27 de abril de 2015

"Fire meet gasoline."

- Adivinha em quem eu tô pensando.
- Eu sei.

Quem não sabia? Todo mundo sabia. Não era muito difícil adivinhar, mesmo depois de milhões de anos. Dinossauros até entraram em extinção, e eu aqui, pensando a mesma coisa. Que ninguém me pergunte os motivos, pois acho que só Jesus voltando à terra pra poder esclarecer o que se passa em minha cabeça quando a nostalgia resolve montar acampamento. Por que eu não podia ser uma pessoa normal? Apegar e desapegar. Gostar e desgostar e não gostar mais. Acontecia, é claro. Mas com você não. Porque, apesar de todas as merdas, apesar de não encontrar mais sentido pra nada, você continua aqui impregnado, sem me deixar em paz. Podia ser um fantasma, podia ser uma assombração. Mas não passa de uma lembrança atormentada. E ai eu durmo noites e noites sem nem lembrar do que existiu, mas em um tal momento resolvo sonhar e ai passo uns dias tentando relembrar coisas e coisas. E ai eu leio aqueles romances bobos que você odiava que eu lesse porque eu ficava iludida demais e ai a gente brigava, mas depois parecia que nada tinha acontecido. As ligações de madrugada, em que a gente passava mais tempo calado que conversando. E ai você tocava guitarra e cantava algum rock bom e eu devia ficar com sono, mas era impossível. Eu nunca ficava com sono quando se tratava da gente juntos, mesmo que juntos significasse você do outro lado da linha telefônica. E ai passavam três, quatro horas. Minha mãe acordava e brigava e ainda assim eu continuava te escutando tocar, sabendo que você colocou o telefone de lado. A gente era tão diferente e nem se entendia mas eu sabia que, de todo jeito, um era igual ao outro. E mesmo que todo mundo dissesse que não valia a pena, eu sabia que valia. Mesmo quando tudo foi por água abaixo e você disse que a gente ainda ia ficar junto e eu virei a cara. Eu nem queria conversa. E eu resolvi que ia deixar pra lá, não importava quanto tempo levasse. E hoje eu deixei pra lá e sei que, talvez, eu vá me ficar toda me tremendo quando te ver, mas eu não vou sentir nada. Como das outras vezes. E ai eu vou ficar te olhando, com vontade de te beijar, mas só pra deixar claro pra minha mente que não é aquilo que eu quero de verdade. E ai eu vou me desculpar. E vou dizer que não, a gente não vai ficar junto, porque nada é pra ser quando se trata de minha vida. Mesmo as coisas sendo, elas não são.

13 de abril de 2015

"Wild horses."

O que tivesse pra dar errado, daria. Isso tinha virado mais que um lema, era uma certeza. Certeza de que nada daria certo porque não se permitia que as coisas dessem certo. Tinha que estragar, pelo menos para ter um pouquinho de tortura até o fim daqueles dias. Sempre dizia que não ia mais beber, porque nem era viciada nem nada. Só bebia pra passar o tempo, pra conseguir conversar com as pessoas estranhas mais que duas palavrinhas. Mas se passasse da conta ia dar merda. De novo. Não podia sair se desculpando por ai como se tivesse culpa. Tinha, sabia. Mas lembrava de pouco ou quase nada e que assim ficasse. Lembrar era pior. O que aquela gente toda fazia ali? Será que as pessoas realmente se gostavam nesse mundo? Que esquisito. Desconhecia esse sentimento. Desconhecia o gosto de gostar das pessoas. Mas as abraçava e beijava e dizia oi tudo bom. E continuava a beber mesmo sabendo que, ao chegar em casa, o mundo ia girar e não ia conseguir se segurar sozinha. A mesma coisa de sempre. A pressão nos ouvidos fazia parecer que estava num avião a sei lá quantos metros de altura. Não escutava nada e queria gritar porque que agonia insuportável. Respirar fundo e oi tudo bom. Tinha que sorrir para os conhecidos e também desconhecidos porque queria saber o que era gostar das pessoas e queria saber se as pessoas gostariam dela mas é claro que não gostariam porque como as pessoas se gostam nesse mundo? Era péssima em tudo. Botaria para fora o que podia e não podia, e depois ficaria mal por três dias se remoendo de todas as coisas que não lembrava. Que a vida fosse fácil de esquecer assim. Mas nem era.