1 de dezembro de 2015

"The funeral of hearts."

Ele não sabia o quanto eu gostava dele. O quanto eu gostava mais de livros que de pessoas e que, quanto mais eu lia, menos eu queria viver essa vida. Não sabia que de tanto olhar pra ele e imaginar o que ele poderia estar pensando eu esquecia de olhar pra mim e pensar em algo além dele. Eu não sabia o quanto eu poderia sentir sono quando estivesse com alguém que não fosse ele, e que cada vez que eu era obrigada a socializar num mundo onde ele não estava era o mesmo que ouvir zunidos ao invés de vozes. Eu tinha me perdido nesse ideal de universo, porque eu não sabia mais o que fazer, porque cada livro na minha estante era um amigo que me faltava e já conto 189. Talvez me faltasse também vontade de ser alguém sem ele, porque eu acreditava que o que eu sentia não passava de uma memória que eu escolhi guardar pra ter algo a que me apegar. Alguma coisa que me desse vontade de segurar forte, porque eu tinha essa mania de deixar todo mundo ir. Eu não segurava as pessoas. Elas me entediam facilmente e eu queria algo perfeito, pronto, sem nenhuma preocupação a me oferecer. Porque eu odeio coisas desalinhadas, pessoas imprevisíveis e surpresas. Odeio quando meu computador não fica em linha reta na minha mesa, ou quando eu sublinho frases em textos e erro. Odeio o que fica fora de lugar e eu não posso colocar de volta. Eu sempre iria parecer louca e destinada a ser só porque não pode existir assim que nem eu e eu não posso aguentar a falta de regras e horários definidos. A minha órbita não gira igual a dos outros seres humanos e talvez seja por isso que eu não consigo funcionar na mesma frequência de pensamento deles. Mas ele sabia que eu era assim, isso ele sabia. Ele sabe.