29 de agosto de 2019

"They own this town, maybe that’s why we get no ground."

Eu achava que, quando dormisse, ia passar. Por um bom tempo eu consegui escapar assim. Depois de velha deu certo, acho. Mas viver na minha cabeça era um inferno. E não tinha como fazer aquilo sumir a longo prazo. Eu não sou boa, isso é um fato. Eu acho que não sou muitas coisas. Eu sou boa em uma: em não ser. O mérito dos outros era luz. O meu passava despercebido. Porque eu não chamava atenção, apesar de todas as tentativas. Apesar de calcular até a forma que eu ando, que eu pisco, que eu mexo no cabelo enquanto desço a rua pra pegar o ônibus. O tempo todo tentando não pensar e pensando porque era tudo um inferno. Eu lembro de ouvir dizer que, pelo fato de conseguir tudo sozinha, eu não era uma preocupação. Mas desde quando? Começou com uma tampa de caneta. Não ia muito fundo, mas rasgava bem. Foi uma fase ruim, mas meio que dura até hoje. Nas minhas tentativas doentias de dizer "ei, olha aqui pra mim!" eu acabava fazendo demais e enjoando de tudo. Até do que eu mais gostava. E acabava sem gostar de nada. Tem dias que sim, tem dias que não. Tem dias que eu vou bem. Tem dias que o oco fica maior.

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