se esconda debaixo da cama contigo até aquela ventania passar. Sei lá o que tenho na cabeça pra ficar deitada esperando que a vida me faça algum milagre. Sei lá o que penso que vai acontecer enquanto eu não abrir a porta e ir olhar o que anda acontecendo na rua. Sei lá o que acho que o vizinho vai responder quando eu cumprimentá-lo. Na verdade, eu não sei de nada, porque eu não procuro fazer nada. Eu fico deitada, abraçando a mim mesma, cheia de sonhos que se mostram como num filme. Talvez eu só esteja perdendo tempo. Eu poderia sair e observar as pessoas se amarem por ai, sorrirem, e ter histórias para contar. Poderia. Deveria.

11 de maio de 2012

Faltava sorte.

As coisas não iam bem. Não tava dando sorte, sabe? O problema era realmente a sorte, o diabo da sorte. Ia subir no ônibus, tropeçava; ia descer, tropeçava. Andando na rua, tropeçava. Cozinhando, cortava o dedo. Tomando banho, batia a cabeça em algum lugar. Era desgastante, cansativo, louco. Acho que não sabia escolher o caminho certo. "Talvez amanhã algo mude..." Mas não mudava. As coisas da vida não mudam assim, de um dia pro outro. Ou mudam. Mas não achava que fosse mudar. Sabe-se lá qual a coisa certa a se fazer. Era isso, empurrar com a barriga, deixar passar, levar com o vento. Olhar meio torto para os lados, sem saber se sorri para o cara estranho que passa ou para a mulher apressada. Olhar para o céu, cegando. Esperar uma chuva ou uma estrela cadente. Mas sempre esperar.

10 de maio de 2012

Vai que...

Eu meio que sou um problema para mim mesma, sabe? Foram duas semanas de cão, vontade de bater a cabeça na parede, de puxar os cabelos, de gritar pro mundo como eu odeio a vida. Dia desses falei pra minha mãe como eu sou azarada e ela veio com aquele sermão de que eu tenho saúde, vida boa, e todos os etecéteras. Me deu preguiça, claro. Porque eu tenho preguiça de tudo. E vocês sabem disso. Agora, o que eu queria mesmo era ficar horas deitadas, agarrada à mim mesma, ouvindo o barulho da água pingando do meu chuveiro quebrado. Mas eu sou mole, mais sentimental que as músicas do Los Hermanos. Sou sim, sou toda exagerada e cheia de dramas. Talvez seja o chamado inferno astral, ou talvez seja só um treino pro meu futuro. Talvez alguém tenha esquecido de mim, ou eu mesma me esqueci. É só mais uma coisa que dá errado. Mais uma, de muitas. Vivo dizendo que não sei lidar com nada: com pressão, com brigas, com responsabilidades. Com amores. Não sei lidar com essas coisas que a vida joga pra cima da gente, sem perguntar: "tá preparada?" Eu nunca tô. É um karma adolescente de que nada vai dar certo. Mas eu fico cutucando, cutucando, cutucando, por que vai que algo funcione? Vai que um dia eu saia do meu casulo e não bata de cara no primeiro poste que aparecer? Sei lá, tô só botando fé.

28 de abril de 2012


Presente mais que bonito que ganhei hoje de uma amiga da minha mãe, tô felizona aqui! :))

15 de abril de 2012

A mesma coisa de sempre.

Eu poderia escrever sobre várias coisas: sobre a boa neblina que deu nesse comum domingo, ou sobre a vizinha que só desce as escadas com um salto infeliz. Poderia escrever sobra a minha queda no ônibus essa semana. Mas eu sempre escrevo a mesma coisa. Saudade, amores, saudade, amores, sono, preguiça. Num troco a fita do meu cérebro. Eu até tento, mas ele não permite. Não permite que eu mude os meus pensamentos, as minhas vontades, a dose extra de carência todo dia. Foi mais um fim de semana qualquer. Acordei cedo, passei meia hora debaixo do chuveiro imaginando como seria a minha vida se eu fosse outra pessoa, aproveitei a água gelada pra deixar o pensamento vagar. Não fiz comida, deitei na rede da sala e tentei estudar. Li alguns capítulos de um livro e voltei pra cama. E cá estou. No meu mundinho de quatro paredes, com janela e porta fechadas, com o computador no colo, esperando que alguma coisa aconteça. E me pergunto: como? A porta de entrada fechada, nem barata passa, que dirá alguém. Ninguém passa, ninguém vem, ninguém fica. 

