24 de abril de 2011

Temporal.

Cada despedida, um crime. Depois da velha ressaca, a tristeza. Para que tantas idas e vindas, certo? O pior de morar longe dos amores é isso. Você sempre tem que se despedir. Não é uma ou duas vezes, mas todas as vezes. Devia ser proibido largar pai e mãe e irmão e amigos e vida. Sou totalmente a favor de realizar os sonhos e todo aquele blábláblá, mas eu acho que tem gente que não aguenta a pressão, sabe? Parece até que a gente se apega mais e mais e mais. E é impossível de se largar. E fica contando as horas, os dias, os meses, para juntar todo mundo num abraço só. Infinito. E é aquela espera incansável.

"A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar."
 - Antoine de Saint-Exupéry.

17 de abril de 2011

Fumaça.

Tem gente que vai. E volta. Como que morto, mas gente morta não ressuscita. Não assim, do nada. Chega e pronto, age normal, como se não tivessem passado vidas e vidas, e anos, e mais pessoas, e amores. É tipo como quem surge de uma fumaça. Primeiro, é fogo. Depois fumaça. Depois nada. E depois ressurge. Nem acho certo, sabe? Para que voltar? Pô, fica no teu cantinho vai, não se dê ao trabalho de dar o ar da sua graça, não precisa, não faz falta. Estava tudo tão bom, tão calmo, tranquilo. Puro tsunami. Vem quando a alma está despreparada. O coração nem lembra. Ai acaba sumindo de novo. Fácil assim, sem nem dizer tchau, sem nem se importar. Sem nem dizer por quê.

15 de abril de 2011

Home - Edward Sharpe And The Magnetic Zeros.

"Ele: Jade?
Ela: Alexander?
Ele: Lembra aquele dia que você caiu da minha janela?
Ela: Com certeza, você pulou atrás de mim.
Ele: Bem, você caiu no concreto, quase quebrou sua bunda, você estava se esvaindo em sangue e eu corri com você pro hospital, lembra-se disso?
Ela: Sim, eu lembro.
Ele: Bem, há algo que eu nunca lhe disse sobre aquela noite.
Ela: O que você não me contou?
Ele: Enquanto você estava sentada no banco de trás fumando um cigarro pensando que seria seu último, eu estava me apaixonando profundamente, profundamente por você, e eu nunca lhe disse até agora."

A dor que dói mais - Martha Medeiros.

"Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade. Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.


Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.


Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer."

Where The Wild Things Are.

9 de abril de 2011

Daquelas.

Brigadeiro. Biscoitos de chocolate amanteigados. Brigadeiro. E consciência pesada. E estresse. E brigadeiro. Por que minha tpm já veio? POR QUE? Por que mulher tem que sofrer tanto? Brigadeiro. Muito chocolate para acalmar os nervos. Muita solidão. Muita falta de amor. Muita emotividade no sangue. A gente precisa de carinho. De amor. De colo. De palavrinhas bonitas. Brigadeiro. Gritos e mais gritos com todo mundo. Vontade de afogar as mágoas com álcool. Mas só tem brigadeiro. E eu fico gorda. Tudo culpa da tpm, dessa maldita, que vem sem avisar, que nem bate na porta quando vai entrar, que nem tem dó de mim! Maldita. Mal amada. Arrogante. Sem educação. Feia. Isso, muito feia. Só quer me deixar de cara amarrada, de baixo astral, de biquinho. E mais brigadeiro. Larga de mim! Não larga. Não me deixa. Lençol, travesseiro, camisola, TV, notebook, cama. De passar o dia sem fazer nada. Cabelo despenteado, unhas por fazer, comida por todos os lados. É só falta de amor: quando ele aparece, a gente fica toda bonita, e fofa. Uma fofura só.

Todos se apaixona.

8 de abril de 2011

Charles Bukowski.

"Andava com mania de suicídio e com crises de depressão aguda; não suportava ajuntamentos perto de mim e, acima de tudo, não tolerava entrar em fila comprida pra esperar seja lá o que fosse. E é nisso que toda a sociedade está se transformando: em longas filas à espera de alguma coisa. Tentei me matar com gás e não consegui. Mas tinha outro problema. Levantar da cama. Sempre tive ódio disso. Vivia afirmando: "as duas maiores invenções da humanidade foram a cama e a bomba atômica; não saindo da primeira, a gente se salva, e, soltando a segunda, se acaba com tudo". Acharam que estava louco. Brincadeira de criança, é só disso que essa gente entende: brincadeira de criança - passam da placenta pro túmulo sem nem se abalar com este horror que é a vida.

Sim, eu odiava ter que me levantar da cama de manhã. Significava que a vida ia recomeçar e depois que se passa a noite inteira dormindo cria-se uma espécie de intimidade especial que fica muito mais dificíl de abrir mão. Sempre fui solitário. Você vai me desculpar, creio que não regulo bem da cabeça, mas a verdade é que, se não fosse por uma que outra trepadinha legal, não me faria a mínima diferença se todas as pessoas do mundo morressem. É, eu sei que isso não é uma atitude simpática. Mas ficaria todo refestelado aqui dentro do meu caracol. Afinal de contas, foram essas pessoas que me tornaram infeliz."

6 de abril de 2011

Metades.

Metade de mim não me permite ser legal com as pessoas, ser romântica, e até simpática; não me permite voar, cantarolar no banho, ou abraçar o mundo com pés e mãos; não me permite ser livre, nem doce, nem bonita. Metade de mim não gosta de sair de casa, ou dar um sorriso torto de quem não quer nada. Metade de mim é cansada, é velha, tem alma aleijada. Metade de mim não me permite falar coisas românticas ou olhar para os pombos na praça, não me deixa fechar os olhos na hora de sorrir. Incrível é que, quando ela acha que está me possuindo, vem minha outra metade e acaba com a alegria dela. Minha outra metade é uma fofura só, tem olhos alegres, sorriso no rosto o tempo todo, gosta de pés descalços na areia da praia, de beber com os amigos, de rir histéricamente até a barriga doer. Minha outra metade sente saudade e não se conforma, sempre fazendo questão de lembrar dos amores da vida, das pessoas queridas; adora o vento que assanha os meus cabelos na hora de ir para a faculdade, e o barulho do ventilador; ama ficar me vendo de frente para o espelho, passando maquiagem, fazendo birra porque não encontro a roupa certa para tal lugar. Mas não são só as minhas metades que são assim, porque todo mundo, quando nasce, é partido ao meio.

5 de abril de 2011

Se tu soubesse...


4 de abril de 2011

Quem disse que cansa?

Havia algumas coisas que eu tinha que colocar em dia: a leitura de alguns livros, a limpeza do quarto, a boa dormida, as amizades, os amores. Ah, os amores! Cheiro de café fresquinho de manhã, de cabelo assanhado, de cama bagunçada, de água quentinha. Abraço apertado, aperto de mão, beijo forte no rosto. Às vezes a gente precisa disso, sentir vida correndo nas veias. O mundo anda muito parado diante de mim. Até meu horóscopo anda deixando o romance de lado e só falando do que é profissional. Está mais do que na hora de dormir em um lugar e acordar em outro, e viver. E sentir. Sentir até a alma dizer chega.

“É tempo de meio silêncio,
de boca gelada e suspiro,
de palavra indireta, aviso na esquina.
Tempo de cinco sentidos num só.”
- Carlos Drummond de Andrade.