29 de dezembro de 2013

"In many ways I prefer my own company."

Eu ficava me desculpando comigo mesma por não botar tudo aquilo para fora. Se era falta de tempo ou de vontade, não consigo dizer. A rua estava vazia por esses dias e eu não via mais ninguém porque eu tinha parado de enxergar dentro das pessoas. A gente se distanciou e era assim que tinha que ser. Gatos e cachorros e seres humanos vagando por ai. Acordar, levantar, olhar para o céu, pegar ônibus lotado de velhinhos, oferecer o seu lugar, descer na parada errada, correr debaixo da chuva, soltar um bom dia automático. A vida toda era um resumo do nada, de qualquer coisa sem significado porque a gente deixa os momentos se perderem. E esquece de ontem e daquele sorriso que não era forçado. 

3 de novembro de 2013

"Samba de ir embora só."

Essa necessidade louca que a gente tem de ser tudo, menos só. Eita que mundo doido, meu Deus! Uma vontadezinha de chorar lá no fundo do peito, porque a gente é acostumado a estar junto e perto. E bem juntinho. Pai e mãe. Família. Não sei como é a vida fora desse padrão e, verdade verdadeira, longe de mim querer saber. Fosse o que fosse, alguma coisa tinha que dar certo. A gente reza pra quê? Olha para o céu e pede qualquer coisa, mas qualquer coisa que funcione. Amor é coisa sagrada. E eu que não aprendi a viver sem?

8 de setembro de 2013

"But mother, I don't want to grow up!"

Eu já estava na fila do banco há exatos quarenta minutos. Quarenta minutos! E eu tinha acabado de sair do estágio, com fome, cansada e com calor. O centro dessa cidade enlouquece qualquer um e era começo de mês, todo mundo correndo pro banco pra pegar seu dinheiro suado. Mas eu só queria abrir uma conta. E era minha segunda tentativa! Chegou minha vez e, quando eu abri a boca pra falar o que eu queria, apareceu um velhinho e eu dei minha frente a ele, claro. Coluna curvada, mesma altura que eu, cabelos branquinhos, camisa xadrez folgada e pele enrugada. Ele estava com dificuldades de lembrar a senha da sua conta e o moço pedia pra ele tentar de novo, mas cheio de respeito e paciência. Toda vez que alguém assim se aproxima de mim eu seguro o choro. Gente velha já passou por tanta coisa na vida, sofreu, amou, lutou e ai que, no final, termina com as mãos tremendo e uma memória pra lá de fraca. É triste, sabe? Tudo vai se apagando e a gente nem pra perceber. A esposa do velhinho apareceu, juntamente com a filha dele, que já era uma mulher adulta, talvez com marido e filhos. "Conseguiu, papai?" Ele tinha conseguido. Cheio de dificuldade, mas venceu mais uma dessas dificuldades que a vida coloca no caminho só pra testar se você é capaz de continuar indo. Indo em frente. Vivendo. Ele ainda demorou pra sair do caixa porque mal conseguia andar. E eu ali, segurando o choro, com a garganta embargada, enquanto o moço do caixa gritava: "próximo!" Esqueci um documento. De novo eu dei viagem perdida. 

1 de setembro de 2013

"Isn't everything we do in life a way to be loved a little more?"

Tinha que fazer qualquer coisa pra não me sentir só. Esse era o problema: ser só. Dia desses, em conversa com um professor, enquanto eu tentava dar um jeito de ir pra casa sem levar falta na aula dele, descobri que ser só não era uma coisa exclusiva. "Mas eu já não gosto daqui porque eu fico sozinho a maior parte do tempo." E aquilo deu uma dorzinha no meu coração, sabe? A gente deixa todo mundo longe pra tentar ser alguém ou qualquer coisa que nos complete. E nada completa. Daí consegue tudo que quer: casa, trabalho, uns poucos amigos pra contar nos dedos e beber algumas cervejas uma vez por mês. Era tudo que eu queria, não era? Acho que era. Era. Passado. Passou. Todo dia é alguma coisa diferente e a gente enfia a cara nos livros, sonha com alguma coisa diferente. Dorme e descansa. E se cansa. Deixa alguma coisa do lado de lá e se esconde debaixo do travesseiro. E quando o despertador toca às 6:50 da manhã de segunda-feira, sair daquele escuro do quarto é a coisa mais difícil a se fazer. Ver as pessoas, os cachorros de rua, os carros que buzinam sem nenhuma piedade. Todo mundo é só e esquece disso porque é gente demais, é céu pra todo lado e calor de fim de mês. Mas ai uma vez ou outra alguém encontra outro alguém. Se encontra. E ai qualquer lugar fica bom, qualquer música fica menos triste e a gente esquece de quem é só.

