26 de abril de 2018

"How to say goodbye in robot."

Eu não entendia metade das coisas que você falava. E não entendia porque insistia em tentar entender. Em alguns dias, eu queria ser um robô. Você não? Não acho que eu seja louca. Talvez o meu problema, que nem é tão problema assim se você parar para analisar a sociedade em que a gente vive e como as pessoas cada vez mais brincam em não ser pessoas, era que eu queria parar e continuar ao mesmo tempo. Você não desconfia das pessoas? Eu desconfio de mim, sabe. Quando eu grito minhas verdades na frente do espelho porque eu preciso que elas saiam da minha cabeça e se tornem cinzas. Elas não se tornam, infelizmente. "Infelizmente" é uma palavra que eu uso mais do que gostaria quando se trata da minha vida. Infelizmente eu errei um monte de vezes. Infelizmente eu não consigo fingir que gosto de algumas coisas (ou pessoas). Infelizmente eu não sei cantar e nem atuar, o que destruiu meu sonho de infância quando eu achava que ia ser uma grande artista ao usar o shampoo como microfone no banho. Infelizmente a gente prefere se esconder do que é bom e do que acha bom só para agradar os outros. Infelizmente a gente não dá tanta sorte assim. 

I keep wishing, reflexively, for a glimpse of the future, so I'll know what to do. But I don't kid myself. I have to feel my way forward blindly. I try not to be afraid. Even if you know what's coming, you're never prepared for how it feels.” 
How to Say Goodbye in Robot, Natalie Standiford.

24 de abril de 2018

"I overthink your punctuation use."

Às vezes eu resolvo ler uns textos ruins e criar histórias na minha cabeça que nem de longe existem. Às vezes, eu chego da aula com enxaqueca e resolvo não dormir porque eu posso vencer a enxaqueca sem precisar tomar mais remédios - cinco minutos depois, tomo o primeiro comprimido que aparecer pela minha frente que possa me oferecer a mínima ilusão de não sentir mais dois segundos de dor. E eu faço isso com toda a minha vida. Primeiro acho que sou capaz de lidar com os problemas que eu tenho e com os que não tenho, mas, logo depois, me desespero e desisto. Às vezes eu me acho obcecada demais e por me achar obcecada demais tento me controlar para não ser obcecada demais, o que me torna obcecada para não ser mais obcecada. É meio doido e doído ao mesmo tempo. Porque eu quero chorar pela minha excessiva capacidade de ser intensa. Como eu odeio ser intensa e só queria que você soubesse. Você que lê. Você que sabe que é você. Odeio também escrever textos que são sem nexo e são tão ausentes de criatividade que acredito que um dia alguém possa ler e dizer que daqui vai sair alguma coisa. Eu choro escrevendo. Eu escrevo chorando. Porque eu estabeleço metas que não quero cumprir e odeio estabelecer metas, mas parece que funciono no automático. Odeio tudo em mim que faz ser quem eu sou e, ao mesmo tempo, reconheço minha pequenez de não poder ser nada além disso. Às vezes pego frases motivadoras que acho lindas e penso que deveria compartilhar comigo e com as pessoas porque, talvez, um talvez bem distante, eu consiga encarnar o que aquelas palavras soltas dizem. É muito confuso? Acho que larguei a terapia porque cansei de botar para fora coisas que, quando saíam da minha boca, pareciam tão doentias e próprias para serem julgadas. Mas dizem que psicólogo não julga. Quem vai saber? Eu me julgo o tempo todo e eu prefiro escrever um texto sem sentido para todo ser humano mas que faz o completo sentido para mim. Esqueço de respirar quando aperto todas as teclas do teclado do computador em movimentos que assombra as pessoas. Queria ser qualquer um que fosse melhor do que eu. Encaro tesouras por muitas horas. Às vezes, minha mente orbita em um sistema completamente diferente. Às vezes, eu não queria lembrar de respirar. 

16 de abril de 2018

"I climbed the tree to see the world when the gusts came around to blow me down."

Pessoas são sempre meu maior desapontamento. Mas acho que a decepção acaba sendo eu mesma. Era difícil me explicar para o mundo quando tanta coisa invadia minha mente e me sufocava e me fazia parar. Da janela, o céu parecia muito azul, até que do nada tudo ficava escuro e chovia. Podia ser uma analogia ao modo como meu cérebro funcionava e meu corpo correspondia. Esperar que me deem em troca aquilo que exatamente eu dou. Procurar algo que não existe e insistir que exista porque, talvez, só talvez, pudesse melhorar a forma como eu me sentia sobre mim mesma. Acho que é demais, né? Às vezes eu me beliscava porque tinha esperança que a vida real fosse muito mais do que é isso aqui, mas nem era. Não existia nem existiria nada além. Minha gramática não era suficiente. Minha educação não se sustentava. Meus planos de sentir qualquer coisa iam por água abaixo porque eu sentia demais, demais. E, de novo, eu percebi como eu odiava sentir.