20 de novembro de 2014

"Ten thousand words."

Demorei muito tempo pra me dar conta que eu precisava te escrever algo. Não aquela porcaria que li na missa de sétimo dia e ninguém aplaudiu - talvez por não terem entendido por causa da minha voz embargada, ou porque ninguém de lá gostava de mim mesmo. Pouco me importa. Há muito tempo que família deixou de ser família e, depois que você se foi, acho que todo mundo seguiu seu rumo e uns esqueceram da existência dos outros. Como eu. Mas não te esqueci. Não te esqueceria nem por cinquenta anos ou, nesse caso, quase quatro meses. Passaram tão rápido. Eu viajei e consegui me ocupar. Mas de vez em quando eu acordava com aquela dor no peito que a gente costuma chamar de saudade. Voltei e fui na tua casa uma vez. Procuro me policiar pra não dizer "casa de vozinha" que é pra não cutucar a ferida - minha e do meu pai. Não tem mais cheiro lá. A placa de vende-se ainda não surtiu efeito e tem um monte de lagartixa no teto da garagem. No começo eu ainda conseguia me enganar, dizendo que você ainda tava lá porque eu passava um tempão sem te ver. Talvez eu me arrependa hoje, mas fico me perguntando o que mais eu poderia ter feito. As pessoas continuam vivendo. Os vizinhos devem sentir falta da tua companhia quando sentam na calçada à noite. Não posso mais entrar naquela casa. Nem sei como vai ser entrar na outra. Eu nunca tinha perdido alguém e eu sei que a gente é parecida - fisicamente e no jeito de ser. O que mais me choca é que as pessoas morrem e o mundo não para. A gente até fica de luto, mas em poucos dias, acordar e respirar parece normal. E o buraco fica na alma, porque cada um que se vai é um pedaço a menos dentro da gente. O teu pedaço é gigante, acho que deve ser mais da metade. E você nem pode trazer de volta. Queria sonhar contigo de novo, te ver bem e como você sempre foi. Faltou saúde, eu sei. Mas nunca faltou amor pro teu lado. Nem vai faltar. 

15 de novembro de 2014

Diário de viagem: The city of angels - When it's over. (7/11/2014)

É muito complicado escrever sobre o fim. Acho que é por isso que aqui estou eu, oito dia depois, escrevendo sobre meus últimos dias em Los Angeles. Sim, eu não queria voltar. Sim, eu me apeguei aos meus amigos e lugares e host family e escola e etc. É dolorido ir embora, dizer tchau, fingir que não uma despedida permanente e sim um "see you soon!". Minha experiência, pra quem acompanhou, foi cheia de altos e baixos, lágrimas, desespero e alegria. No primeiro mês, quis voltar feito uma louca, achei que nunca fosse me acostumar. Mas acho que aos poucos fui me adaptando ao fuso horário, ao modo de vida, e até a almoçar fastfood todo santo dia. 

Posso confessar que dois meses é tempo suficiente pra aprender muita coisa de inglês. Claro que nada se compara a três, quatro, seis meses ou um ano, mas dá pro gasto. Tá, EUA é primeiro mundo, mas toda cidade tem lá seus problemas - gente morando na rua, sujeira, lixo em toda esquina, desorganização, poluição, e tudo mais. Eu, particularmente, não moraria lá. Não conseguiria passar seis meses porque provavelmente ficaria entediada, mas três meses talvez fosse meu máximo. 

No último dia, sexta (7/11/2014), fomos para o Beachwood Drive que, segundo alguns sites, é um dos melhores lugares para ver o Hollywood Sign. Em Hollywood eles tem um shuttle de $0,50 pra lá. Mas ai você vai ter que andar um pouquinho e, seja esperto, ou você vai pegar o caminho errado que nem a gente. Não conseguimos chegar nem perto. Pois é, infelizmente não foi dessa vez que consegui me aproximar desse letreiro dos sonhos. Mas nada não, meus planos pra essa vida incluem voltar lá. Mesmo assim, a vizinhança é linda. Parece uma cidadezinha europeia. As ruas não são movimentadas e as casas nas colinas são enormes e maravilhosas. Coisa de filme!