5 de agosto de 2013

"Why do you let me stay here, all by myself?"

Desculpa pela bagunça no meu quarto, no meu cabelo e dentro de mim. Te daria um beijo em cada canto do seu rosto se pudesse, de orelha a orelha, nesse seu sorriso que mostra os dentes pra quem quiser ver, e que ilumina até esses olhinhos que sorriem junto. Andei escutando umas músicas tristes e eu até poderia dizer que é saudade, mas eu não posso sentir saudade dessa gente que mal entrou na minha vida. Eu nem sei direito que mundo é esse, meu Deus. Essa gente que você conhece nessas noites em que uma cerveja abre as portas para a felicidade. Uma felicidade falsa, eu sei, mas é que a gente fica tão feliz naquele momento, sabe? Abraça e beija todo mundo sem precisar de algum motivo pra isso. A vida meio que parou por aqui e eu voltei pra minha fase de não saber o que fazer com ela. É que fico só na maior parte do tempo e fico me gastando ao pensar em como teria sido se eu não tivesse isso e tivesse feito aquilo. As pessoas vivem disso, né? De pensar nas coisas que deveriam ter feito como se aquilo fosse mudar tudo ao redor delas. E mudaria, eu sei. Mudaria um bocado. Eu acho que é a idade. Quanto mais o tempo passa, mais só penso em dormir e ler algum livro que abandonei há tempos. A gente abandona os livros como abandona as pessoas, mas os livros a gente pode recuperar e eu ainda não aprendi a recuperar pessoas. Mas vai, me ensina a sorrir com os olhos assim, que nem você. É tão bonito. Eu poderia ter te chamado pra tomar um café. Um cappuccino, talvez, porque eu não gosto de café. Conversar sobre o que vai ser do meu futuro criando gatos e tentando escrever histórias sobre minha vida, essa vida parada e sem nada pra emocionar qualquer ser humano. Mas mesmo assim, a gente estaria conversando e você rindo de mim porque eu pareço um pouco doida ao pensar assim, ao me chamar de velha quando agora que cheguei nos vinte. Você é todo cheio de alguma coisa feliz e nunca parece triste e queria te pedir pra ficar e me ensinar a ser assim, mas chegou sua hora, você tem que ir porque tem algum compromisso marcado com sei lá quem. "Vê se volta", eu queria dizer, e ai lembro que qualquer coisa é mais importante que conversar com alguém de um pouco mais de um metro e sessenta de altura, que não entende de nada e, mas que só queria uma mãozinha pra seguir em frente. Uma mãozinha e uns olhos que sorriem pra ela.

23 de julho de 2013

"You said 'so go' with such disdain, you know?"

Hoje é um daqueles dias que eu sabia que a gente ia ter mais um fim. Era sempre assim: a gente saia juntos, bebia algumas doses, ria, conversava, e brigava, por qualquer motivo que fosse, a gente nunca conseguia ter uma conversa inteiramente pacífica. Eu chorava, você dizia que ia embora. E depois voltava, como quem não quer nada, dizendo que esqueceu algo lá em casa. Te convidava pra entrar, beber alguma coisa comigo, e a gente ficava falando sobre o passado e tudo que já tinha acontecido, e você me beijava e, quando eu via, a gente já tava dormindo agarrado naquele sofá de dois lugares que minha mãe me deu logo que saí de casa. Eu não sabia como sobreviver a essa coisa toda que a gente tinha. Era uma correria, sabe? E hoje seria um desses dias. Você limpava os livros enquanto eu arrumava o guarda-roupa bagunçado. O vento que entrava na janela do quarto trazia poeira, e você cantava algo desconhecido. O casal de passarinhos que você me deu cantava alto, te acompanhando. Você lembra quando, naquele feira em algum dia de outubro, você viu aquela gaiola enorme só com um pássaro dentro, e falou que passarinho era que nem gente: só, não sobrevive. E ai comprou outro. Eu ficava me perguntando se a gente iria pra frente, mas acho que não. Todo dia era um vai-mas-não-volta e acabava voltando. Tem umas coisas nessa vida que a gente insiste em continuar nelas pra ver se funcionam, mas não, nem adianta. Saí do quarto e te deixei lá. Dormi em algum canto dali, esperando dar a hora de a gente dizer tchau mais uma vez.

