13 de novembro de 2018

"Well, I deserve nothing more than I get 'cause nothing I have is truly mine."

A parte ruim de ser um ombro para as pessoas é que você nunca vai passar disso. Você nunca vai ser além de um suporte emocional e um espaço confortável para reclamar daquilo que a vida tem de vida. Elas vivem suficientemente ocupadas com qualquer distração do universo para pararem um segundo e olharem realmente para você. Se você começar a falar, elas vão te observar com cara de pensamento profundo, mas, não, elas não estão prestando 1% de atenção no que você tem para dizer. O mundo delas pode acabar, mas você vai segurá-las e consolá-las da melhor forma que aprendeu. O seu mundo pode acabar, mas amanhã nasce outro. É triste e ao mesmo tempo tão óbvio, tão claro, porque ninguém vai te dar em troca algo por aquilo que você oferece sem pestanejar. Mas você pode fazer o seu melhor e ou fugir do que te afunda ou seguir andando de ré. Eu acho que ainda tô no meio do caminho, meio sem saber para qual lado a corda tá pesando mais, meio sem saber porquê. 

23 de setembro de 2018

"One more time with feeling."

Se eu assoprasse a tela, talvez saísse um pouco de poeira do tempo que deixei de escrever aqui. Minha cabeça vazia se tornou a oficina do diabo quando eu sou meu próprio diabo. Eu não queria dormir, nunca, porque enquanto eu tentava, insistia em entender minha participação no universo ao meu redor e não encontrava resposta. Não encontrava nada. Não encontrava um significado de porque eu continuo aqui. Na maioria das vezes, eu me sinto inútil. Nelas, eu ainda me sinto pequena demais. Talvez meus pais não perguntem onde foi que eles erraram comigo, mas todo dia me questiono onde foi que eu errei em ser. Se eu ficasse mais um tempo, talvez eu descobrisse. Mas acho que não. É um eterno quebra-cabeças de mil peças em que eu virei aquela que sobra. 

23 de maio de 2018

"But there's another heart eating me, and it's mine."

Não sei muito bem o que vim fazer aqui. Tem momentos que eu passo horas encarando minhas mãos como se elas fossem conseguir expressar o que se passa em minha cabeça. Tem momentos que eu só queria conseguir falar, mas eu não acho que sei me explicar muito bem. Não é culpa de ninguém, é claro. A sensação de que eu me afogo permanentemente. Em alguns dias, eu tento flutuar e pensar que, talvez, com um pouquinho de mais esforço, eu consigo. Em outros, me puxo para baixo e só quero ficar ali. Acho que, de toda forma, eu não sei exatamente onde me encontro e em que ponto a gente vai finalmente dizer que tá tudo bem. Se eu escrevesse as coisas que eu penso, se talvez eu fizesse o que eu realmente quero, se só uma vez eu pensasse em mim. Mas eu não faço isso. É mais fácil continuar afundando. 

4 de maio de 2018

"When she jumped, she probably thought she could fly."

Eu tinha perdido as contas de quantas vezes ele disse que não ia fazer aquilo de novo. E também de quantas vezes eu falei que seria a última vez. Tinha perdido as contas de quantas últimas vezes a gente teve e ainda teria devido a minha falta de coragem de fazer qualquer outra coisa além de aceitar. Em alguns momentos, eu achava que aquilo era demais para a minha cabeça. Eu perdi todas as noites de sono possíveis tentando encontrar alguma forma de fazer tudo parar. Eu me perdi no meio do caminho. Mas eu conclui que algum dia aconteceria. E aconteceu. Quando eu disse que seria a última vez, acabou por ser a última vez. Não por falta de tentativa da gente, mas porque eu achei que merecia um descanso depois de tanto tempo. Acho que o problema é que quando a gente diz nunca mais, a gente sabe que vai fazer de novo. Porque vai encontrar outra pessoa. Porque vai achar que tudo vai ser diferente. Porque dizem que é o que a gente é. Quando eu disse nunca mais, demorou uns três dias até acontecer de novo. As pessoas são iguais. A gente é igual.  

26 de abril de 2018

"How to say goodbye in robot."