31 de março de 2012

"Não vou me adaptar."

E com tanta gente me mandando mudar, com tanta vontade que eu tenho de mudar, mas eu não mudo. "Te ajeita, menina!", e eu não me ajeito. Continuo arrogante e chata, falando pelo nariz, rindo alto e de forma escandalosa. Continuo colocando, no mínimo, três palavrões em cada frase, como a menina delicada que sou. Sem fofura, sem charminho, mas com muito drama. Calça jeans, camiseta e havaianas pra ir pra faculdade ou pra qualquer lugar, lavando o cabelo dia-sim-dia-não. Meus olhos não se acostumam às lentes de contato, preferem o óculos azul que passa a maior parte do tempo sujo, já desisti de limpar. Não consigo parar de roer as unhas, nem de sentar feito menino-de-mato na cadeira da mesa de jantar (mesmo minha mãe reclamando o tempo todo). Comer coisas verdes, arroz e feijão, suco de alguma coisa estranha. Não sei voltar pra casa e não dormir no quarto do meu irmão. Não sei sentar no sofá e não me esparramar logo em seguida. Chorar por poucos minutos. Ver novela e não gritar com a tv. Vou continuar me ferindo sempre que usar a faca da cozinha. Ou me queimar usando a sanduicheira. Ô Deus, eu não me adapto a essa vida. É mimo, é chororô, mas eu não ligo. Eu vou morrer como eu me criei, porque eu me acostumei. E costume é difícil de largar, é difícil de deixar pra trás.

É bom gostar de alguém de vez em quando.

Sorrir bobo, amar grande, abraço ilimitado. É bom ter motivo, ver cores, brilhar os olhos. Imaginar... imaginar... imaginar... Mãos dadas, coladas, apertadas. A gente junto, brincando de rir, de se amar por muito tempo. A gente junto, sonhando a vida. Olhando as nuvens passarem despercebidas, porque a gente não se importa com as nuvens passando, ou com o dia acabando. Quero deitar na areia, sentir a brisa do mar, o barulho bonito das ondas, o barulho bonito dos pássaros, o barulho do ar nos nossos ouvidos. E o tempo sem passar. É bom gostar de alguém de vez em quando. É bom achar que gosta. 

27 de março de 2012

It's cause you make me smile...


"I like your messy hair.
I like the clothes you wear.
I like the way you sing and when you dance with me."

25 de março de 2012

Sábado.

Pijamas, cabelo bagunçado, chinela, quarto revirado. Foi assim que eu acordei num sábado qualquer e fiquei olhando para as paredes. O apartamento silencioso, nenhum grilo cantando ou  o vizinho martelando alguma parede. A gente se olha no espelho e fica se perguntando onde errou. Talvez a pressa, talvez amor demais. Eu estava velha, cheia de olheiras, desesperançada. Onde eu encontraria alguém como você? Não, não quero alguém como você, porque tudo vai me lembrar você. Quero coisa nova, cheiro novo, gosto novo. Me escondi debaixo do cobertor e fiquei esperando. Nada acontecia! Mas como eu queria que acontecesse? As coisas não iriam cair do céu, iriam? Ou aconteceriam por mágica? Talvez você se teletransportasse? Eu me perdi, em algum lugar qualquer, em um momento solto. Larguei a vida e esqueci o que é ser gente. Larguei o mundo e fiquei vazia, oca, sem nem lágrima pra desperdiçar.

23 de março de 2012

Oh my darling Clementine...


"Oh, my darling, oh, my darling
Oh, my darling Clementine
You are lost and gone forever
Dreadful sorry, Clementine..."

22 de março de 2012

Na gaveta e no coração.