"Clementine: Was it something I said?
Joel: Yeah, you said 'so go' with such disdain, you know?
Clementine: Oh, I'm sorry.
Joel: It's okay.
Clementine: Joely? What if you stayed this time?
Joel: I walked out the door. There's no memory left."

14 de julho de 2013

20 anos, 7 doses e várias saudades.

Sobre desapegar: não tem como. 
Sobre deixar ir: não tem como.
Sobre acabar com a saudade: não tem como.

Fico vendo todo mundo indo embora e eu ficando aqui, do lado de cá, porque eu escolhi ficar, e agora eu nem sei mais se foi uma escolha boa, mas foi o certo, certo? Fiz vinte anos há dois dias, mas, às vezes, tenho sérias dúvidas se o mundo não errou nessa contagem, porque não pode isso: um metro e sessenta de altura, sonhando demais. Ficar velha é uma coisa que eu não quero pra mim e tô tentando fugir disso desde os meus dezoito. Bebi demais, ri demais, abracei todo mundo que eu amava ali; devo ter dito um bocado de coisa louca porque é isso que acontece quando eu resolvo me soltar. Ainda tô tentando colocar a cabeça no lugar, mas o tempo tá passando. Rápido demais. Não consigo acompanhar essa velocidade. Parei, tudo girou. O mundo é de gente doida, de gente que eu queria tá perto por mais tempo; de gente que resolveu crescer e andar pra frente, que daqui a pouco pode nem lembrar de mim. Fiquem mais um pouco, ainda não tô preparada pra ficar só, pra deixar vocês irem pra longe, qualquer lugar que não seja aqui. 

Sobre coisas que acabam: não sei acabar junto com elas.
Sobre gente que vai: fica.

2 de julho de 2013

"Eu disse oi, fica à vontade."

Resolvi limpar a casa. Os cômodos ficaram mais vazios do que antes, mas não mais vazios que eu. Pedi desculpas para mim mesma por ficar horas olhando para uma folha de papel, com uma caneta na mão e sem conseguir botar uma palavra qualquer para fora. Era triste porque eu me desiludi de qualquer inspiração que ousasse dar algum sinal de vida perto de mim. Saí com uns amigos, bebi, sorri, solucei, chorei e não gritei tudo o que eu deveria. Mas que porra de mundo é esse? Alguém tem que me explicar. Fui ao centro da cidade em alguma manhã de sábado, com um sol que mais merecia desaparecer do que queimar o que me restava de neurônios. Era gente correndo, esbarrando, passando na frente dos carros. Buzinas, barulho, poeira. O que me fazia chorar era saber que todo dia seria assim: mesma rotina, mesmas pessoas. E eu queria coisa nova, cara. Gente nova. Abraços desconhecidos que fossem mais aconchegantes que os antigos. Pedindo um sorriso como esmola. Deixar ir e deixar ser. Minha porta tá aberta. E eu não vou expulsar ninguém dessa vez.

20 de maio de 2013

Pra lembrar de não esquecer.

Meu estômago doía e eu tinha perdido a esperança de conseguir dormir. Não sabia se era só aquele vazio comum dentro de mim ou se era fome, desde que ultimamente não consigo mais distinguir uma coisa da outra. Minha mãe tem que ficar me lembrando de comer sempre, porque na maioria das vezes meus pensamentos estão em qualquer lugar, menos aqui. Tava diferente, sabe? Frio e parado. Eu não conhecia mais ninguém, nem saía muito de casa porque as pessoas perderam seus rostos. No ônibus, eu não me permitia conversar, preferia os fones de ouvido e a música de melodia triste no volume máximo. Era assim que eu preferia: nenhum contato. Porque a gente olha para uma pessoa, sorri embaraçado, conversa alguns minutos, tempo suficiente para achar que se conheciam por toda a vida. Descobre alguns conhecidos em comum, porque em cidade pequena é assim: todo mundo se conhece, ninguém é amigo. Ai quando se dá conta que aquela pessoa poderia sim fazer parte de sua vida, o motorista para na próxima parada. 

- A gente se vê.
- Sim, talvez.