Eu não entendia metade das coisas que você falava. E não entendia porque insistia em tentar entender. Em alguns dias, eu queria ser um robô. Você não? Não acho que eu seja louca. Talvez o meu problema, que nem é tão problema assim se você parar para analisar a sociedade em que a gente vive e como as pessoas cada vez mais brincam em não ser pessoas, era que eu queria parar e continuar ao mesmo tempo. Você não desconfia das pessoas? Eu desconfio de mim, sabe. Quando eu grito minhas verdades na frente do espelho porque eu preciso que elas saiam da minha cabeça e se tornem cinzas. Elas não se tornam, infelizmente. "Infelizmente" é uma palavra que eu uso mais do que gostaria quando se trata da minha vida. Infelizmente eu errei um monte de vezes. Infelizmente eu não consigo fingir que gosto de algumas coisas (ou pessoas). Infelizmente eu não sei cantar e nem atuar, o que destruiu meu sonho de infância quando eu achava que ia ser uma grande artista ao usar o shampoo como microfone no banho. Infelizmente a gente prefere se esconder do que é bom e do que acha bom só para agradar os outros. Infelizmente a gente não dá tanta sorte assim. 

I keep wishing, reflexively, for a glimpse of the future, so I'll know what to do. But I don't kid myself. I have to feel my way forward blindly. I try not to be afraid. Even if you know what's coming, you're never prepared for how it feels.” 
How to Say Goodbye in Robot, Natalie Standiford.

24 de abril de 2018

"I overthink your punctuation use."

Às vezes eu resolvo ler uns textos ruins e criar histórias na minha cabeça que nem de longe existem. Às vezes, eu chego da aula com enxaqueca e resolvo não dormir porque eu posso vencer a enxaqueca sem precisar tomar mais remédios - cinco minutos depois, tomo o primeiro comprimido que aparecer pela minha frente que possa me oferecer a mínima ilusão de não sentir mais dois segundos de dor. E eu faço isso com toda a minha vida. Primeiro acho que sou capaz de lidar com os problemas que eu tenho e com os que não tenho, mas, logo depois, me desespero e desisto. Às vezes eu me acho obcecada demais e por me achar obcecada demais tento me controlar para não ser obcecada demais, o que me torna obcecada para não ser mais obcecada. É meio doido e doído ao mesmo tempo. Porque eu quero chorar pela minha excessiva capacidade de ser intensa. Como eu odeio ser intensa e só queria que você soubesse. Você que lê. Você que sabe que é você. Odeio também escrever textos que são sem nexo e são tão ausentes de criatividade que acredito que um dia alguém possa ler e dizer que daqui vai sair alguma coisa. Eu choro escrevendo. Eu escrevo chorando. Porque eu estabeleço metas que não quero cumprir e odeio estabelecer metas, mas parece que funciono no automático. Odeio tudo em mim que faz ser quem eu sou e, ao mesmo tempo, reconheço minha pequenez de não poder ser nada além disso. Às vezes pego frases motivadoras que acho lindas e penso que deveria compartilhar comigo e com as pessoas porque, talvez, um talvez bem distante, eu consiga encarnar o que aquelas palavras soltas dizem. É muito confuso? Acho que larguei a terapia porque cansei de botar para fora coisas que, quando saíam da minha boca, pareciam tão doentias e próprias para serem julgadas. Mas dizem que psicólogo não julga. Quem vai saber? Eu me julgo o tempo todo e eu prefiro escrever um texto sem sentido para todo ser humano mas que faz o completo sentido para mim. Esqueço de respirar quando aperto todas as teclas do teclado do computador em movimentos que assombra as pessoas. Queria ser qualquer um que fosse melhor do que eu. Encaro tesouras por muitas horas. Às vezes, minha mente orbita em um sistema completamente diferente. Às vezes, eu não queria lembrar de respirar. 

16 de abril de 2018

"I climbed the tree to see the world when the gusts came around to blow me down."

Pessoas são sempre meu maior desapontamento. Mas acho que a decepção acaba sendo eu mesma. Era difícil me explicar para o mundo quando tanta coisa invadia minha mente e me sufocava e me fazia parar. Da janela, o céu parecia muito azul, até que do nada tudo ficava escuro e chovia. Podia ser uma analogia ao modo como meu cérebro funcionava e meu corpo correspondia. Esperar que me deem em troca aquilo que exatamente eu dou. Procurar algo que não existe e insistir que exista porque, talvez, só talvez, pudesse melhorar a forma como eu me sentia sobre mim mesma. Acho que é demais, né? Às vezes eu me beliscava porque tinha esperança que a vida real fosse muito mais do que é isso aqui, mas nem era. Não existia nem existiria nada além. Minha gramática não era suficiente. Minha educação não se sustentava. Meus planos de sentir qualquer coisa iam por água abaixo porque eu sentia demais, demais. E, de novo, eu percebi como eu odiava sentir. 

13 de março de 2018

“And when I could leave this planet you know I'd stay.”