Dai que voltamos para Hollywood e queríamos ir para Santa Monica ver o pôr do sol. Porém já era 16h e o sol ia se por às 16:59, ou seja, não daria tempo. O que fizemos? Fomos para o Dolby Theatre e, enquanto Angie e André ficavam por lá entediados, eu e Dominika fomos ser turistas e tirar fotos na Calçada da Fama.


No sábado, fomos para a Union Station pegar o LAX Flyaway Bus. Você só paga $8 (compra o ticket no site) e eles te deixam no seu terminal. Vale super a pena (até porque paguei $73 do aeroporto pra Hollywood e não tava nem louca de fazer isso de novo). Na sexta, dei um abraço apertado em André porque eu sabia que ia morrer de saudade daquele alemão bruto e cheio de frescuras. Me despedi de Angie na Union Station porque ela ajudou Dominika até lá com as malas. Inclusive, pra chegar lá eu sofri. Imaginem andar um quarteirão com duas malas grandes, uma mochila, uma bolsa e uma sacola cheia de livros. E entrar no ônibus com isso? Hehehehehe foi lindo.

Não me despedi de Dominika porque achamos que íamos nos ver após o check-in, mas o terminal dela era o 4 e o meu o 5, e eu acabei indo pra sala de embarque antes. Foi bom porque não chorei - já tinha derramado lágrimas o suficiente antes de sair de casa. Larry se despediu de mim na sexta, antes de ir pra Vegas com os amigos. Me deu um abraço e disse que eu podia voltar quando quisesse. Patty me deu tchau no sábado de manhã, enquanto eu tomava o café. Foi tipo "tenha uma vida feliz. Tchau" e voltou pro quarto pra dormir. Não me despedi das meninas porque não as vi.

Peguei cinco vôos pra chegar em casa. Los Angeles - Atlanta - Rio de Janeiro - Fortaleza - Recife - Juazeiro. Sai de L.A. no sábado às 13:30. Cheguei no Juazeiro na segunda, às 12:30.

Ainda não acredito que acabou. Ainda não acredito que tô em casa, de pijama, derretendo no calor de 32º de Juazeiro do Norte, enquanto em L.A. está com maravilhosos 19º. Sinto falta da minha escola, do clima doido de Los Angeles, de Hollywood e seus turistas desesperados por estrelas de cinema e dos meus amigos. Hoje, vendo fotos e tudo que escrevi, parece um sonho. Nunca vou acreditar que estive lá e que passou. Mas claro que vou voltar. Claro.


Recomendações pra quem quer fazer intercâmbio:
  • Economize por muito tempo antes de ir, e comece a pagar a viagem com antecedência, pra não ficar tudo pra última hora. Vá em baixa temporada e fique de olho em quanto tá o dólar. Tive azar porque peguei o valor mais alto, $1 equivalendo a R$ 2,70. 
  • Leve apenas o essencial na bagagem Você não vai resistir a tentação de comprar roupas por lá, e algumas lojas são extremamente baratas. Em L.A., como eu já disse, os outlets são fora da cidade, mas lojas como Marshalls, H&M e Forever 21 estão espalhadas por todos os lados. Na volta, eu tive direito a 62kgs, mas minhas duas malas juntas deram apenas 31. Fui burra porque não tinha noção do peso e fiquei com medo de comprar demais e acabar tendo que pagar excesso.
  • Fique em casa de família. Apesar dos problemas que você vai ter, é sempre melhor que a residência estudantil. Se tiver algo a reclamar, é só falar na escola e eles resolvem. Seja próximo da sua host family. Converse, passe tempo com eles, assim você pratica o idioma e ainda faz amigos. 
  • Você não precisa comprar um chip de lá. Eu fui bocó e comprei, mas não é lá necessário. É bom porque você pode pegar o Lyft e o Uber (que só funcionam se você tiver um número americano), mas comprar um sai muito caro e eles tem wi-fi em todos os lugares.
  • Vá sabendo pelo menos o básico do inglês, caso você se perca por lá. Os motoristas de ônibus, em sua maioria (nem todos), sempre vão estar dispostos a ajudar. Confira, se possível, os horários dos transportes no Google Maps. 
  • A melhor forma de aprender é praticando (dã, óbvio!). Não precisa de fugir de brasileiros. O problema é que, infelizmente, sempre que um grupinho tá junto, eles vão falar português. É um vício, pelo que reparei. Faça amigos de outras nacionalidades, peça para eles te corrigirem quando você falar algo errado e os corrija quando você souber de algo. 
  • Seja um turista também! Viaje, conheça os lugares, os outros turistas, os nativos, tudinho. E aproveite cada segundo! Não perca tempo ficando em casa porque "ah, tenho dois meses aqui, vou ter tempo." Não, não vai. Nunca vai ser suficiente pra conhecer tudo. Então pé na estrada!

