26 de outubro de 2017

“At every occasion I'll be ready for a funeral.”

Eu não sei explicar as coisas que passam em minha cabeça. Podia até dizer que parece cena de filme quando vem uns flashbacks desorganizados de memórias ruins, mas parece mais um pesadelo distante que me faz acordar com a respiração em ritmo de fim de mundo. Às vezes eu respiro fundo e sei que tudo não passa dos meus pequenos demônios. Às vezes respirar não é suficiente e eu preciso me impedir de odiar tanto assim esse viver. Quando eu abro os olhos às seis da manhã, parece que o chão resolve sumir. As coisas certas viram incertas porque eu não conheço o que está ao meu redor. O universo é só uma caixa de papelão sem buraquinhos. Eu entro em pânico. Eu me desespero. Eu enlouqueço. O mundo não é para mim e eu não sou para o mundo. E quando eu seguro meu coração e sinto as batidas fortes demais, eu me pergunto que horas tudo vai parar.

11 de agosto de 2017

"Icarus."

Eu odiava dirigir. Eu não tinha vontade de soltar o acelerador quando o sinal fechava. E eu me perguntava quase sempre como seria soltar a direção. Quando a luz do sol clareava o quarto, eu tinha vontade de nunca abrir meus olhos. Eu queria dormir mais tempo do que era socialmente permitido. Eu podia ouvir as brigas de longe. Podia ouvir também os passarinhos cantando e aquilo me irritava além do que deveria. Eram passarinhos. Eram sons supostamente terapêuticos e calmantes. Mas não para mim. Não quando eu tinha que tomar banho gelado, queimar meu café da manhã, fazer qualquer coisa no cabelo e desistir de cobrir minhas olheiras. Eu odiava dirigir porque eu tinha medo de não ir no caminho certo. De virar em qualquer rua e acabar em qualquer lugar que só fosse longe. Longe de casa. Longe do barulho. Longe da ideia de que viver se resumia àquilo que eu tinha. Se eu chorasse no trabalho, ninguém veria. Se eu gritasse no meio da rua, o mundo passaria reto por mim. As pessoas só vão. E eu fico. 

6 de agosto de 2017

"Stop the clocks and turn the world around."

O mundo tinha virado mundo e eu não tinha virado ninguém. Às vezes o sol bate forte no olho e me cega, mas nada parece diferente porque é como se eu nunca enxergasse adiante. Não é como se eu não tivesse um futuro, mas é mais para o fato de que eu não me via inserida nele. Não me via acertando, não me via indo. Não me via sendo. Odiava quando as pessoas me perguntavam o que eu queria ser porque eu achava que já era algo e, só aí, só aí eu percebia que na verdade eu não tinha conquistado nada e que as pessoas me imaginavam assim: nada. O que eu seria? Talvez não um peixe fora d'água. Talvez não um robô sem vida. Eu seria eu e ainda assim não seria suficiente. Ser eu não era suficiente para o que elas queriam que eu fosse. Porque todos os dias eu ouvia palavras que não soavam como palavras aos meus ouvidos. Murmúrios. Reclamações. Lamentos. E nada, nada que me fizesse acreditar que, se eu cheguei até aqui, eu tinha chegado a algum lugar. 

25 de junho de 2017

"Trying to find these perfect places."

Meus textos sempre começam falando sobre acordar, talvez porque seja a parte mais difícil do meu dia. Acordar. E depois lidar. Lidar com a rotina que eu me apeguei e organizei a dedo, mas que no fundo só me deixa com vontade de sair correndo louca na rua. Lidar com o fato de que eu gosto de dias calmos, sonolentos, sem resquícios de agitação ou coisas fora do lugar. Lidar com a ideia de que, talvez, quase com certeza, essa versão de mim é a que todo mundo menos gosta e insiste em mudar porque, segundo minha psicóloga, segundo essa gente que me conhece, eu não vivo. Porque viver é sair pelo mundo, sorrindo pra desconhecido, conversando sobre política como se eu tivesse o mínimo de compreensão ou sobre o fato de que Deus existe mas não tá nem aí. Eu abro meus olhos sem querer e dormir fica cada vez mais difícil depois que você se acostuma a ter apenas seis horas de sono por noite. Viver é essa falsa mania que a gente tem de agradar quem te rodeia quando, na verdade, tá tudo bem ser você se é assim que você se sente bem e completa. Não precisa se dar o trabalho de se justificar para o mundo. A calmaria que fica é a melhor forma de você dizer que, com ou sem muito vento, as coisas podem continuar no lugar. E isso não significa necessariamente algo ruim.

