31 de janeiro de 2011

Depoimento de uma menor abandonada.

A gente se acostuma com tudo. Com calor, com frio, com amigos, com rotina. A gente só não pode se acostumar com a saudade. Hoje eu até que acordei feliz, não chorei. Sinto falta do cheiro da minha casa, da minha cama, da minha família. Sinto falta dos meus amigos. Até da minha risada histérica, porque ela só acontecia na presença deles. Nos dois primeiros dias eu achei que não ia conseguir, principalmente quando tive que me despedir dos meus pais e vê-los chorando. E quando falei com meu pai no telefone e tive que engolir o choro? Complica às vezes ter que disfarçar a dor, e ter que contentar-se com telefonemas e internet. Quero a faculdade. Quero que quarta chegue logo e eu possa decidir o que vai ser de mim de verdade, tentar ir para a frente, esquecer algumas coisas fúteis que tive que abandonar. É o futuro chegando. Não posso trocar toda a minha vida por causa da saudade. Saudade, sua fofa, vê se sai de mim, não precisa vir todos os dias, uma vez por semana eu já me contento. Desgruda, desaparece às vezes, dê-se feriados, aposse-se de outro alguém, só quero um tempo em que eu possa respirar e dizer: hoje eu não me arrependo de ter feito essa escolha. Sabe do que eu sinto mais saudade? Do meu quarto, das horas que eu passava deitada na minha cama, sem fazer nada; de quando eu acordava e via a luz no corredor. Não gosto da vista da minha nova janela, só vejo prédios e mato. Luzes e mais luzes. Postes. Não vejo pessoas. Sinto falta das pessoas. Até dos meus vizinhos de cara feia. As pessoas daqui do prédio não costumam circular muito pelos arredores. Só vejo carros, mas onde estarão os donos? Quero casa, comida e roupa lavada. Quero família. Quero ir para a Gianduia comer  um bandolim, e depois uma fatia de torta de chocolate acompanhada de um cappuccino. Quero cinema e gritos exagerados. Quero irmão para brigar. Quero coisas fáceis. Quero tudo de mão beijada. Quero valorizar tudo isso que eu tive. Acho que é assim que se aprende... depois que a gente vira adulto, as coisas acabam se perdendo por ai, porque a gente deixa. A gente deixa o costume tomar conta da vida. A gente deixa tudo virar monotonia. E quem acaba se perdendo somos nós.

19 de janeiro de 2011

Sete dias.

Seven days. Não, não vou falar de O Chamado, não tenho muita simpatia pela Samara. Sete dias. E adeus minha cidade linda. Até logo pai, mãe e irmão. Até mais ver amigos. Ainda não caiu a ficha, masss... vai cair. Quando eu estiver lá e acordar e ver que minha mãe não vai ter feito meu café, nem meu pai vai estar na sala gritando para eu e meu irmão nos levantarmos. Incrível como eu sonhei com a faculdade a vida toda, e aqui vou eu, não para a dos meus sonhos, mas a gente sempre dá um jeito nessas coisas. Já sinto falta do colégio, das minhas brigas com o professor de Matemática, das aulas em que eu não conseguia fechar a boca por um minuto, de falar sobre seriados e mais seriados com meus amigos nerds, e do tempo em que eu não era nerd também, hahahaha. Só não queria sentir tanta saudade, daquelas de você querer arrancar o coração e botar numa estante, para olhar para ele e dizer: "Você tava me dando muito trabalho, que tal umas férias agora?" E eu sei que isso só está no começo.
"Toda a minha saudade e o meu amor de sempre." - Caio F. Abreu.
Mas esse Caio me entende que é uma beleza!

15 de janeiro de 2011

Pobres mulheres.

Acordei com o coração meio mole, daquele jeito que se eu ver um casal se abraçando eu começo a chorar todas as lágrimas de uma vida. Mas é que eu sou assim mesmo, meio pombinha, chorona, dramática. Sou toda novela mexicana, mas não tenho um herói lindo e maravilhoso e sexy e sedutor, para me jogar na cama e me chamar de sua, ligar para mim nas madrugadas dizendo que me quer, ou então aparecer de surpresa no momento mais inesperado. Mulheres às vezes precisam disso, sabem? Do nada elas amanhecem transpirando sentimentos, daí passam o dia sentada no sofá, vendo filmes românticos e se entopindo de comidas gordurosas. E ficam gordas. Isso! Gordas, e depois ficam se culpando, e chorando mais e mais, e começam os malditos regimes, e voltam à ficar com corpos lindos e esculpidos, mas nenhum amor aparece. Por que? É difícil entender como num dia elas podem ser fortes e ignorar todos os homens que lhe aparecem, e no outro dia elas estão lá, sentadas em algum lugar movimentado, apenas esperando que apareça o amor de suas vidas. Pobres mulheres, sem saber nunca o que querem, e ao mesmo tempo sabendo tudo.

