12 de março de 2015

"I fucked my way up to the top."

Tirei a roupa, batom, maquiagem. Amarrei o cabelo e sentei. Eu não sabia bem o que ia fazer. Talvez meditar ou esperar uma luz vinda do céu (que, no momento, não é mais que o teto do meu quarto). Olhava as paredes como se elas pudessem falar e me dar uma resposta pra tudo, porque tudo, agora, é só um imenso nada. Esperei aquela quantidade inútil de lágrimas saírem dos meus olhos, mas que conversa. Eu não sabia mais chorar. Antes era facinho: com pouco esforço e eu já parecia um bebê chorão. Antes sentir era fácil também. E agora eu me esforçava feito burro de carga pra sentir o que quer que fosse e na-da. Um vácuo me rodeando e eu tentando entender porquê. Eu sou esse tipo de gente: tá tudo encaminhado e bom demais, ai eu preciso estragar e por quê? Porque quando o mundo tá bem e feliz eu paro de sentir. Tinha emprego, namorado, quase que um futuro certo. Mas e dai? Tinha perdido a graça. E se eu tinha tudo entregue de bandeja qual o sentido? Eu ia estragar muita coisa ainda. E não ia me importar nem um pouco. Mas agora tô aqui, quase que de joelhos implorando pra Deus, pro universo, pra buda ou sei lá quem, um pouquinho de qualquer coisa. Nem o vento na cara quando eu dirigia emocionava. Nem olhar para as pessoas e observá-las conformada. Eu queria ser conformada. Aceitar que vou me formar e ter algo me esperando, tanto faz o que. Mas eu não consigo aceitar o tanto faz, porque eu quero mais. Eu preciso de mais. Muito. Exageradamente. De arrepios e algumas certezas, porque muitas eu não consigo lidar. Mas tudo bem. Tá tudo bem. Enquanto der pra botar um sorriso falso na cara e acordar todos os dias como se viver fosse normal, ia ficar tudo bem.