18 de maio de 2017

"We won't stir up the past. So descretely, we won't look back."

Eu gosto quando a gente fica em silêncio. Quando as pessoas resolvem parar, ou pelo menos esquecer que a gente existe. Eu gosto quando o mundo continua sem a gente ali. Gosto do cheiro de vento e quando o céu mistura rosa com azul no fim da tarde. Quando eu queria dormir e não acordar por uns três dias, seria com você ali. Eu gosto de quando saio na rua e ninguém me conhece ou reconhece. Quando ninguém me olha. Se eu tropeço, se eu caio, se eu corro e ninguém repara. Gosto de bater com as unhas na mesa e encarar o teto branco vazio esperando você voltar. Gosto de ouvir as músicas mais ruins que você vai odiar. Gosto de quando eu ligo pra minha mãe e ela fica horas reclamando do que eu faço e não faço e eu nem escuto porque eu não consigo me concentrar em nada além de você. Que eu sou louca. Que eu choro demais. Que eu morro de medo o tempo todo. Se é sábado ou segunda. Dia ou noite. Enquanto eu faço nada e penso em tudo. Enquanto eu não faço um pingo de sentido e você faz todo o sentido do mundo.

14 de maio de 2017

"What are the chances you’d ever meet someone like that?"

Eu me pergunto se quando tudo acabar, a gente ainda vai existir. Porque das vezes que eu quis parar, você não me deixou. Quando eu não quero ir, você só fica ali no canto me olhando, talvez me entendendo, talvez me odiando por ser tão louca e paranoica. Por ser eu. Eu. Alguém que é péssimo em fazer contas, que compra demais, que se perde no meio da cidade e tem pavor do mundo. Das pessoas. Do que elas pensam ou deixam de pensar porque, como elas, eu penso demais. Eu julgo demais. E imagino tudo dando errado. A gente dando errado. De novo. Eu sou tão péssima eu gostar de mim. Mas você não me deixa. Você me vem com as palavras mais certas e eu odeio tanto isso de saber que você tá certo quando eu nunca estou. E o universo, por ser tão complicado, fez a gente se perder e se ganhar e longe. Eu penso se seria bom largar tudo e esquecer porque eu sei que vai doer muito. Toda vida é como se fosse uma primeira vez e eu não tinha mais paciência. Eu não tinha mais idade. E, no fundo, eu hesitava em te largar porque, se você me solta, eu não vou saber ir de novo. 

“Damn, damn, damn," she said. "I never said why I like you, and now I have to go."

"That's okay," he said.
"It's because you're kind," she said. "And because you get all my jokes..."
"Okay." He laughed.
"And you're smarter than I am."
"I am not."
"And you look like a protagonist." She was talking as fast as she could think. "You look like the person who wins in the end. You're so pretty, and so good. You have magic eyes," she whispered. "And you make me feel like a cannibal."
"You're crazy."
"I have to go." She leaned over so the receiver was close to the base.
"Eleanor - wait," Park said. She could hear her dad in the kitchen and her heartbeat everywhere.

― Rainbow Rowell, Eleanor & Park

10 de maio de 2017

“There is a saying in the Neverland that every time you breathe, a grown-up dies.”