1 de novembro de 2014

Diário de viagem: The city of angels - This is Halloween!. (31/10/2014)

Halloween em L.A. é totalmente diferente do que eu (e todo mundo) esperava. Ok, vamos lá. A Kings Colleges preparou uma festinha e ai que todo mundo tinha que ir fantasiado já de manhã. Então tá, né?! Minha fantasia foi da Moira da primeira temporada de American Horror Story (queria ter feito o olho vermelho, mas mal consegui fazer uma maquiagem normal decente, que dirá uma caprichada). No meu bairro poucas casas prepararam seus jardins pro Halloween. Na minha casa não teve nada - minhas "irmãs" adolescentes nem se fantasiaram! Até o ônibus chegar, todo mundo passava e ficava olhando pra mim como se eu fosse uma espécie rara. E eu ficava me perguntando: "cadê a porra do Halloween nessa cidade?" No ônibus, eu e Dominika éramos as únicas a usar fantasias de verdade e não improvisadas, como uma lente de contato ou roupa do Spider Man.

Quando chegamos na Sunset Blvd, mais alunos da Kings foram aparecendo fantasiados e eu já me senti um pouquinho melhor. Mas o problema: tava nublado e todo mundo já tava esperando chuva. Não era nublado normal, mas congelando. E na escola tava todo mundo fantasiado e etc. (Na foto: Luna - bruxa, Lidia - policial, Michelle - Julieta, Mariana - marinheira, Miki - bruxa, André - jogador de futebol, Ceena - Chapeuzinho Vermelho, eu, Caroline - Thor, Angie - skater girl, TK - árvore/Pinóquio, Thomas - Walter White, Woo - panda e Keyia - Homem-Aranha)


Na escola, a festa durou até 14h. Teve comida, concursos de fantasias, música, banda. Até que foi divertido. Depois fomos andar por Hollywood e, de novo, me impressionei por não ver todo mundo fantasiado. Até que 17h fomos pra West Hollywood em Santa Monica Blvd, onde ia acontecer uma espécie de Carnaval de Halloween. Dai sim halloween de verdade: todo mundo vestido de TUDO que é jeito (e quando eu digo tudo, quero dizer até pelado pelado nu com a mão no bolso).
 

Ainda assim o tempo não tava ajudando. O frio tava anormal pra L.A. Andamos pra um lado e pro outro, vimos os shows, gente tirando foto, gente pedindo foto. Mas foi demais porque todo mundo tava se divertindo e era algo diferente. Chegamos na parada de ônibus 22:50 e guess what: chuva! CHUVA, em pleno halloween. Dois meses que passo aqui, o único halloween de verdade que participo, e chove. E deu 23:30, 23:40, 00h, 00:30 e nada do ônibus. Dez ou mais pessoas esperando por horas. Até que desistimos e pegamos um táxi. Meus dentes batiam e minhas pernas só pararam de tremer quando me joguei debaixo do lençol. This is Halloween. This is L.A.