Tô pedindo uma cama quentinha... ou uma rede! A gente deitado no chão, talvez? Calor humano, eu não gosto. Não gosto das pessoas grudadas, daquele suor todo, com cheiro desagradável. Eu gosto é de você do meu lado, me abraçando, quase que me deixando sem ar! Das tuas conversas sem nexo, e até sem graça às vezes. Mas eu rio, pra não te deixar constrangido. A gente passa o tempo pensando na vida, jogando conversa fora, com beijo bom e abraço cheio de conforto. Me escondo no teu peito porque meu rosto fica da cor do meu cabelo (vermelho) quando você me olha demorado, pensativo... E eu daria meus dedos das mãos pra saber em que você está pensando quando faz isso. Ai você me beija os olhos, o nariz, as bochechas, o pescoço e a boca. Acho que vou te guardar numa das minhas gavetas, aquela em que eu guardo as coisas que eu mais gosto: fotos, cartas, anotações. E você. Guardo um pedaço teu lá e outro pedaço em mim, pra eu poder te carregar sempre, para os quatro cantos do mundo, ou só até a cozinha. Mas eu te guardo. Te guardo pra não perder as sensações que eu tenho quando você me aperta e diz que eu sou a coisa mais bonita do mundo. 

15 de março de 2012

Sobra espaço.

Eu sei que eu sou reclamona (e você que lê meu blog já deve ter percebido isso), eu sei que minha tpm não me deixa agir certo. Choro pelos cantos desse apartamento gigante, grito com a mocinha da novela por ela ser burra e não saber agir. Vou na cozinha e vejo uma louça suja e olho para os lados para ver se, milagrosamente, aparece algum fantasma vestido de secretária do lar e lave a louça para mim, ou limpe o chão da cozinha, ou engome o pijama que já estava seco há semanas. O vazio ali na sala pede por alguns habitantes, algum movimento além do meu, alguma coisa nova. As paredes não suportam mais a minha voz, a mesa quer ser arrumada. Minha xícara favorita, que diz "ninguém é perfeito", está pedindo que eu a tire do abandono, faça dela algo útil de novo. A cama de solteiro se tornou espaçosa para mim, tem gavetas sobrando em um dos guarda-roupas. O quarto ao lado está fechado desde que me mudei. O que eu tô querendo dizer é que sobra espaço, entende? Sobra espaço na rede, no chão, no banheiro, no quarto, na geladeira, no varal. E em mim. Meu coração tá procurando companhia, sorriso, beleza. Minha cabeça tá procurando sonhos, olhares, emoções. Meu corpo procura algo pelo que tremer, além do frio. Alguma coisa que preencha todo o espaço dentro e ao redor de mim, sabe? Esse tipo de coisa que a gente não quer largar nunca mais. Esse tipo de coisa que deixa a gente feliz feito bobo. 

14 de março de 2012

Chove sol e alegria.

"Már oia, meu sinhô, é que nessas terra de cá as coisa são um cadim difícil, num sabe? Mermo assim nóis dá um jeito de fugir das tristeza da vida. Nóis acorda  cedo, toma um cafézim quente, vai ver o sol nascer bonito, cuidar do pasto, cuidar das coisa que mantém a gente vivo, né? Faça chuva ou sol, nóis num desiste! Nóis samo é sonhador, meu sinhô. Não, num quero ir simbora daqui não, a vida tá mais que ganha, nóis samo feliz aqui, debaixo de sol ou de chuva, nóis tem tudo que merece. Nóis tem sorriso torto, mas é sorriso, é sorriso de alegria."

10 de março de 2012

Felicidade ri sozinha.

Acordara pedindo à Deus, mais uma vez, pra gostar um pouquinho mais das pessoas. É, daquele jeito simples mesmo. Paciência, carinho, paciência. É que era muito difícil pra ela, sabe? Sair de casa, se envolver. As pessoas diziam que ela estava vivendo de um modo errado. A vida não era isso, não era ficar trancada em um quarto enquanto o mundo inteiro vivia. Dormir, acordar, comer, sonhar, ler, imaginar. Era disso que ela vivia. Era disso que ela era composta. Amigos. Colegas. Riso solto. Desconhecidos. Preguiça. Nessa ordem. Dia após dia, nada mudava. E ela, coitada, continuava dizendo que ia mudar, mas de nada adiantava. De nada adiantava iludir o que a rodeava. "Me deixa assim, tô feliz." E estava. Felicidade a gente encontra numa frase, numa foto, numa voz. Não é preciso gritar por ai que se é feliz. Não é preciso sair por ai pra se ter uma vida. Pode ficar em casa, pode se agarrar ao travesseiro e sorrir. Pode ficar de conchinha na cama, sozinha, deixando o pensamento vagar pelas coisas boas. Felicidade é falar sozinha, é colocar uma música boa e ficar cantando, sem medo de incomodar os vizinhos; é limpar o apartamento em um dia de tédio, é ver novela de tarde deitada numa rede comendo porcaria. Mas, ainda assim, ela pedia, todo dia, pra mudar um pouquinho, pra gostar do aluno puxa saco, da professora tagarela, do porteiro, da moça do supermercado. Talvez um dia, quem sabe.