Coloquei as toalhas na areia enquanto ele montava o guarda-sol. Quando vi o mar, corri. Crianças faziam castelos de areia como se aquilo significasse algo de extrema importância. Não me lembro de alguma vez ter feito um castelo de areia. Não me lembro do que eu costumava fazer quando ia à praia. Gostava de torrar a pele para depois assisti-la descascar, como se eu pudesse trocar quem eu era conforme as estações. Entrei na água gelada e um arrepio me subiu pela espinha. Eu podia sentir o vento vir forte e me empurrar para a frente, para onde eu queria ir e permanecer. Mergulhei. Eu odiava não poder abrir os olhos, mas o ardor me fazia esquecer. Eu tinha essa mania de querer que tudo doesse só para eu esquecer. Dali de dentro, a praia parecia outro planeta e eu assistia como se não pertencesse àquilo. Uma onda fria e salgada me atingiu e, por um segundo, achei que, naquele momento, eu não precisaria mais voltar para a superfície. Imaginei tudo aquilo que as pessoas supostamente imaginam quando se encontram nos últimos segundos de vida. Se eu me recusasse a nadar, se eu me recusasse a fazer o menor esforço que fosse, eu poderia escapar de tudo aquilo que me assustava: família, amigos, futuro. Que tipo de covarde eu era por não querer viver para conhecer minha capacidade de andar com meus próprios pés? Enquanto eu tinha medo, me batia uma vontade de sair correndo e pisar em todos os castelinhos e escutar o choro sem fim dos pequenos, porque é isso que falta na vida deles: alguém que esmague os sonhos e fale a verdade - castelos de areia são de areia para não se sustentarem por muito tempo, igual a gente. Os outros vão te pisar e soltar uma desculpa esfarrapada de “ah, não te vi ai, foi mal”. Ninguém me enxerga e nem enxerga a si. Meus pés há um bom tempo não encontravam mais o chão e tudo ficava distante e pequeno. Se eu conseguisse, logo soltaria todo o ar e não precisaria mais respirar. Ouvi meu nome de longe. Era o que me segurava. Uma corda invisível através da voz dele. De novo, soando preocupado e assustado. Às vezes eu fazia isso, de querer sumir da vida das pessoas como se fossem elas que me pedissem. No fundo, sou só eu com medo de me apegar por tempo demais. Mais um grito. Dessa vez, minhas pernas bateram sem que eu precisasse orientar o movimento. Era natural quando ele me chamava, eu ia. Um ímã, uma pressão leve que me fazia querer ficar um pouco mais. Era o que eu me dizia: “só mais um pouquinho e aí eu vou embora de vez”. É claro, eu nunca iria. Acreditar que eu conseguiria me manter distante dele, mesmo que por alguns metros, era quase utópico, imagine por uma questão de viver ou morrer. Talvez eu tivesse morrido algumas vezes. Sobre viver, eu já não posso dizer o mesmo, mas ao lado dele, a vida que eu não tinha e nem queria ter, se fazia presente e realidade. Só mais um pouco. Eu quero ficar.

19 de fevereiro de 2018

“E no final, assim calado, eu sei que vou ser coroado rei de mim.”

Eu não queria que chovesse. Minha vontade era de morar na chuva, mas, ainda assim, eu não queria que chovesse. Quando os pingos caem a gente dramatiza em excesso a vontade de chorar e de achar que tudo é um filme. Ai, amor, bem que fosse, mas não é. Quando chove, a sandália estraga, o cabelo fica apontando para todos os lados, os óculos mancham e a roupa começa a feder a mofo. Lá fora, tudo verde. Aqui dentro - de mim - um deserto que nem toda a água do mundo pode fazer florir. Ultimamente, a coisa que eu mais escuto é como eu sou decepcionante. Que eu não faço mais do que minha obrigação. E ai eu me pergunto e te pergunto: que obrigação? Adivinhe só: viver. A gente não tem direito de escolha e aquele processo da vida das plantas que estudamos na escola serve para a gente também: nasce, cresce, supostamente reproduz e morre. Talvez eu tenha esquecido de crescer e talvez eu só esteja andando para lá e para cá esperando a hora da dita cuja - essa que a gente morre de medo de falar. Eu nasci, fui criada do melhor jeito, mas parece que a rebeldia, quando não é de sangue, vem com gosto de gás. Não sei quando passei a exigir demais de mim e quando esqueci que não preciso ser o que eles esperam que eu seja. Não é um contrato de compra e venda. É pai e mãe que bota o filho no mundo de graça e a gente acha que tem que pagar isso de alguma forma. Ei, eu nem pedi para estar aqui. “Ingrata!”. Mas virei gente. Virei um oceano inteiro de vendavais que enchem minha cabeça. Não tem água, só tem areia. Mas eu insisto em dizer que eu e você, a gente se encontra. Se perder no caminho não é pecado nem maldição, é ser humano. E dure o tempo que for, porque se tem começo e tem meio, também tem um fim.

