Eu queria vomitar. Meu estômago embrulhava. Minha compulsão por comer tentava substituir toda aquela vontade que eu tinha de chorar. Talvez, se eu botasse o dedo na garganta, limparia tudo. Eu precisava que limpasse. Eu precisava botar pra fora essa ansiedade horrorosa que me faz roer as unhas e querer vomitar. Eu sofro com antecedência. Nesse caso, um mês de antecedência. Eu nem sei o que pode acontecer. Eu boto na cabeça que eu consigo viver sem ele. Que eu consigo gostar mais de mim porque eu sobrevivi tempo demais sozinha. Sozinha e preenchendo os buracos com quem não me servia de nada. Eu lembro de todo o pesadelo que foi crescer e amadurecer e perceber que eu poderia seguir em frente. Lembro das noites de pesadelos, das idas para as festas e dos porres que eu tive que tomar pra apagar minha mente. Eu pareço tão louca assim. Desequilibrada eu sou. Porque me dá vontade de arrancar minha pele e de gritar pela rua. Qual é a porra do meu problema? Por que é tão difícil ser eu sem ele? O mundo devia acabar. Eu devia desistir e vegetar. Eu odeio tanto, tanto, tanto isso de não ser a gente. Odeio sentir mais. Odeio gostar mais. Odeio querer mais do que eu posso ter. E eu já tô pensando nas soluções dos problemas que ainda nem tive e nem sei se vou ter, mas já espero. Já penso nas cervejas, em passar mal nas calçadas, nas mensagens que não vou enviar, nos gritos que não vou dar e na raiva que não vou ter. De novo eu vou ser sozinha. E dessa vez eu não vou esperar mais. Dessa vez eu não vou pedir a Deus e ao universo outra chance pra fazer dar certo. Eu não quero isso. Eu não quero nenhum segundo desse estômago fodido e dessa vontade de chorar feito criança. Eu não sou isso. Mas continuo não sendo eu sem ele.
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