Ah, minha querida Amèlie...

8 de março de 2012

A vida é bonita: uma declaração de amor.

Na maior parte do tempo, eu só reclamo. Reclamo de calor, de fome, de sede, de preguiça, do cara que fica ao meu lado no ônibus, do colega de classe que não para de puxar o saco do professor. Na maior parte do tempo, eu esqueço de reparar nas coisas simples, esqueço de lembrar que, o que acontece ao meu redor, pode ter sua beleza. Acordei como num dia normal, às seis. Tomei meu banho, coloquei minhas lentes, vesti minha roupa. Meu celular vibrou: era uma mensagem do meu pai. "Caramba, meu pai me mandou uma mensagem!" (não que ele não seja o pai mais carinhoso e mais presente do mundo, mas ele não é lá de me mandar  mensagens, sabe?) Para qualquer pessoa no mundo, aquela mensagem seria boba, me desejando feliz dia da mulher. Mas eu fiquei tão feliz que estampei um sorriso no rosto durante todo o tempo que eu tinha para terminar de arrumar minhas coisas antes de sair para a faculdade. Cinco minutos depois, minha mãe me manda uma mensagem também. Mesmo assunto, só que de forma diferente. Ai eu chorei, sabe? Mas foi um choro de alegria (como esse de agora, enquanto escrevo), de amor. Na maior parte do tempo, eu sinto saudade. Milhões de vezes já pensei em desistir e voltar para casa. Essa semana mesmo liguei para a minha mãe e falei que não aguentava mais essa rotina, que não aguentava mais lavar louça (imaginem só!). E ela mandou eu voltar. Sábado fiz a prova de seleção para o Jovem Voluntário, e duvidei que fosse passar. Tanta gente concorrendo! Eu nunca fui de ter muita fé nas coisas, sabe? Por preguiça, talvez. Por medo. Hoje recebi o resultado: passei! Dá para acreditar? Eu passei! Liguei para os meus pais contando e eles ficaram tão orgulhosos de mim! E eu vou ajudar pessoas, crianças! Na maior parte do tempo eu choro: de tristeza, de cansaço, de raiva. Um dia que pego um ônibus lotado e já acho que a vida vai acabar. Quero dizer que hoje, agora, eu tô satisfeita. Tô feliz. Se eu pudesse, corria para casa para abraçar meus pais por umas duas horas seguidas, até ficar perto de faltar ar. Se eu pudesse, abraçava o céu. Se eu pudesse, não largava esse meu sorriso nunca mais.

"A criança que ri na rua,  
A música que vem no acaso,  
A tela absurda, a estátua nua, 
A bondade que não tem prazo -


Tudo isso excede este rigor 
Que o raciocínio dá a tudo,  
E tem qualquer coisa de amor,  
Ainda que o amor seja mudo."
(Fernando Pessoa)

5 de março de 2012

"Entre o não e o sim..."



Porque eu sou chorona precisava postar isso aqui. Meu coração é dessas letras fofinhas, dessas vozes calmas e dessas melodias que fazem a gente ficar hipnotizada.

3 de março de 2012

Saudade.

Saudade mãe, saudade pai, saudade irmão, saudade vó, saudade internet do vizinho, saudade do sofá da sala, saudade da tv grande, saudade. Saudade que não cabe no peito, nem na cabeça. Saudade cama, saudade rede. Saudade beijo no rosto, saudade risada escandalosa, saudade vizinho fofoqueiro, saudade barulho da rua. Saudade padaria da esquina, saudade missa de domingo. Saudade que escorre "pros" dedos e me deixa com vontade de abraço, com vontade de apertar algo que não seja vazio e cheio de eco. Saudade de um amor novinho em folha.