Eu já tinha me acostumado a acordar cedo. Não sabia fazer café, então me virava com o que tinha. Na verdade, eu não sabia fazer nada. Às segundas, tomava dois remédios antes de sair para o trabalho. E eu só tinha 23 anos. O que me dava um pânico de morrer cedo. Ou de envelhecer. Viver em minha mente era nunca entender o que eu queria. Levantar da cama todos os dias exigia um esforço que não superava meu cansaço. Mas eu precisava tentar. Hoje esperei quarenta minutos para ser atendida em uma clínica. Mais uma vez, resolvi que ia cuidar da saúde que eu já não tinha. Eu sempre dizia que ia entrar numa dieta porque meu estômago, a qualquer momento, iria parar. Mas eu não conseguia. Não conseguia me comprometer com nada que me fizesse melhorar ou ir para a frente. A cada cinco minutos entrava um idoso pela porta. E eu pensava tanto se eu iria chegar até ali. Como alguém consegue viver uma vida toda? É muito tempo. É muita história para contar e eu não me imaginava tendo tanta história assim. Eu não me imaginava tendo nada. Porque o que eu fazia, todos os dias, era tentar sobreviver à ideia de que eu precisava sobreviver e viver. E eu só queria chorar porque Deus bota a gente no mundo para acordar cedo, trabalhar e querer desistir sem poder. E se, quando criança, me dissessem que eu ia pensar tudo isso, eu negaria. Negaria porque mente de criança é sonhadora. E às vezes acho que continuo sonhando só para ver se, alguma vez, vai dar certo. Se eu não acreditar, finjo que acredito e vou. Porque parar deixou de ser uma opção. Mas algum dia eu vou.

All children, except one, grow up. They soon know that they will grow up, and the way Wendy knew was this. One day when she was two years old she was playing in a garden, and she plucked another flower and ran with it to her mother. I suppose she must have looked rather delightful, for Mrs Darling put her hand to her heart and cried, ‘Oh, why can’t you remain like this for ever!’ This was all that passed between them on the subject, but henceforth Wendy knew that she must grow up. You always know after you are two. Two is the beginning of the end.” 

― J.M. Barrie, Peter Pan

25 de abril de 2017

"It's the good things that hurt when you're missing them."

A gente se vicia nas pessoas. No modo como elas falam. Como elas sorriem quando te olham por mais de dois minutos. Se vicia no cheiro delas. No jeito de cruzar as pernas ou de pegar na sua mão. No abraço apertado, ou nem tão apertado assim. A gente se vicia nas piadas que só elas vão entender. Ou nas palavras que são tão perfeitas para cada momento que a gente se pergunta "mas como você sabe dessas coisas?". A gente se vicia em carinho, em companhia, em quem ri mais alto. Se vicia naquela comida que vai lembrá-las, ou no barulho que elas fazem quando estão por perto. Eu me viciei em um monte de coisa. Me viciei em lembrar do que também não valia a pena. Mas tem mais coisa que vale. Histórias e sonhos e dias que a gente conta pra se ver. A gente se vicia num mundo que nem existe, mas que é bonito porque tem alguém ali. 

"Why do we write fiction?" Professor Piper asked.
Cath looked down at her notebook.
"To disappear." 

― Rainbow Rowell, Fangirl


23 de abril de 2017

"You are just a kid with a sentimental heart."

Acordei. De novo. E ainda era domingo. Um lindo domingo ensolarado e com vizinhos e seus filhos gritando quando eu só queria bater minha cabeça em uma parede repetidas vezes. Estamos cada vez pior: o mundo e eu. Doía no peito e no corpo cada vez que eu tinha que viver. Os sorrisos e a falta de vontade. O fato das coisas nunca serem do meu jeito e eu não aceitar isso porque é difícil aceitar que o universo não liga para o que você quer. Álcool, beijos e dois dias vomitando. Pijama, séries e livros. Mas aí bate a dor e a o desespero de não ir mais para a frente. Porque eu sou completamente louca e não tenho conserto. E eu só queria que todo mundo corresse de mim. Porque eu não sou boa. Eu não sou suficiente. Todo dia eu desisto e continuo tentando.

17 de abril de 2017

"Light me up when I'm down."

