29 de agosto de 2019

"They own this town, maybe that’s why we get no ground."

Eu achava que, quando dormisse, ia passar. Por um bom tempo eu consegui escapar assim. Depois de velha deu certo, acho. Mas viver na minha cabeça era um inferno. E não tinha como fazer aquilo sumir a longo prazo. Eu não sou boa, isso é um fato. Eu acho que não sou muitas coisas. Eu sou boa em uma: em não ser. O mérito dos outros era luz. O meu passava despercebido. Porque eu não chamava atenção, apesar de todas as tentativas. Apesar de calcular até a forma que eu ando, que eu pisco, que eu mexo no cabelo enquanto desço a rua pra pegar o ônibus. O tempo todo tentando não pensar e pensando porque era tudo um inferno. Eu lembro de ouvir dizer que, pelo fato de conseguir tudo sozinha, eu não era uma preocupação. Mas desde quando? Começou com uma tampa de caneta. Não ia muito fundo, mas rasgava bem. Foi uma fase ruim, mas meio que dura até hoje. Nas minhas tentativas doentias de dizer "ei, olha aqui pra mim!" eu acabava fazendo demais e enjoando de tudo. Até do que eu mais gostava. E acabava sem gostar de nada. Tem dias que sim, tem dias que não. Tem dias que eu vou bem. Tem dias que o oco fica maior.

18 de agosto de 2019

"Who could ever leave me, darling? But who could stay?"

É muita estranha a sensação de respirar pelos outros. É como se meu corpo estivesse presente e minha consciência estivesse bem longe - mas não tão longe quanto eu gostaria de estar com ela. É uma eterna sensação de taquicardia sem a parte do descanse em paz. Eu não descanso. Mas eu parei de reclamar. Eu guardo meu choro porque é menos exaustivo do que ter que explicar para o mundo o que eu vivo em mim. É também um sentimento de mal agradecimento. Eu me sinto obrigada a agradecer o tempo todo. Eu, quem mais reclamava de tudo. Eu observo. E não me encaixo. Por que eu nunca me encaixo, mesmo depois de tanto tempo? Sorrir, acenar, concordar, me desculpar. Eu me desculpo por existir e por não conseguir parar. Me pergunto se a terapia ainda faria efeito. A voz dela em minha cabeça dizendo que eu não preciso de nada disso fica ecoando de tempos em tempos, mas consigo fugir. E me peço desculpas por isso. Pelo menos por uma vez, eu peço desculpas a mim mesma por continuar sendo tudo que eu nunca quis ser.

13 de novembro de 2018

"Well, I deserve nothing more than I get 'cause nothing I have is truly mine."

A parte ruim de ser um ombro para as pessoas é que você nunca vai passar disso. Você nunca vai ser além de um suporte emocional e um espaço confortável para reclamar daquilo que a vida tem de vida. Elas vivem suficientemente ocupadas com qualquer distração do universo para pararem um segundo e olharem realmente para você. Se você começar a falar, elas vão te observar com cara de pensamento profundo, mas, não, elas não estão prestando 1% de atenção no que você tem para dizer. O mundo delas pode acabar, mas você vai segurá-las e consolá-las da melhor forma que aprendeu. O seu mundo pode acabar, mas amanhã nasce outro. É triste e ao mesmo tempo tão óbvio, tão claro, porque ninguém vai te dar em troca algo por aquilo que você oferece sem pestanejar. Mas você pode fazer o seu melhor e ou fugir do que te afunda ou seguir andando de ré. Eu acho que ainda tô no meio do caminho, meio sem saber para qual lado a corda tá pesando mais, meio sem saber porquê. 

23 de setembro de 2018

"One more time with feeling."

Se eu assoprasse a tela, talvez saísse um pouco de poeira do tempo que deixei de escrever aqui. Minha cabeça vazia se tornou a oficina do diabo quando eu sou meu próprio diabo. Eu não queria dormir, nunca, porque enquanto eu tentava, insistia em entender minha participação no universo ao meu redor e não encontrava resposta. Não encontrava nada. Não encontrava um significado de porque eu continuo aqui. Na maioria das vezes, eu me sinto inútil. Nelas, eu ainda me sinto pequena demais. Talvez meus pais não perguntem onde foi que eles erraram comigo, mas todo dia me questiono onde foi que eu errei em ser. Se eu ficasse mais um tempo, talvez eu descobrisse. Mas acho que não. É um eterno quebra-cabeças de mil peças em que eu virei aquela que sobra. 

23 de maio de 2018

"But there's another heart eating me, and it's mine."

Não sei muito bem o que vim fazer aqui. Tem momentos que eu passo horas encarando minhas mãos como se elas fossem conseguir expressar o que se passa em minha cabeça. Tem momentos que eu só queria conseguir falar, mas eu não acho que sei me explicar muito bem. Não é culpa de ninguém, é claro. A sensação de que eu me afogo permanentemente. Em alguns dias, eu tento flutuar e pensar que, talvez, com um pouquinho de mais esforço, eu consigo. Em outros, me puxo para baixo e só quero ficar ali. Acho que, de toda forma, eu não sei exatamente onde me encontro e em que ponto a gente vai finalmente dizer que tá tudo bem. Se eu escrevesse as coisas que eu penso, se talvez eu fizesse o que eu realmente quero, se só uma vez eu pensasse em mim. Mas eu não faço isso. É mais fácil continuar afundando.