29 de maio de 2012

Acontece aqui e ali.

Acontece nos melhores lugares, nas melhores famílias, com as melhores pessoas. Acontece após uma conversa ou um banho. Acontece após um abraço ou um sorriso mal dado. Acontece todo dia, toda hora e a gente nem percebe. Acontece com um amigo ou com um amor antigo. A gente deixa passar, se deixa lavar, esquece de olhar pr'os lados, esquece de saber preservar aquelas coisas bonitas. Vai se ocupando com outras coisas, com outros pensamentos, outros mares. Sei lá, acontece do nada. A gente dorme de um jeito e acorda de outro. Acontece. A gente dorme gostando e acorda sem lembrar o gosto. Tempo é um bicho estranho, às vezes é rápido demais, come os sentimentos, consome as coisas boas que a gente guarda no peito. Acontece.

28 de maio de 2012

22 de maio de 2012

Menos um.

A gente deitado na cama, pensando na vida, sonhando alto, se abraçando forte como se o mundo fosse acabar. Tinha um cheiro bom, cheiro de coisa que a gente gosta. De pessoa que a gente gosta. A gente se gostou um bocado. Uns bons dias. Talvez se gostasse antes, só não sabia ao certo o que era aquilo que apertava dentro do peito. Talvez não. Nunca sei dessas coisas. Nunca sei pra onde correr, como fugir, como me esconder. Nunca sei se os dias vão passar rápido ou devagar, como aqueles dias em que eu fico bastante cansada, fugindo até de comida. Se foi exagero ou não, se foi errado ou não, não dá pra saber dessas coisas. A gente só aproveita, sabe? Aproveita o cheiro que fica no lençol, a briga boba, o abraço quentinho. Sei lá, vou ter oitenta anos e não vou saber o que se faz quando os mundos acabam por ai. Tô procurando um manual, uma bula ou só um conselho de biscoito da sorte. Alguma coisa que diga: "próximo passo." E todo dia passa como um dia exaustivo, cheio de rotina e vento que arde nos olhos. As pessoas nos ônibus, nos carros ou na calçada. Sorrindo entre si ou passando por cima umas das outras. O pneu arrastando, o barulho inconveniente. E eu olhando para aquilo, meio perdida, meio sem entender. Como cego em tiroteio, como criança sem os pais em shopping. Me sento no chão, cruzo as pernas, pedindo socorro, pedindo um tempo dessas loucuras que deixam a gente sem ar.

20 de maio de 2012

Mais saudade.

Sei lá, deu vontade de escrever alguma coisa. Deu vontade de voltar no tempo e ficar lá, me agarrando àquilo tudo que passou e que vai se apagando. "Ah, lembra daquele dia?" "Mas que dia?" Ai a gente esquece um nome, um dia, uma pessoa. Acho injusto isso de esquecer, sabe? Devia ter um cantinho no nosso cérebro onde todas as coisas ficassem guardadas, jamais sumissem, jamais fossem deixadas de lado. Tanta tecnologia no mundo e ainda não inventaram algo assim? Um chip ou um botão, mas qualquer coisa! As pessoas se deixam esquecer, se deixam levar pelos dias comuns. "Te ligo amanhã." E não ligam. Não mandam um recado dizendo da saudade ou "vamos marcar alguma coisa, sinto falta tempo." Eu rodo tudo e acabo escrevendo sobre saudade, sempre. Parece que domingo é dia de saudade. Parece que cama lembra saudade. Parece que tomar banho lembra saudade. Isso acontece com vocês também? Ou é só comigo? Às vezes acho que depois que comecei a morar só minha cabeça se revirou e eu fiquei com algum problema. Alguma coisa faltando. Mas é que falta mesmo... Falta almoço da família, mordida do meu irmão, minha vó me chamando pelo nome de uma prima, meu pai me acordando com um pulo em cima de mim, minha mãe brigando comigo porque não gosto de arroz branco. Essas coisas, que eu luto pra que fiquem guardadas naquele cantinho do cérebro. São as coisas que eu mais faço por onde não desaparecerem. Talvez eu as escreva num papel e guarde numa caixa, pra levar comigo, pra não soltar mais. Talvez eu só guarde no rascunho do celular. Talvez eu só guarde em mim, vai que funciona. 

14 de maio de 2012

Um dia bom.



