18 de maio de 2017

"We won't stir up the past. So descretely, we won't look back."

Eu gosto quando a gente fica em silêncio. Quando as pessoas resolvem parar, ou pelo menos esquecer que a gente existe. Eu gosto quando o mundo continua sem a gente ali. Gosto do cheiro de vento e quando o céu mistura rosa com azul no fim da tarde. Quando eu queria dormir e não acordar por uns três dias, seria com você ali. Eu gosto de quando saio na rua e ninguém me conhece ou reconhece. Quando ninguém me olha. Se eu tropeço, se eu caio, se eu corro e ninguém repara. Gosto de bater com as unhas na mesa e encarar o teto branco vazio esperando você voltar. Gosto de ouvir as músicas mais ruins que você vai odiar. Gosto de quando eu ligo pra minha mãe e ela fica horas reclamando do que eu faço e não faço e eu nem escuto porque eu não consigo me concentrar em nada além de você. Que eu sou louca. Que eu choro demais. Que eu morro de medo o tempo todo. Se é sábado ou segunda. Dia ou noite. Enquanto eu faço nada e penso em tudo. Enquanto eu não faço um pingo de sentido e você faz todo o sentido do mundo.

14 de maio de 2017

"What are the chances you’d ever meet someone like that?"

Eu me pergunto se quando tudo acabar, a gente ainda vai existir. Porque das vezes que eu quis parar, você não me deixou. Quando eu não quero ir, você só fica ali no canto me olhando, talvez me entendendo, talvez me odiando por ser tão louca e paranoica. Por ser eu. Eu. Alguém que é péssimo em fazer contas, que compra demais, que se perde no meio da cidade e tem pavor do mundo. Das pessoas. Do que elas pensam ou deixam de pensar porque, como elas, eu penso demais. Eu julgo demais. E imagino tudo dando errado. A gente dando errado. De novo. Eu sou tão péssima eu gostar de mim. Mas você não me deixa. Você me vem com as palavras mais certas e eu odeio tanto isso de saber que você tá certo quando eu nunca estou. E o universo, por ser tão complicado, fez a gente se perder e se ganhar e longe. Eu penso se seria bom largar tudo e esquecer porque eu sei que vai doer muito. Toda vida é como se fosse uma primeira vez e eu não tinha mais paciência. Eu não tinha mais idade. E, no fundo, eu hesitava em te largar porque, se você me solta, eu não vou saber ir de novo. 

“Damn, damn, damn," she said. "I never said why I like you, and now I have to go."

"That's okay," he said.
"It's because you're kind," she said. "And because you get all my jokes..."
"Okay." He laughed.
"And you're smarter than I am."
"I am not."
"And you look like a protagonist." She was talking as fast as she could think. "You look like the person who wins in the end. You're so pretty, and so good. You have magic eyes," she whispered. "And you make me feel like a cannibal."
"You're crazy."
"I have to go." She leaned over so the receiver was close to the base.
"Eleanor - wait," Park said. She could hear her dad in the kitchen and her heartbeat everywhere.

― Rainbow Rowell, Eleanor & Park

10 de maio de 2017

“There is a saying in the Neverland that every time you breathe, a grown-up dies.”

Eu já tinha me acostumado a acordar cedo. Não sabia fazer café, então me virava com o que tinha. Na verdade, eu não sabia fazer nada. Às segundas, tomava dois remédios antes de sair para o trabalho. E eu só tinha 23 anos. O que me dava um pânico de morrer cedo. Ou de envelhecer. Viver em minha mente era nunca entender o que eu queria. Levantar da cama todos os dias exigia um esforço que não superava meu cansaço. Mas eu precisava tentar. Hoje esperei quarenta minutos para ser atendida em uma clínica. Mais uma vez, resolvi que ia cuidar da saúde que eu já não tinha. Eu sempre dizia que ia entrar numa dieta porque meu estômago, a qualquer momento, iria parar. Mas eu não conseguia. Não conseguia me comprometer com nada que me fizesse melhorar ou ir para a frente. A cada cinco minutos entrava um idoso pela porta. E eu pensava tanto se eu iria chegar até ali. Como alguém consegue viver uma vida toda? É muito tempo. É muita história para contar e eu não me imaginava tendo tanta história assim. Eu não me imaginava tendo nada. Porque o que eu fazia, todos os dias, era tentar sobreviver à ideia de que eu precisava sobreviver e viver. E eu só queria chorar porque Deus bota a gente no mundo para acordar cedo, trabalhar e querer desistir sem poder. E se, quando criança, me dissessem que eu ia pensar tudo isso, eu negaria. Negaria porque mente de criança é sonhadora. E às vezes acho que continuo sonhando só para ver se, alguma vez, vai dar certo. Se eu não acreditar, finjo que acredito e vou. Porque parar deixou de ser uma opção. Mas algum dia eu vou.

All children, except one, grow up. They soon know that they will grow up, and the way Wendy knew was this. One day when she was two years old she was playing in a garden, and she plucked another flower and ran with it to her mother. I suppose she must have looked rather delightful, for Mrs Darling put her hand to her heart and cried, ‘Oh, why can’t you remain like this for ever!’ This was all that passed between them on the subject, but henceforth Wendy knew that she must grow up. You always know after you are two. Two is the beginning of the end.” 

― J.M. Barrie, Peter Pan