21 de dezembro de 2016

"Until you come back home."

Eu queria vomitar. Meu estômago embrulhava. Minha compulsão por comer tentava substituir toda aquela vontade que eu tinha de chorar. Talvez, se eu botasse o dedo na garganta, limparia tudo. Eu precisava que limpasse. Eu precisava botar pra fora essa ansiedade horrorosa que me faz roer as unhas e querer vomitar. Eu sofro com antecedência. Nesse caso, um mês de antecedência. Eu nem sei o que pode acontecer. Eu boto na cabeça que eu consigo viver sem ele. Que eu consigo gostar mais de mim porque eu sobrevivi tempo demais sozinha. Sozinha e preenchendo os buracos com quem não me servia de nada. Eu lembro de todo o pesadelo que foi crescer e amadurecer e perceber que eu poderia seguir em frente. Lembro das noites de pesadelos, das idas para as festas e dos porres que eu tive que tomar pra apagar minha mente. Eu pareço tão louca assim. Desequilibrada eu sou. Porque me dá vontade de arrancar minha pele e de gritar pela rua. Qual é a porra do meu problema? Por que é tão difícil ser eu sem ele? O mundo devia acabar. Eu devia desistir e vegetar. Eu odeio tanto, tanto, tanto isso de não ser a gente. Odeio sentir mais. Odeio gostar mais. Odeio querer mais do que eu posso ter. E eu já tô pensando nas soluções dos problemas que ainda nem tive e nem sei se vou ter, mas já espero. Já penso nas cervejas, em passar mal nas calçadas, nas mensagens que não vou enviar, nos gritos que não vou dar e na raiva que não vou ter. De novo eu vou ser sozinha. E dessa vez eu não vou esperar mais. Dessa vez eu não vou pedir a Deus e ao universo outra chance pra fazer dar certo. Eu não quero isso. Eu não quero nenhum segundo desse estômago fodido e dessa vontade de chorar feito criança. Eu não sou isso. Mas continuo não sendo eu sem ele.

17 de dezembro de 2016

"You give me something to die for."

Me batia um desespero sentir que tudo tava dando certo porque, em se tratando de minha vida, aquilo que dá certo fica chato e sem graça e eu não quero mais. Eu ficava meio atordoada com a ideia de ser adulta, de ganhar salário, de pagar os cartões de crédito e ainda ter que fazer uma poupança (poupança essa que já foi pro brejo. Desculpa, pai). Cada manhã, ao levantar da cama, ao olhar para o teto do quarto vazio, eu pedia para estar fazendo o certo. Que isso seja o certo. Que seguir em frente todos os dias, ter responsabilidades, dormir antes de meia-noite, adiar as leituras e as séries, inventar desculpa para não sair nos fins de semana, tomar cinco cervejas e passar mal feito uma senhorinha de 23 anos seja o que é pra ser. "No meu tempo". Tanta coisa no seu tempo. Mas eu tô vivendo hoje. E continuo sem saber se tô vivendo a vida que quero porque minha cabeça não funciona como a de todo mundo. Ou a cabeça de ninguém funciona e eu só me acho diferente porque não tenho essas conversas com ninguém. Nem quero ter. Porque eu gosto de me sentir diferente pelo menos nesse quesito. Porque eu não aguento dizer que tô com dor na unha e uma pessoa retrucar com dor na unha, dor na sobrancelha e dor na língua. Minha vida não é ruim. Tá tudo no exato lugar e é isso que me deixa doida. O mundo lá fora continua funcionando, enquanto meu cérebro insiste em bater na mesma tecla de que se o resto tá certo, a vida tá errada. E aí eu estrago tudo de novo.

1 de dezembro de 2016

"I'm dancing on my grave, I'm running through the fire."

2016. Foi o ano em que eu me formei em Jornalismo e tirei as fotos da formatura (que, até hoje, nunca vi prontas). Foi o ano em que, sim, recebei meu diploma e resolvi começar outro curso. Foi o ano em que passei em primeiro lugar em Direito depois de engolir um livro de História Geral e do Brasil todinho. Foi o ano em que consegui meu primeiro emprego, que na verdade são dois empregos, e quase os perdi para um terceiro emprego (confuso, eu sei). Foi o ano em que comecei a trabalhar na escola em que estudei a vida toda e, acreditem, nunca achei que fosse capaz de gostar de ser "a jornalista", "a menina do som", "tia" - eu amei. Foi o ano em que dormi pouco, chorei quase nada e assisti a poucos filmes. Foi o ano em que tive uma crise existencial e de choro antes de tirar a foto para a carteirinha da faculdade. Foi o ano em que resolvi que tinha que pagar pelo menos boa parte das minhas compras e meu pai se realizou por se livrar dos meus cartões de crédito. Foi o ano em que minha vó veio morar com a gente. Foi o ano em que mainha decidiu que a gente vai mudar de casa sim. Foi o ano em que eu trabalhei e estudei feito condenada e consegui tirar notas boas. Foi o ano em que eu continue perdidinha, mas continuei tentando. E continuo. Foi o ano em que descobri a minha capacidade de aguentar bem mais do que as pessoas acham que consigo. Foi o ano em que eu não consegui encher minha poupança (isso não é novo). Foi o ano em que fui para um show e passei mais de 12 horas repetindo que nunca mais passaria o dia em uma fila de novo. Foi o ano em que perdi uns amigos, ganhei muitos. Foi o ano em que sonhei e planejei e decidi seguir em frente. Foi o ano que também pisei no meu próprio pé e mordi a língua um bocadinho de vezes. Foi o ano em aprendi a ser eu, a gostar mais de mim, a valorizar o que eu penso e quem sou. 2016. Foi alegre, foi triste, foi sorriso e lágrima, foi vontade de arrancar os cabelos e vontade de bater palmas para o sol. Foi viver e sobreviver e querer continuar indo.