23 de julho de 2013

"You said 'so go' with such disdain, you know?"

Hoje é um daqueles dias que eu sabia que a gente ia ter mais um fim. Era sempre assim: a gente saia juntos, bebia algumas doses, ria, conversava, e brigava, por qualquer motivo que fosse, a gente nunca conseguia ter uma conversa inteiramente pacífica. Eu chorava, você dizia que ia embora. E depois voltava, como quem não quer nada, dizendo que esqueceu algo lá em casa. Te convidava pra entrar, beber alguma coisa comigo, e a gente ficava falando sobre o passado e tudo que já tinha acontecido, e você me beijava e, quando eu via, a gente já tava dormindo agarrado naquele sofá de dois lugares que minha mãe me deu logo que saí de casa. Eu não sabia como sobreviver a essa coisa toda que a gente tinha. Era uma correria, sabe? E hoje seria um desses dias. Você limpava os livros enquanto eu arrumava o guarda-roupa bagunçado. O vento que entrava na janela do quarto trazia poeira, e você cantava algo desconhecido. O casal de passarinhos que você me deu cantava alto, te acompanhando. Você lembra quando, naquele feira em algum dia de outubro, você viu aquela gaiola enorme só com um pássaro dentro, e falou que passarinho era que nem gente: só, não sobrevive. E ai comprou outro. Eu ficava me perguntando se a gente iria pra frente, mas acho que não. Todo dia era um vai-mas-não-volta e acabava voltando. Tem umas coisas nessa vida que a gente insiste em continuar nelas pra ver se funcionam, mas não, nem adianta. Saí do quarto e te deixei lá. Dormi em algum canto dali, esperando dar a hora de a gente dizer tchau mais uma vez.

"Clementine: Was it something I said?
Joel: Yeah, you said 'so go' with such disdain, you know?
Clementine: Oh, I'm sorry.
Joel: It's okay.
Clementine: Joely? What if you stayed this time?
Joel: I walked out the door. There's no memory left."

14 de julho de 2013

20 anos, 7 doses e várias saudades.

Sobre desapegar: não tem como. 
Sobre deixar ir: não tem como.
Sobre acabar com a saudade: não tem como.

Fico vendo todo mundo indo embora e eu ficando aqui, do lado de cá, porque eu escolhi ficar, e agora eu nem sei mais se foi uma escolha boa, mas foi o certo, certo? Fiz vinte anos há dois dias, mas, às vezes, tenho sérias dúvidas se o mundo não errou nessa contagem, porque não pode isso: um metro e sessenta de altura, sonhando demais. Ficar velha é uma coisa que eu não quero pra mim e tô tentando fugir disso desde os meus dezoito. Bebi demais, ri demais, abracei todo mundo que eu amava ali; devo ter dito um bocado de coisa louca porque é isso que acontece quando eu resolvo me soltar. Ainda tô tentando colocar a cabeça no lugar, mas o tempo tá passando. Rápido demais. Não consigo acompanhar essa velocidade. Parei, tudo girou. O mundo é de gente doida, de gente que eu queria tá perto por mais tempo; de gente que resolveu crescer e andar pra frente, que daqui a pouco pode nem lembrar de mim. Fiquem mais um pouco, ainda não tô preparada pra ficar só, pra deixar vocês irem pra longe, qualquer lugar que não seja aqui. 

Sobre coisas que acabam: não sei acabar junto com elas.
Sobre gente que vai: fica.

2 de julho de 2013

"Eu disse oi, fica à vontade."

Resolvi limpar a casa. Os cômodos ficaram mais vazios do que antes, mas não mais vazios que eu. Pedi desculpas para mim mesma por ficar horas olhando para uma folha de papel, com uma caneta na mão e sem conseguir botar uma palavra qualquer para fora. Era triste porque eu me desiludi de qualquer inspiração que ousasse dar algum sinal de vida perto de mim. Saí com uns amigos, bebi, sorri, solucei, chorei e não gritei tudo o que eu deveria. Mas que porra de mundo é esse? Alguém tem que me explicar. Fui ao centro da cidade em alguma manhã de sábado, com um sol que mais merecia desaparecer do que queimar o que me restava de neurônios. Era gente correndo, esbarrando, passando na frente dos carros. Buzinas, barulho, poeira. O que me fazia chorar era saber que todo dia seria assim: mesma rotina, mesmas pessoas. E eu queria coisa nova, cara. Gente nova. Abraços desconhecidos que fossem mais aconchegantes que os antigos. Pedindo um sorriso como esmola. Deixar ir e deixar ser. Minha porta tá aberta. E eu não vou expulsar ninguém dessa vez.