Quando eu acho que parou, tudo volta. Gostar de você é como meu plano que deu mais errado. Porque é uma luta sem fim. Eu tento parar. Eu repito todos os dias pra mim mesma que é só uma ideia que não sai da minha cabeça. Que eu não preciso te consertar. Que eu não preciso consertar a gente e tudo que deu errado. Que eu não sou louca por isso. E aí eu tento gostar de outras pessoas, e quando eu acho que consegui, elas me fazem desistir. Elas não me permitem sentir o tanto que eu sinto e eu me vejo caindo mais ainda para o fundo do poço. Odeio sentir demais. Odeio querer demais. E eu preciso desistir. Eu preciso parar de tentar porque não adianta. O mundo não merece que eu seja forte. E é aí que eu volto pra você, pra aquilo que eu sei que vai estar sempre ali. Fica pior quando eu durmo. Porque eu sei que vou sonhar um sonho bonito. E quando eu acordar, vai estar tudo errado de novo.

12 de abril de 2017

"I don't think I can be anything other than me."

Eu não sabia por onde começar a botar pra fora. Não sabia se gritava, se vomitava, se arranhava meu corpo todo pra deixar me desintoxicar de você. Porque toda vida que eu pensava em algo triste, eu pensava em você. Se eu pensasse em fazer merda. Se eu pensasse em beber até esquecer quem eu era. Se eu pensasse em desistir. Se eu pensasse em chorar. A gente junto deixou de significar algo bom pra me servir de gancho em qualquer desespero. Porque era em você que eu me segurava quando tudo dava errado e eu achava que te ter ali era a única coisa constante. Eu odiava pensar que, sem você, eu pararia de escrever. Pararia de ter raiva do mundo. Pararia de ser quem eu sempre fui desde que me entendo por gente. E aí o que eu seria? Algo novo? Eu teria que me reinventar todinha e eu não saberia fazer isso. Do que eu poderia gostar além das músicas que você me mostrou? Dos filmes alternativos? Das bandas que ninguém mais ouve? Eu teria que sair de casa sozinha. Aguentar. Sobreviver. E que pânico me dava ter que fazer tudo isso sem você. Ter que ser feliz. Ter que gostar de outras pessoas e me decepcionar com elas e gostar de outras e continuar em um loop infinito onde você nem de longe existiria. Cada texto aqui escrito foi uma despedida que eu nunca tive coragem de fazer. E eu não sei se ainda tô pronta, porque quando penso que me desliguei e evoluí, as rasteiras que eu levo me fazem desistir de desistir. Porque você é a pior coisa que pode ter existido pra mim. Mas vai ser sempre a minha dor mais bonita.

18 de março de 2017

"Flying high through the cities and the sky."

Eu nunca fiz terapia. Eu nem sei se resolveria o furacão que é minha mente. Eu não entendo o que é ter crise de ansiedade, mas eu sou ansiosa. Eu não sei o que é ter depressão, mas meu humor oscila com mais constância do que eu gostaria. Eu não acho que eu sou egoísta, mas eu me importo demais com meu próprio umbigo e odeio o fato de as pessoas não se importarem também. Todo mundo tem problemas. Talvez ninguém leia isso, porque eu nunca escrevo pra ninguém ler. Eu só escrevo pra botar pra fora o ar que me falta. Na maioria das vezes, eu fico cheia de desespero. Fico com vontade de esmurrar uma parede ou de só passar as unhas em meu corpo inteiro pra arrancar cada centímetro da minha pele. Eu quero gritar e não posso. Eu choro no banheiro do trabalho engolindo as lágrimas. Todo mundo sempre tem problemas. Talvez eu seja a pessoa mais normal e mais clichê que exista. Ou talvez eu devesse nunca sair do meu quarto. O mundo é demais pra mim. Eu não me encaixo em canto nenhum e não dá pra desaparecer. Eu não amei o mundo. Amar exige mais esforço do que sou capaz de fazer.

