20 de maio de 2013

Pra lembrar de não esquecer.

Meu estômago doía e eu tinha perdido a esperança de conseguir dormir. Não sabia se era só aquele vazio comum dentro de mim ou se era fome, desde que ultimamente não consigo mais distinguir uma coisa da outra. Minha mãe tem que ficar me lembrando de comer sempre, porque na maioria das vezes meus pensamentos estão em qualquer lugar, menos aqui. Tava diferente, sabe? Frio e parado. Eu não conhecia mais ninguém, nem saía muito de casa porque as pessoas perderam seus rostos. No ônibus, eu não me permitia conversar, preferia os fones de ouvido e a música de melodia triste no volume máximo. Era assim que eu preferia: nenhum contato. Porque a gente olha para uma pessoa, sorri embaraçado, conversa alguns minutos, tempo suficiente para achar que se conheciam por toda a vida. Descobre alguns conhecidos em comum, porque em cidade pequena é assim: todo mundo se conhece, ninguém é amigo. Ai quando se dá conta que aquela pessoa poderia sim fazer parte de sua vida, o motorista para na próxima parada. 

- A gente se vê.
- Sim, talvez.

E pronto. Se algum dia se esbarrarem, vão sorrir estranho e não lembrar os nomes. "Ah, você..." Porque a gente esquece os nomes, esquece as datas, endereços e telefones. Esquece dos dias importantes e das pessoas que conheceu por acaso. Envelhece, com pouca memória e pouca história. Mas vez em quando dá uma vontade de numas conversas dessas perdidas por ai, antes de ir embora, sorrir com boca e olhos e soltar um: "ei, me lembra de não te esquecer."

14 de maio de 2013

A nossa versão do fim do mundo.

A gente era um cansaço para os olhos do mundo. Todos aqueles clichês baratos e sorrisos forçados, olhos baixos e eu querendo chorar. Não adiantava correr para o teu abraço ou me esconder debaixo dos lençóis. Sem querer, a gente acabava fugindo um do outro, fingindo que ainda existia algo, mas era só um vazio dentro do peito. As pessoas continuavam vivendo suas vidas, olhando para os celulares e nós dois passávamos despercebidos aos olhos delas. Não tinha vento e o calor fazia nossa pele queimar, aquelas gotas de suor se perdendo entre tanto espaço. Eu te disse para ficar, "deixa eles viverem sem a gente", porque era isso que acontecia, o mundo não parava mais por nossa causa. E você não queria, exigia que todos te notassem, bonito, feliz, uma felicidade tão falsa quanto o vermelho do meu cabelo. Eu continuava querendo me esconder porque você era um pedaço do mundo, mas e eu? Eu era um pedaço de você, uma coisa pequena e esquecível, se é que essa palavra existe. Não tinha chuva, nem nuvens no céu. Era um azul que cegava tudo aquilo ao nosso redor. Te deixei ir, fiz até suas malas. Empacotei tudo e você me encarava quieto, porque não havia mais nada para dizer. Ninguém sentiria falta, nem mesmo a gente. Ou talvez sentisse. Te dei um beijo no rosto e falei um "foi bom" bem baixinho, que você provavelmente não escutou. E foi embora. Sem olhar para trás para saber se esqueceu algo, e eu queria gritar e dizer que você esqueceu, que você me esqueceu. Mas de nada adiantava: você tava cansado da gente.