Meus
textos sempre começam falando sobre acordar, talvez porque seja a parte mais
difícil do meu dia. Acordar. E depois lidar. Lidar com a rotina que eu me
apeguei e organizei a dedo, mas que no fundo só me deixa com vontade de sair
correndo louca na rua. Lidar com o fato de que eu gosto de dias calmos,
sonolentos, sem resquícios de agitação ou coisas fora do lugar. Lidar com a
ideia de que, talvez, quase com certeza, essa versão de mim é a que todo mundo
menos gosta e insiste em mudar porque, segundo minha psicóloga, segundo essa
gente que me conhece, eu não vivo. Porque viver é sair pelo mundo, sorrindo pra
desconhecido, conversando sobre política como se eu tivesse o mínimo de
compreensão ou sobre o fato de que Deus existe mas não tá nem aí. Eu abro meus olhos
sem querer e dormir fica cada vez mais difícil depois que você se acostuma a
ter apenas seis horas de sono por noite. Viver é essa falsa mania que a gente
tem de agradar quem te rodeia quando, na verdade, tá tudo bem ser você se é
assim que você se sente bem e completa. Não precisa se dar o trabalho de se
justificar para o mundo. A calmaria que fica é a melhor forma de você dizer
que, com ou sem muito vento, as coisas podem continuar no lugar. E isso não
significa necessariamente algo ruim.