E pronto. Se algum dia se esbarrarem, vão sorrir estranho e não lembrar os nomes. "Ah, você..." Porque a gente esquece os nomes, esquece as datas, endereços e telefones. Esquece dos dias importantes e das pessoas que conheceu por acaso. Envelhece, com pouca memória e pouca história. Mas vez em quando dá uma vontade de numas conversas dessas perdidas por ai, antes de ir embora, sorrir com boca e olhos e soltar um: "ei, me lembra de não te esquecer."

14 de maio de 2013

A nossa versão do fim do mundo.

A gente era um cansaço para os olhos do mundo. Todos aqueles clichês baratos e sorrisos forçados, olhos baixos e eu querendo chorar. Não adiantava correr para o teu abraço ou me esconder debaixo dos lençóis. Sem querer, a gente acabava fugindo um do outro, fingindo que ainda existia algo, mas era só um vazio dentro do peito. As pessoas continuavam vivendo suas vidas, olhando para os celulares e nós dois passávamos despercebidos aos olhos delas. Não tinha vento e o calor fazia nossa pele queimar, aquelas gotas de suor se perdendo entre tanto espaço. Eu te disse para ficar, "deixa eles viverem sem a gente", porque era isso que acontecia, o mundo não parava mais por nossa causa. E você não queria, exigia que todos te notassem, bonito, feliz, uma felicidade tão falsa quanto o vermelho do meu cabelo. Eu continuava querendo me esconder porque você era um pedaço do mundo, mas e eu? Eu era um pedaço de você, uma coisa pequena e esquecível, se é que essa palavra existe. Não tinha chuva, nem nuvens no céu. Era um azul que cegava tudo aquilo ao nosso redor. Te deixei ir, fiz até suas malas. Empacotei tudo e você me encarava quieto, porque não havia mais nada para dizer. Ninguém sentiria falta, nem mesmo a gente. Ou talvez sentisse. Te dei um beijo no rosto e falei um "foi bom" bem baixinho, que você provavelmente não escutou. E foi embora. Sem olhar para trás para saber se esqueceu algo, e eu queria gritar e dizer que você esqueceu, que você me esqueceu. Mas de nada adiantava: você tava cansado da gente. 

21 de abril de 2013

De quando eu pensava em te escrever alguma coisa bonita.

Uma noite de ressaca e parece que fui atropelada por um caminhão. Um quarto bagunçado pra arrumar, minhas roupas jogadas no chão e eu tremendo de frio. Faz frio sim. Todo dia é dia frio porque sempre falta alguma coisa na vida da gente. Queria conseguir te escrever uma carta qualquer, mesmo que com palavras soltas, mas que mostrasse a saudade que eu sinto das coisas de antigamente. Perdi as fotos, os bilhetes e a voz que estava guardada na cabeça sumiu, porque eu guardei por tempo demais, e eu tô assim, esquecendo que dia é hoje ou quando te vi pela última vez. Mas é isso que acontece mesmo: as pessoas se perdem nessas ruas que a gente acha que conhece, nas cidades distantes. A gente nem se olha mais. E, se olha, não enxerga mais nada além de um buraco vazio sem nenhuma lembrança boa para guardar.


"The trunk is filled with records
And books and tears and clothes..."

1 de abril de 2013

"wherever we go we make a sound..."

A vida tem disso de ser mais triste que feliz. A gente chora com a morte de conhecidos e até de desconhecidos que vimos na tv, e tenta viver os dias sem tropeçar em nenhuma brecha de calçada. Agora que minha folga acabou, tô percebendo que os meses passarem rápido demais enquanto eu me afogava no tédio e em milhões de pensamentos inúteis, cansativos, que não me fizeram crescer em nada. Pensei em como seria bom ter um pouquinho mais de amor no coração, por você, pelas pessoas que passam na rua e nem sequer notam que eu existo. Acontece que eu ainda não consegui descobrir o motivo de continuar apertando nessa mesma tecla, porque, querendo ou não, eu acabo regredindo em todos os sentidos. Eu gosto de você e de cada pedaço seu, mas é tão fácil deixar de gostar quando a gente tenta gostar mais e mais. E meu mundo tá meio que errado, torto, talvez girando para o lado oposto. Fica no teu canto que eu me escondo por aqui, deixando a gente para uma outra vida.

27 de março de 2013

Uma desculpa.

