31 de dezembro de 2014

"The blower's daughter."

Fim de ano. Todo mundo ia beber demais, eu tinha certeza. A gente sempre se deixava levar pelos fogos e abraços de feliz ano novo. E, mais uma vez, eu estaria só. Não tô reclamando, juro. Eu já me acostumei com isso há tempos. Mas eu odeio essa ideia de final de ano. Eu queria que o tempo parasse e a gente ficasse pra sempre estancado nas 23h59min. Seguir em frente. E tudo mais uma vez igual. As promessas, as juras, as tentativas fracassadas de ser melhor. Tanto esforço pra nada, meu Deus. Eu deveria me desculpar por ser assim tão pessimista, mas eu não tô mentindo, tô? Quem sabe o que aguardar de mais um ano em que eu envelheço e ganho mais responsabilidades. Daqui a pouco, se brincar, vou ter que cuidar de minha própria casa. Isso é normal, eu sei. Eu sei tanto que talvez seria melhor se eu não soubesse. Mas é o fato de ser algo esperado e normal que me deixa em pânico. Isso de que ter a vida igual a de todo mundo. De trabalhar, sorrir, viver no automático. Eu faço o que gosto até deixar de gostar porque é isso que acontece quando os dias se repetem demais. E se eu fosse menos azeda até podia gostar mais um pouquinho desse negócio de imaginar os anos que vêm. Mas prefiro ficar quieta. Beber, ganhar abraços e sorrir porque, se eu não acredito nisso, alguém tem que acreditar.