Acordei pensando: "mais um dia". Já deve ter dado pra perceber que eu boto pouca fé nas coisas, certo? Certo. Tive dificuldade pra dormir noite passada, pensando nas coisas que aconteceram e vão acontecer. É tanto pessimismo que às vezes acho que eu realmente atraio isso pra mim, que é culpa minha. E é. Ai acordei hoje pensando que seria mais um dia, um dia daqueles, que você acorda com um sono imenso por ter dormido mal, toma um banho demorado, não come, e volta pra cama até dar a hora de sair. Chego na faculdade com aquela cara forçada, que na verdade é só preguiça de mover os membros, como todos os dias. Só que hoje foi diferente, entende? Eu sabia que ia chegar em casa tarde, mas eu me diverti. Eu realmente me diverti num dia tão comum quanto os outros, tão cansado, tão demorado. Então eu botei uma coisa na minha cabeça: as coisas podem não ser tão boas quanto eu espero, as pessoas podem não entender bem meus pensamentos, o mundo não pode parar porque eu tô sem paciência. Sou meio pavio curto, meio mole, meio exagerada num romance. Mas tem tanta coisa bonita lá fora, tem tanta gente pra sorrir pra gente. Tanto sonho pra se encontrar, tanto vento frio pra tirar o calor. Devagarzinho eu posso gostar mais de mim, ou das pessoas. Devagarzinho eu posso parar de entrar em desespero quando estiver em um ambiente lotado de gente. Devagarzinho meu estômago se acostuma com a vida. Devagarzinho eu perco a preguiça de sorrir e sorrio grande, bem grande, pra mostrar os dentes e a alma feliz.

13 de maio de 2012

Apego ao tempo.

A gente se apega às pessoas. A gente se apega a colo, carinho e poesia. A uma mensagem de "bom dia" ou qualquer coisa que te faça dar um sorriso bobo e sincero. A gente se apega até ao próprio apego, não quer deixar ir, não quer deixar o bicho voar. Ser livre. A gente se apega a saudade e, quando ela vai sumindo, mesmo assim a gente continua querendo e insistindo. Insistindo numa coisa que sabe que não vai voltar. Mas acaba vendo beleza em tudo isso. Não é fácil dizer "vai" pra quem a gente quer que fique, que se esconda debaixo da cama contigo até aquela ventania passar. Sei lá o que tenho na cabeça pra ficar deitada esperando que a vida me faça algum milagre. Sei lá o que penso que vai acontecer enquanto eu não abrir a porta e ir olhar o que anda acontecendo na rua. Sei lá o que acho que o vizinho vai responder quando eu cumprimentá-lo. Na verdade, eu não sei de nada, porque eu não procuro fazer nada. Eu fico deitada, abraçando a mim mesma, cheia de sonhos que se mostram como num filme. Talvez eu só esteja perdendo tempo. Eu poderia sair e observar as pessoas se amarem por ai, sorrirem, e ter histórias para contar. Poderia. Deveria.

11 de maio de 2012

Faltava sorte.

As coisas não iam bem. Não tava dando sorte, sabe? O problema era realmente a sorte, o diabo da sorte. Ia subir no ônibus, tropeçava; ia descer, tropeçava. Andando na rua, tropeçava. Cozinhando, cortava o dedo. Tomando banho, batia a cabeça em algum lugar. Era desgastante, cansativo, louco. Acho que não sabia escolher o caminho certo. "Talvez amanhã algo mude..." Mas não mudava. As coisas da vida não mudam assim, de um dia pro outro. Ou mudam. Mas não achava que fosse mudar. Sabe-se lá qual a coisa certa a se fazer. Era isso, empurrar com a barriga, deixar passar, levar com o vento. Olhar meio torto para os lados, sem saber se sorri para o cara estranho que passa ou para a mulher apressada. Olhar para o céu, cegando. Esperar uma chuva ou uma estrela cadente. Mas sempre esperar.

10 de maio de 2012

Vai que...

Eu meio que sou um problema para mim mesma, sabe? Foram duas semanas de cão, vontade de bater a cabeça na parede, de puxar os cabelos, de gritar pro mundo como eu odeio a vida. Dia desses falei pra minha mãe como eu sou azarada e ela veio com aquele sermão de que eu tenho saúde, vida boa, e todos os etecéteras. Me deu preguiça, claro. Porque eu tenho preguiça de tudo. E vocês sabem disso. Agora, o que eu queria mesmo era ficar horas deitadas, agarrada à mim mesma, ouvindo o barulho da água pingando do meu chuveiro quebrado. Mas eu sou mole, mais sentimental que as músicas do Los Hermanos. Sou sim, sou toda exagerada e cheia de dramas. Talvez seja o chamado inferno astral, ou talvez seja só um treino pro meu futuro. Talvez alguém tenha esquecido de mim, ou eu mesma me esqueci. É só mais uma coisa que dá errado. Mais uma, de muitas. Vivo dizendo que não sei lidar com nada: com pressão, com brigas, com responsabilidades. Com amores. Não sei lidar com essas coisas que a vida joga pra cima da gente, sem perguntar: "tá preparada?" Eu nunca tô. É um karma adolescente de que nada vai dar certo. Mas eu fico cutucando, cutucando, cutucando, por que vai que algo funcione? Vai que um dia eu saia do meu casulo e não bata de cara no primeiro poste que aparecer? Sei lá, tô só botando fé.