1 de março de 2012

(suspiros de cansaço)
A diarista resolveu ignorar minhas ligações, então tive que me virar para limpar meu apartamento. Bem, não é uma coisa difícil, sabe? É grande para uma pessoa só, e ainda mais para mim, que tenho um mundo inteiro dentro do meu quarto. Resolvi me dar um descanso até domingo (se bem que tô descansando desde o começo do mês...), mas é que eu ainda não consegui me acostumar à rotina da faculdade. Março vai ser louco, com tantos trabalhos, tantos livros, tantos planos. Eu ando lendo muitos blogs, muitos textos, daqueles bem bonitos, que a gente fica toda mimizenta quando lê. Eu tenho perdido boa parte do meu tempo com essas coisas, mas é que não dá para evitar, entende? Eu chego da faculdade, deito uns minutos, penso em estudar, arrumo algumas coisas, deito de novo, venho para o computador e pronto, paro a vida. Não muda, nenhum diazinho. Minha mãe me liga, meu pai me liga, meu irmão me manda mensagem. E é a mesma coisa todo dia. Não quero dizer que eu não gosto, eu gosto. Mas é que... Essa semana achei um blog (http://meuuniversonopapel.blogspot.com/), e até li vários posts, e fiquei toda derretida. E ai eu parei. Me deu vontade de mandar para alguém, sabe? Alguém, isso. Mas quem? Não tem quem. Eu me peguei perdida. Senti saudade de ter um colo bom, receber uma mensagem fofa ou uma ligação de madrugada. Sabe quando você sente saudade e dá vontade de gostar da primeira pessoa que aparecer? Pois é. Só que não aparece ninguém. Ou aparece, mas eu não gosto. É isso! Aparece, sempre, mas eu deixo passar despercebido. Eu ando tão reclamona da vida! Tão preguiçosa tão chata, tão... tão. Tô esperando alguma coisa que me dê vontade de mover os músculos. Alguma coisa que faça o coração pular de alegria. Ansiedade, vontade, sonho. Esse tipo de coisa que a gente só vê nos filmes. Esse tipo de coisa que a gente acha que não acontece com a gente. E acaba acontecendo.

24 de fevereiro de 2012

"Nós".



"Lá no fundo a gente sente o fim chegar..."
Umas boas lágrimas escorreram pelo meu rosto quando ouvi essa música.

21 de fevereiro de 2012

Passou o tempo.


Para ler ouvindo Rewind, Diane Birch.

Banho de chuva, o barulho dos pingos caindo no telhado, cachorros latindo, crianças brincando. É uma coisa tão bonita de se ouvir, de se ver! Deitar numa rede, ouvir uma boa música, e pensar naquelas coisas ditas na noite anterior. A gente jogou conversa fora, riu de coisas comuns, pouquíssimas horas se passaram e nem deu pra gente se abraçar. Frio, céu escuro, a rua quase que vazia. No momento em que eu me virei para ir embora, queria ter dado meia-volta e te abraçado. Queria ter te dado um beijo quente, sabe, para parar toda aquela tremedeira do seu corpo. Ficar tremendo quando me vê, mas existe coisa mais bonita? Algumas coisas são difíceis de explicar, aparecem do nada dentro da gente. Coração pula de alegria, do nada. Falo isso ou não falo? As mãos gelam. Mas é o frio! É pouco tempo que a gente tem para dizer o que se devia, e acaba que nem diz. "Deixa pra depois", e o depois nem chega. Amanhã. Outra hora. Tem tempo. Tá tarde. Fui embora.

11 de fevereiro de 2012

Pensei que as coisas pudessem ser diferentes com o decorrer do tempo. Pensei que mudaria para melhor. É estranho. Eu não tenho vontade de conhecer pessoas, ou de sair de casa, de ser sociável, entende? Pensei que eu fosse me desenvolver. Mas não. Eu criei um mundo entre quatro paredes. Meus livros, meus filmes, fotos, coisas. Eu fico imaginando como seria a vida fora disso, mas eu não tenho coragem de ir atrás de descobrir. É meio que preguiça. Ou cansaço. "Mas você é tão nova!" Como se a idade importasse, hm. Eu faço mil planos para o futuro, mas sempre com medo. Medo de que não dê certo. Medo de que eu seja um fracasso na profissão que eu escolhi. E todo dia eu vou dormir dizendo que amanhã eu farei diferente. Mas eu não faço. Continuo trancada entre as minhas paredes. Descobri que ficar sozinha não é lá uma coisa tão assustadora, é até melhor. E eu também tenho medo disso, de me acostumar com a solidão. Eu gosto das pessoas, gosto mesmo, mas é que... eu não sei. Sinto falta de escrever, sinto falta de gostar de alguém, de sonhar, de me inspirar. Me pergunto onde foi que eu perdi essas coisas. Onde foi que o tempo passou tão depressa e as levou.