"Ma: You're gonna love it.
Jack: What?
Ma: The world."
(Room, Emma Donoghue)

11 de março de 2017

"This is never gonna go our way."

É ruim quando a gente acha que não vai passar. E passa. Talvez seja pior. Talvez o fato de superar as pessoas ou as coisas seja o que a gente menos quer na vida. Quando eu achei que morar em Fortaleza ia durar uma eternidade e eu nunca voltaria para casa. Ou quando o cheiro do perfume que eu usava em Los Angeles significava saudade. Quando eu passei em frente a casa que minha vó morava e não senti mais a presença dela ali. Ou quando percebi que não gostava mais daquele cara. Quando me formei em Jornalismo e pensei que nunca conseguiria um emprego. Ou quando imaginei que a vida ia ser sempre aquele meu pesadelo dos 13 anos. O universo não liga pra gente. Deus deve estar ocupado demais fazendo as unhas. Tudo tem que ir em frente e todo mundo também. 

4 de março de 2017

"Think about the old days, what we didn't do to survive. Do we get better with time?"

Eu apaguei. Lembro de rir muito no táxi, enquanto o motorista provavelmente queria me jogar pela porta com o carro em movimento. Lembro dos goles de cerveja e da ladeira sem fim. Depois disso, tudo é branco e eu não sabia mais onde eu tava. Ou o que eu fiz e deixei de fazer. E, principalmente, o tanto de merda que eu devo ter dito. Mas, como sempre, você me deixou lá. Você não perdia a chance de me largar em qualquer calçada para ter sua liberdade. Cheguei em casa e quis me afogar no chuveiro. Quis ficar debaixo d'água por, pelo menos, o resto da minha vida. Eu não aguentava mais. E ai você chegou com toda aquela conversa que eu não queria acreditar, porque eu tento não esquecer tudo que a gente já fez, tudo o que você já me fez, mas eu esqueço. Eu esqueço porque eu olho para você e parece que Deus me deixa na mão. O universo não funciona. E o mundo para de girar. É só eu olhar para você e tudo faz um sentido que não devia fazer. Eu te pedi tanto para me deixar em paz. Eu queria outra pessoa. Eu queria outras pessoas e eu queria viver tudo que eu não consigo viver todos os dias. Mas você me vence pelo cansaço. Você me vence com as palavras que eu mais quero ouvir, mesmo sabendo que elas não existem. Você me dá uma rasteira e, quando percebo, já desisti de tentar tudo só para te esperar de novo.

2 de março de 2017

"We're not running away, we're moving forward."

Eu levei uns trinta e sete sermões. De pai, de mãe, de amigo, de mim. Mas eu sou cabeça dura. Eu insisto no erro porque eu não acho que eu saiba errar. Eu queria correr, mas eu só queria ficar ali jogada no sofá sem me mover e matutando sobre todos os meus problemas mentais. Porque você dizia aquelas coisas todas e eu não queria ouvir. Mas eu ouvia. Eu ouvia e acreditava, dizendo que tudo era mentira, mas eu acreditava. Acreditava tanto em cada sílaba e não sabia o que fazer com aquilo. Eu queria tanto me libertar de você. Eu queria tanto desgrudar do cheiro, do sorriso e da vontade de não te largar. Eu não conseguia. Parte de mim seguiu em frente. Parte de mim não sabe nem por onde começar a recolher o que sobrou de mim. Tudo que era errado era você e você é só tudo que eu queria todos os dias. 

19 de fevereiro de 2017

"Cause cover girls don't cry after their face is made."