7 de janeiro de 2011

Sonhos e vontades.

Tínhamos nos encontrado algumas vezes, em alguns lugares. Eu não acreditava muito em destino, até que pela terceira vez que nos vimos, ele esbarrou em mim, por querer, penso eu, e riu. Eu dei um meio sorriso, afinal, ele ainda era um estranho. Chamou-me para tomar um café perto dali, e eu, não sei por qual motivo, aceitei. Me contou que trabalhava no setor administrativo de uma empresa, que não convém escrever aqui tais detalhes, e que ganhava um bom dinheiro para sustentar a si mesmo. Não tinha namorada, morava só em um apartamento não muito longe de onde estávamos, tinha um cachorro, e etc. Começou a perguntar sobre mim, e eu mal tinha percebido isso. Ficou me olhando e sorriu, e novamente perguntou. "Calma, estou pensando." Eu respondi, pois eu realmente estava pensando em algo a dizer, e fiquei alguns minutos com o café na mão, olhando para o céu, e pensando. "Hmm, faço faculdade de Letras, já estou no último ano, e quero ser escritora. Eu sei, clichê, não é? Mas acho que escrever não é para qualquer um. Não é pegar um caderno e começar a escrever coisas difíceis, que só poucos entenderão. Eu gosto de pegar as coisas simples e transformá-las em mágica, em diferentes. Posso escrever uma história deliciosa só com essa nossa conversa. Mas as pessoas não valorizam mais os livros, nem a escrita. Talvez um dia eu mude isso, quem sabe?" E ri. Eu era tão comum dizendo aquelas coisas de adolescente-quase-adulta. Conversamos mais um pouco e dei meu telefone à ele, para que saíssemos depois. Dois dias após nossa conversa, ele me ligou. Eu me ocupava demais com a faculdade que acabava esquecendo das pessoas. Saímos para jantar e acabei me empolgando com o álcool. Lembro de tudo que eu fiz, e gostei. Rimos e conversamos durante horas no restaurante luxuoso que ele havia me levado. Apesar de gostar de coisas delicadas e simples, eu gostava de pessoas diversas, com opiniões diversas, em lugares diversos. Eu me encantava por tudo, e a cada lugar que eu ia, a cada pessoa que eu via, a cada ato que eu presenciava, a cada conversa que eu ouvia, eu fazia uma história dentro da minha cabeça, e ria, ria, e ria, porque aquelas pessoas tão comuns e tão diferentes jamais imaginariam que eu poderia entrar na vida delas e inventar coisas, e imaginar, imaginar como elas eram, e como seriam se eu fosse descrevê-las. Fomos para o meu apartamento e o convidei para beber algo e me fazer companhia. Naquela noite eu tinha exagerado na roupa, talvez de propósito, e usei um vestido preto, não muito colado, mas para definir o meu corpo magro, e uma sandália que combinava com o meu cabelo. Vermelha. Eu já estava um pouco além da conta, e como bebi demais, fiquei feliz demais. Sempre que me excedo fico rindo à toa. Tirei meu salto e sentei no sofá, ao lado dele, conversamos, e não sei em que exato momento aconteceu, mas eu estava dormindo em seu colo, quando senti algo molhando meus lábios. Era um beijo. Abri os olhos preguiçosa e o vi. Tão sedutor, com a cabeça abaixada perto de mim, quase que para me beijar novamente. Eu acho que sempre fui assim: no começo, não consigo ser totalmente eu, me solto aos poucos. Eu não poderia resistir, certo? Talvez ele estivesse esperando que eu gritasse ou lhe desse um tapa na cara, mas não fiz nada disso. Olhei-o por um minuto e puxei sua boca de volta para mim. Eu adorava experimentar as coisas, para as minhas histórias futuras. Nunca dormi com muitos homens, namorei com poucos, como eu disse, não tinha muito tempo para além da minha faculdade e dos meus escritos. Deitamos no chão e fizemos o que qualquer homem e mulher fariam depois de um jantar, bêbados, e felizes. A noite demorou a passar, e não poderia ter acontecido melhor. Quando ele dormiu, fui para a varanda, escrever o que tinha acontecido. Sabe, existem amores e amores. Você pode amar um homem só depois que dormir com ele. Você pode amá-lo antes disso. No meu caso, nenhuma das duas opções haviam acontecido. Quero dizer, a primeira pode vir a manisfestar-se ainda, quem sabe? Mas o que eu realmente amava era experimentar as vidas, sim, são tantas vidas, tantos sabores, eu não poderia desperdiçar isso.