Ainda tô de ressaca depois de ter bebido todas aquelas cervejas e falado com desconhecidos que nunca vi na vida, sorrindo como se aquela fosse realmente eu. Claro que no outro dia eu iria esquecer metade do que fiz, e a dor de cabeça não me deixaria nem abrir os olhos direito. Esses dias estão chatos, tá frio e eu não consigo dormir uma noite sem pelo menos ter algum sonho ruim. Eu achei ser quase impossível conseguir me decepcionar duas vezes com o mesmo fato, mas acontece que é possível sim e aconteceu, quebrando meus braços, pernas e qualquer vontade de continuar cutucando essa ferida da gente, que já deveria ter cicatrizado há muito tempo e eu esqueci de deixar isso acontecer. Ou eu não quis. Não sei. Dizem por ai que é bom que a gente aprende, talvez dessa vez seja verdade. Até lá vou ficar tomando outras cervejas, e tentando dessa vez não abraçar tantos desconhecidos e não sorrir tão falsamente, e sem falar tanto quanto eu costumei falar e dizer todas aquelas coisas ridículas que eu sinto porque, cara, eu falo demais, eu sei, você nem precisa dizer. Foi a cerveja, maldita cerveja. 

20 de fevereiro de 2013

De deixar pra lá.

Tava aqui procurando alguns blogs e achei aquele que talvez tivesse algo escrito para mim. Ele escreveu, aquele cara lá, que se eu disser o nome ninguém vai conhecer. Mas eu conheço, e sei que tem algo para mim. Dai que minha mãe vez em quando lembra dele, e vez em quando também me pego procurando saber notícias, qualquer coisinha que me dê a certeza de que ele continua vivendo, sem mais se importar comigo, porque é isso que acontece quando a gente se afasta e se esquece e deixa pra lá. Eu o deixei pra lá, porque sem querer eu o usei. Às vezes tenho disso de usar as pessoas, mas eu juro que é sem querer. E eu tenho vontade de falar com ele, perguntar como anda a vida, se tá tudo bem, se ele decidiu seguir em frente, se achou alguma faculdade legal, se não vai largar dessa vez. Mas eu sei que vou tá cutucando ferida cicatrizada, e vou forçar algo que não vai para frente. Sei lá, me desculpa. Não sei se vai tá lendo isso ou se alguma vez já leu o que escrevi aqui. Tá chovendo esses dias por aqui, e por ai? Deve tá um céu tão bonito. Eu sinto saudade desse céu. E de chegar na janela procurando por você, pra depois voltar pra casa e, alguns dias depois, te esquecer. E te deixar pra lá.

17 de fevereiro de 2013

"Por isso a gente acabou."


É o nome de um livro que comecei a ler ontem. Ou antes de ontem, já nem lembro mais. É que é tão lindo, e triste, e fofo, do jeito que eu gosto. Não vou te contar a história porque eu não sei narrar ou explicar nada, acabo resumindo tudo e contando logo o final, tenho essa mania. Dai que eu já to terminando de ler, e eu não queria terminar de ler, porque eu não gosto de finais, nada que acaba. E eu lembro das mil coisas que acabaram na minha vida. Uma amizade ali, os amores que duraram uns dias, a faculdade que eu abandonei. E tudo que eu escrevo aqui. A gente tinha todas as razões do mundo para continuar e mais umas cem para não fazer isso, e ai que acabou. Hoje de manhã choveu muito, tava frio, acordei cedo mas sem querer levantar. Eu nem lembro da gente, de como era ou deixava de ser, mas têm horas que alguma frase que você disse vêm na cabeça e eu fico tentando empurrar pra algum lugar escondido, porque eu não quero lembrar, sabe? Nem faz sentido. Mas também não faz sentido acordar cedo em dia de chuva, não querer terminar um livro ou achar que a vida é legal demais pra não ter um fim.

15 de fevereiro de 2013

Quando falta o sono.