Às vezes eu queria arrancar meus olhos quando acordava de manhã cedo com o sol na cara. Na maioria dos dias, eu sempre levanto com o pé direito para ver se me atrai algo de bom. Mas não adianta. Me ensinaram tudo errado e as coisas só pioram. Eu me engasgo com meu próprio ar porque não consigo ser quem esperam que eu seja. Porque é tão difícil agradar todos os lados e continuar sendo eu. Nunca sou, na verdade. Eu preciso fingir desapego, fingir que não sou louca, fingir que não ligo e fingir que não quero puxar meus cabelos ou bater minha cabeça na parede o tempo todo. Me deixa nervosa viver. Sobreviver. Lidar com gente. Pensar demais e perceber que minha paranoia só aumenta. Que as pessoas nunca querem dizer o que realmente dizem. E eu só quero chorar. E gritar que pelo amor de Deus me deixem em paz. Me deixem respirar em paz. E me deixem ser eu em paz. Eu preciso disso. Eu preciso não jogar com o mundo o que eles esperam que eu jogue. Eu nunca vou superar as expectativas de ninguém. E eu me sinto um balde de lixo que esqueceram de botar na calçada na hora certa. 

12 de fevereiro de 2017

"We have no past, we won't reach back."

Quase segunda-feira. A semana nem começou e minha cabeça já dói de novo. Todo dia. Notícia boa, notícia ruim. Tudo igual. Tudo sendo como deve ser e eu reclamando como devo reclamar. De novo eu fiz tudo certo. Acordo, trabalho, estudo. Não vivo. Não saio de casa. Não quero lidar com gente. Não quero enfiar bebida em mim e fingir que não existe um monte de dia pela frente. Fingir que eu não segui em frente. Fingir que eu não descobri que eu consegui ser independente do que acontecesse ao meu redor. Parei de escrever porque é isso que acontece quando eu ocupo demais minha mente. Quando eu resolvo que a prioridade é ser adulta. Quando eu choro no meio da rua no caminho do trabalho porque não tenho tempo para chorar em casa. Quando eu quero brigar no trânsito e sei que não posso porque é mais problema. Um monte de problema. Mas, de novo, eu só sentia que ia em frente sem rumo nenhum porque eu nunca consigo ver a luz que tem no fim do túnel. Eu não consigo saber se vou acertar algum dia. Eu não consigo. De todo jeito, eu coloco coisa demais na minha mente que é para não ter tempo de me importar. Eu não posso perder tempo vivendo. Eu só preciso existir.

17 de janeiro de 2017

"I'd stare a lifetime into your eyes."

Gostar dele era como viver no meio de um vulcão. Como acordar de um pesadelo todo dia. Aquele susto que a gente tem quando abre os olhos de madrugada e pensa que já é hora de levantar, mas o relógio ainda marca 01:28. É ficar enjoada com a ideia de que não existe mais. O barulho da chuva em pleno silêncio. É dormir tarde demais e ter que trabalhar cedo. Uma montanha russa de um monte de coisa. Mas era gostar. Não querer soltar mais. Não deixar ir. Pedir para ficar enquanto a vontade é de implorar para estar só. É não aguentar mais e ainda assim pedir para Deus para continuar. É a vida toda seguindo em frente sem nunca esquecer.

"So that I knew that you were there for me
Time after time, you were there for me (...)"

13 de janeiro de 2017

"If we go down then we go down together."

Pode ser às sete e meia da manhã atravessando a rua para ir para o trabalho. No meio do engarrafamento. Na fila do supermercado. Botando o lixo na calçada. Dentro do ônibus. No meio do bar. Comprando uma cerveja. Chorando pelo ex. Na casa de uma amiga. Em um aplicativo. Perdida em uma cidade do outro do lado mundo. De vez em quando, me pego acreditando que o que tiver de ser, vai ser. Que Deus ou o Universo ou as estrelas vão permitir e guiar. De vez em quando, peço que seja. Durmo e acordo. Vivo. Ando. Sigo. Sonho. Pedindo que seja. Que se não for para ser, que continue sendo.

11 de janeiro de 2017

"Não é sobre."

