13 de março de 2018

“And when I could leave this planet you know I'd stay.”

Coloquei as toalhas na areia enquanto ele montava o guarda-sol. Quando vi o mar, corri. Crianças faziam castelos de areia como se aquilo significasse algo de extrema importância. Não me lembro de alguma vez ter feito um castelo de areia. Não me lembro do que eu costumava fazer quando ia à praia. Gostava de torrar a pele para depois assisti-la descascar, como se eu pudesse trocar quem eu era conforme as estações. Entrei na água gelada e um arrepio me subiu pela espinha. Eu podia sentir o vento vir forte e me empurrar para a frente, para onde eu queria ir e permanecer. Mergulhei. Eu odiava não poder abrir os olhos, mas o ardor me fazia esquecer. Eu tinha essa mania de querer que tudo doesse só para eu esquecer. Dali de dentro, a praia parecia outro planeta e eu assistia como se não pertencesse àquilo. Uma onda fria e salgada me atingiu e, por um segundo, achei que, naquele momento, eu não precisaria mais voltar para a superfície. Imaginei tudo aquilo que as pessoas supostamente imaginam quando se encontram nos últimos segundos de vida. Se eu me recusasse a nadar, se eu me recusasse a fazer o menor esforço que fosse, eu poderia escapar de tudo aquilo que me assustava: família, amigos, futuro. Que tipo de covarde eu era por não querer viver para conhecer minha capacidade de andar com meus próprios pés? Enquanto eu tinha medo, me batia uma vontade de sair correndo e pisar em todos os castelinhos e escutar o choro sem fim dos pequenos, porque é isso que falta na vida deles: alguém que esmague os sonhos e fale a verdade - castelos de areia são de areia para não se sustentarem por muito tempo, igual a gente. Os outros vão te pisar e soltar uma desculpa esfarrapada de “ah, não te vi ai, foi mal”. Ninguém me enxerga e nem enxerga a si. Meus pés há um bom tempo não encontravam mais o chão e tudo ficava distante e pequeno. Se eu conseguisse, logo soltaria todo o ar e não precisaria mais respirar. Ouvi meu nome de longe. Era o que me segurava. Uma corda invisível através da voz dele. De novo, soando preocupado e assustado. Às vezes eu fazia isso, de querer sumir da vida das pessoas como se fossem elas que me pedissem. No fundo, sou só eu com medo de me apegar por tempo demais. Mais um grito. Dessa vez, minhas pernas bateram sem que eu precisasse orientar o movimento. Era natural quando ele me chamava, eu ia. Um ímã, uma pressão leve que me fazia querer ficar um pouco mais. Era o que eu me dizia: “só mais um pouquinho e aí eu vou embora de vez”. É claro, eu nunca iria. Acreditar que eu conseguiria me manter distante dele, mesmo que por alguns metros, era quase utópico, imagine por uma questão de viver ou morrer. Talvez eu tivesse morrido algumas vezes. Sobre viver, eu já não posso dizer o mesmo, mas ao lado dele, a vida que eu não tinha e nem queria ter, se fazia presente e realidade. Só mais um pouco. Eu quero ficar.