Tem umas olheiras gigantes no meu rosto e eu tô com sono, mas dai que não consigo dormir, porque não me acostumei a dormir antes das quatro da manhã, e acontece que eu fico acordada olhando pro escuro ao meu redor. Meu irmão terminou o namoro e eu não consigo saber se ele tá triste porque ele nunca foi de se expressar, ao contrário de mim, que gosto de gritar para os quatro cantos do mundo aquilo que me dói. Têm uns dois dias que não durmo direito, tô desregulada. Faltam cinco minutos para onze horas e eu tô deitada, mesmo sabendo que não vou conseguir tirar pelo menos um cochilo antes de madrugar de novo. Comecei a ler um livro novo, é legal, é bonito, do jeito que eu gosto. Tô tentando traçar umas metas para esse mês de férias que ainda me resta, mas enquanto houverem segunda-feiras no mundo nada vai mudar, não porque eu odeie as segundas-feiras, mas é que sempre dá vontade de adiar tudo quando elas chegam. "Deixa pra próxima semana", é o lema da minha vida. E eu tô nessa desde dezembro. Não comecei o trabalho que minha mãe pediu, os outros livros que eu tava lendo tão abandonados no criado-mudo, vez em quando passo a mão pra limpar a poeira, minha dieta deixou de ser dieta há muito tempo, e ainda não consegui terminar de baixar aquele filme. Acho que é isso, nunca vou terminar de fazer nada porque nunca começo a fazer. Domingo faço a prova de transferência de universidade, e a concorrência tá baixa, mas eu ainda tô com medo, porque eu vivo com medo de tudo mesmo. É que eu não sou de ter muita sorte, sabe? Mas eu tenho, dia-sim-dia-não acontece uma coisa legal. E eu tô triste por motivo nenhum, porque tenho dessas coisas de ficar triste quando não se tem nada melhor pra fazer. Talvez eu precisasse de um emprego, ou de ficar de castigo por uma semana, mas eu só tenho 19 anos, nenhuma faculdade e deixando toda a vida pra amanhã. 

29 de janeiro de 2013

"But you fit me better than my favourite sweater..."

Dizem que a vida não tá fácil, que tem gente se perdendo demais por ai, e eu sei disso e você sabe. Achei uma música legal e queria te mandar, mas eu lembro que você não escutaria, porque não é como era antes, e hoje em dia ninguém manda mais essas letras bonitas como indiretas, ou manda? Eu mando, mas você não entende, nem sabe que é pra você, mas é, viu? Como tudo que eu escrevo e que canto na hora do banho, ou aquele filme legal que passou na tv esses dias, mas nem adianta eu te falar, porque você vai dizer que vai assistir, e amanhã nem vai lembrar dessa conversa. Dai que dia desses eu te escrevi aqui mesmo, dizendo que não sentia nada, e hoje tô sentindo, e é por isso que não tá fácil, porque eu não sei mais me decidir e eu só queria acordar um diazinho tendo certeza do que quer que fosse, mas que fosse certo, só que nada é certo, porque todo dia tem um negócio diferente dentro do peito e um dia o coração pula forte, quando ouço nossas canções, e no outro dia ele prefere dormir e deixar tudo pro amanhã. E eu só fico adiando, enquanto não digo nada, porque se fosse fácil teria qualquer outra nome, menos isso que a gente chama de vida. 

27 de janeiro de 2013

sem título [3]

não sei o que colocar aqui porque tem tanta palavra saindo dos dedos que vai sair tudo confuso, mas eu só queria pedir desculpa. desculpa por não sentir nada. porque eu senti tanto e acabou, sumiu, evaporou. mas ai eu lembro que você não sente nada também, e eu continuo me desculpando, pra mim mesma, por ter deixado ir embora tudo aquilo que eu achava bonito mas que só era bonito na nossa cabeça. 

20 de janeiro de 2013

"Two lovers locked out of love."

Já tive coragem de falar mais, dessas coisas que a gente sente de coração, mas acontece que andei quebrando minhas pernas por ai, não eu, quero dizer, mas essa gente tanta. E ai que agora eu só consigo ficar olhando estranho, assustada, sem saber botar pra fora tudo aquilo que antes saia feito ar. É medo, menino! Porque eu não fico mais à vontade de sentar do teu lado e me sentir confortável, sei lá, sempre acabo balançando demais o pé, batendo com os dedos na mesa e olhando para aquelas pessoas que passam. Têm uns casais ali do lado e eu me sinto tímida, mas quando dou por mim tô encarando todos com uns olhos de "poxa, a gente bem que podia ser assim". Só que eu fico calada, sorrindo pra você sem saber o que você tá falando, mas continuo a sorrir, porque parece que é só isso que eu sei fazer, como se fosse um robô. Devo ter virado robô, depois de tantas pernas quebradas, mas o coração ainda bate, olha só, bota a orelha aqui e escuta. Ouviu? "É tudo besteira", você vai dizer, e a minha coragem de te falar as coisas bonitas vai embora, porque você acaba me deixando com preguiça, e a noite parece não passar, e eu só queria ir para casa.