Eu não preciso disso. É o que fico me dizendo quando sempre acordo com aquela sensação de soco no estômago e vontade de não tirar os pés da cama. Eu nem choro mais e daí eu lembro que eu consigo qualquer coisa. Porque se eu superei toda a vontade de chorar é porque eu cresci, certo? Se eu consegui levantar às seis e meia da manhã sem pensar em como seria bom continuar dormindo por mais três dias porque viver é ruim, então eu consigo o resto. Eu consigo pagar a fatura do cartão de crédito sem me desesperar porque gastei demais aquele mês. Eu consigo olhar para as fotos no celular e lidar com o fato de que o que passou, já era, já foi e não volta mais. Eu consigo resolver todos os meus problemas de cabeça erguida e sem correr para a minha mãe. E eu não preciso dessa dor enfiada no peito querendo me levar para baixo. Não preciso de nenhuma palavra bonita ou de que alguém me diga que sou boa demais. Eu sou boa demais. Eu sou boa demais para qualquer pessoa que apareça em minha frente e tente dizer que não vai dar certo. Que eu sou louca. Que os planos vão por água abaixo porque nenhum plano é feito para funcionar. Que minha mania de organização vai acabar comigo. Que não adianta eu gostar demais porque o mundo não merece que a gente goste demais. Sentir é bom. Doer é normal. Chora hoje e segue em frente amanhã porque nada vai parar por causa da gente. Tudo continua. Eu continuo. 

9 de janeiro de 2017

"But I come back to the water no matter how hard I try."

Nove dias que o ano começou e eu já senti meu estômago esvaziar e meu peito estufar com tanta coisa. Odeio o fato do mundo girar rápido demais e eu não conseguir fazer parar o tempo. A gente já acabou e começou tantas vezes que é só questão de dias para tudo desencaixar de novo. E também se encaixar. Eu tenho essa mania de achar que tudo vai acabar. Talvez seja meu signo ou talvez meus pais me criaram com amor e apego demais. Às vezes parece que minha cabeça não para por dois segundos e eu tenho um ataque de pânico bem no meio da rua. Mas aí eu coloco na cabeça que vai passar, porque eu consigo dar conta de tudo. Só que eu não consigo. Eu adio todas as responsabilidades e guardo todas as vontades e estoco todos os planos e vou indo. Odeio ir. Odeio essa sensação de ir com a maré e seja o que tiver de ser. Eu tenho que saber. Eu tenho que saber o rumo e onde é a próxima parada. O que eu queria era tomar todos os remédios que me apagam e me deixam dormir sem sonhar. O que eu queria era o descontrole de tudo que tenho em minhas mãos. O que eu queria era saber o que porra vai ter no amanhã e se vai ter algum amanhã. 

4 de janeiro de 2017

"Nada leve além do que prescreve a sua boa educação."

Acordar sempre foi a pior parte. Dormir era fácil, principalmente com remédios. Eu apagava. Eu esquecia. E ai o dia amanhecia e eu tinha que viver. Eu tinha que engolir o choro, dar bom dia, sorrir e acenar. Eu vomitava. Eu tinha dor de barriga. Parecia que tinha voltado no tempo para viver tudo aquilo de novo, aquilo que minha adolescência fez questão de não apagar. Eu prometi não escrever mais aqui. Eu queria deletar da minha mente cada texto que escrevi para ver se conseguia deletar a existência dele. Mas eu precisava botar para fora, porque senão eu ia explodir. Eu nunca consigo sentir raiva, ou nojo, ou vontade de chutar cada osso do corpo dele. Eu fico dormente. Eu rio como se parecesse uma louca porque tudo é tão de mentira. É tudo tão igual toda vida. A mesma história, a mesma ladainha fingida e eu sempre acreditando. Eu forço meus pés a irem para frente. Eu forço meu corpo a se movimentar e acreditar que, de novo, as coisas vão dar certo. Por favor, não volta. Não volta nunca. Fica longe, o mais distante possível pra que eu consiga respirar de novo. Eu odeio como esse tempo vai ser, como tudo dentro de mim tá um buraco, oco. E essa sensação de falta de ar, de que a gravidade acabou, de que eu não me vejo existindo demais. Só não volta. Só fica lá sem mim. Dessa vez, eu consigo. Eu juro que consigo. E se eu não conseguir, continuo fingindo que eu sou boa demais pra merecer isso.