15 de fevereiro de 2018

"They would not listen, they're not listening still. Perhaps they never will."

Eu gosto de escrever aqui sabendo que ninguém vai ler. Que as pessoas sobre as quais escrevo provavelmente nunca sequer cogitaram a ideia de que eu tenho um espaço só meu há oito anos só para escrever as milhões de coisas que eu não consigo dizer - tirando meu namorado, é claro. De todo jeito, me alivia poder chorar um bocadinho sem medo de alguém abrir a porta do quarto de uma vez. Aqui só tem uma porta e quase nunca é aberta. Existem dias ruins e dias não tão ruins que eu consigo sobreviver quase que forçada. Ultimamente, quase todos são ruins e quase todos me fazem querer ficar escondida o tempo todo. Mas, se tem uma coisa que eu sou péssima é em me esconder. E esconder cada dorzinha que eu sinto quando pisam no meu pé, e eu falo isso de forma figurada e não literal. Na verdade, meu amor pelo mundo é gigante. E eu odiei chegar a essa conclusão porque eu não vou conseguir fugir ou escapar. Não existem colinas para correr, nem remédios que me façam dormir o suficiente. Eu não tenho a quem agradecer. Nem a quem odiar. E quer saber de um segredo? Foi quando eu enchi meu peito de amor que eu não consegui mais respirar. 

"For they could not love you
But still your love was true
And when no hope was left in sight
On that starry, starry night (...)"

8 de fevereiro de 2018

"What doesn't destroy you, leaves you broken instead."

Na maioria das vezes, eu queria me desculpar. Só que quando eu resolvia parar para entender, eu não sabia exatamente por qual motivo deveria pedir desculpas. Ou a quem. Minha terapeuta diria que a ninguém. Que eu não tenho obrigação nenhuma. Mas meu eterno senso de culpa diria que a qualquer ser humano que passasse por mim na rua. Ao velhinho que hoje achei que estava me ajudando a estacionar o carro, mas, quando fui agradecer, me deu uns gritos. Aos meus pais, por ser quem eu sou. Não acredito que eu seja um fardo, mas talvez eu seja aquela pedra no sapato que eles tentam chutar para fora e, ainda assim, continua grudada ali. Que inferno. Aos meus contáveis amigos, por nunca estar disposta. As coisas andam bem esquisitas. Parece que eu voltei a ter treze anos e só sinto aquela vontade de procurar objetos afiados e cortantes em qualquer lugar. Na verdade, eu aprendi que qualquer objeto pode se tornar afiado e cortante quando você precisa. A parte ruim é nunca saber do que eu preciso. Mas acho que, quando não se tem alguém semanalmente, com horário definido, para dizer repetidas vezes que você é forte e que tá tudo bem e que você vai ficar bem e que todo mundo tem problemas, o mundo vira de cabeça para baixo e você só quer gritar e chorar e perguntar porquê. Pelo menos posso me desculpar com você, por ter vindo até aqui perder cinco minutos da sua vida lendo todas essas baboseiras tristes que escrevo. Às vezes, eu só preciso disso. 

31 de janeiro de 2018

"How long, baby, have I been away?"

É sempre igual: bate uma da manhã, resolvo dormir, mas meu cérebro decide que tá cedo, sono, passe outra hora. Meu primeiro texto do ano. O último, nem lembro o dia. Mas onde eu fui me meter nessa vida? Em canto nenhum. Não saí do lugar. Conheci umas cidades mundo afora, percebi que tudo é bem maior do que a gente acha que é: os ônibus, as ruas, o céu. Meu coração esvaziou um pouquinho, dos sentimentos ruins que eu carreguei por tempo demais, das pessoas que não me faziam andar pra frente. Talvez o teto de casa tenha desabado em minha cabeça, a batida forte na porta que me fez quebrar um pouco o rodapé do corredor, minha vó perdendo a pouca sanidade que ainda resta. Entra ano e sai ano e eu ainda não sei bem quem eu sou, o que eu quero. Ganhei um amor gigante, ganhei companhia e um ombro cheiroso pra deitar. Decidi que eu quero ser, pelo menos, melhor. Melhor do que já fui. Minha mania de ser pessimista ainda persiste, mas eu já consigo acreditar que, se for para ser, então que seja.