19 de janeiro de 2013

sem título [2]

Eu poderia escrever só sobre sábados à noite, em que eu escuto música triste, como bolo de chocolate e assisto algum filme em que alguém vai morrer no final. Minha vida não é essa depressão toda, sabe? Com certeza eu dramatizo a maior parte, mas eu sei que tem gente na pior, como aquela moça que tava vendendo chaveirinho na lanchonete ontem. Mas nesse momento eu tô chorando ouvindo Flightless Bird, American Mouth porque eu gosto mesmo de derramar umas lágrimas num sábado parado e cheio de tédio. O que eu queria dizer é que enrolo demais escrevendo porque, na verdade, eu não sei o que escrever. Ou eu sei, mas não sei como, porque o que eu quero dizer nunca sai do jeito certo e eu fico confusa e acabo confundindo quem lê. E eu tô repetindo tudo, não é? Me desculpa. Nesse momento eu tô só procurando alguém pra conversar porque eu tô sem ninguém, sabe? A gente é rodeado de todo mundo, mas todo mundo parece não querer escutar. E eu nem consigo falar mesmo, porque eu só consigo digitar rápido e deixar sair tudo confuso e louco porque eu acho que sou louca e até tô esquecendo as vírgulas. Acho que tô nervosa, deve ser por isso que essas lágrimas tão caindo, mas eu tô limpando pra disfarçar, porque se meu irmão ver vai me chamar de estranha mais uma vez ou de anormal, e eu sei que não sou nem um nem outro. A música tá tocando pela sétima vez e eu continuo procurando alguém legal pra conversar, mas acho que ninguém quer me ler. Ou me ouvir. Ou me olhar por uns minutinhos enquanto eu choro porque eu tô precisando falar, mas eu não quero falar, eu só queria um abracinho qualquer, um afago na cabeça e um sorrisinho engraçado me mandando deixar de ser louca. Mas eu acho que só vou ficar lendo textos tristes, ouvindo músicas tristes e sem ninguém pra conversar. 

15 de janeiro de 2013

sem título [1]

A chuva era forte e eu mal podia ouvir o barulho porque estava trancada no quarto. Só conseguia olhar pro teto e imaginar o céu azul escuro desabando, sem nuvens, sem estrelas. Eu queria ficar ali pro resto da minha vida porque eu sabia que, lá fora, as pessoas não são tão fáceis quanto pingos de água. Eu sei que a gente não tá sabendo agir diante um do outro, e parece como era antes, mas nem é. É tanta pergunta pra fazer e me falta coragem até de abrir a boca. Queria mesmo era te ver responder tudo num só sorriso, sem que eu precise me esforçar pra explicar toda a loucura que passa na minha cabeça, sem que eu precise te mostrar o quanto eu pareço psicopata, mas no fundo eu sou boa pessoa, sou até calma. Vem cá, senta aqui no chão gelado comigo, cobre esse pés com o lençol quentinho e escuta a chuva cair. Parece música, não é?

7 de janeiro de 2013

"Well, you only need the light when it’s burning low."

Me mandam trocar o disco, mas é difícil, sabe? É como aquela calça de um pijama antigo meu, que ganhei quando tinha 11 anos, e eu tinha até um dia desses, dai soube pelo meu irmão que minha mãe a picou em pedacinhos, só pra me livrar dela. Eu fiquei triste, muito triste. Poxa, mãe, era minha calça preferida! Acontece que eu acho que ela só guardou em algum canto muito escondido, mas talvez isso seja meu coração querendo ter esperanças. É como a vida, não é? A gente sabe que tá fazendo errado, e que vai dar errado de novo, mas pra que andar pra frente se eu posso continuar voltando pra mesma direção? Gosto de cutucar a ferida com alicate de unha, pra sentir aquela dorzinha gostosa, que a gente quer que passe, mas não quer que vá embora. "Mas troca o disco!" Como trocar a porra do disco se todos os outros discos estão arranhados? Pra falar a verdade, nem existem mais discos! Me chamem de masoquista ou qualquer coisa, porque eu parei de me importar, porque eu perdi o rumo das coisas há muito tempo atrás, porque eu tenho 19 anos e acho que a vida tá perdida, e minha mãe ainda diz que não sou mais adolescente. Only hate the road when you’re missin’ home, only know your love him when you’ve let him go... (me perdoem, mas eu mudei a letra da música um pouquinho porque fazia mais sentido)