19 de fevereiro de 2018

“E no final, assim calado, eu sei que vou ser coroado rei de mim.”

Eu não queria que chovesse. Minha vontade era de morar na chuva, mas, ainda assim, eu não queria que chovesse. Quando os pingos caem a gente dramatiza em excesso a vontade de chorar e de achar que tudo é um filme. Ai, amor, bem que fosse, mas não é. Quando chove, a sandália estraga, o cabelo fica apontando para todos os lados, os óculos mancham e a roupa começa a feder a mofo. Lá fora, tudo verde. Aqui dentro - de mim - um deserto que nem toda a água do mundo pode fazer florir. Ultimamente, a coisa que eu mais escuto é como eu sou decepcionante. Que eu não faço mais do que minha obrigação. E ai eu me pergunto e te pergunto: que obrigação? Adivinhe só: viver. A gente não tem direito de escolha e aquele processo da vida das plantas que estudamos na escola serve para a gente também: nasce, cresce, supostamente reproduz e morre. Talvez eu tenha esquecido de crescer e talvez eu só esteja andando para lá e para cá esperando a hora da dita cuja - essa que a gente morre de medo de falar. Eu nasci, fui criada do melhor jeito, mas parece que a rebeldia, quando não é de sangue, vem com gosto de gás. Não sei quando passei a exigir demais de mim e quando esqueci que não preciso ser o que eles esperam que eu seja. Não é um contrato de compra e venda. É pai e mãe que bota o filho no mundo de graça e a gente acha que tem que pagar isso de alguma forma. Ei, eu nem pedi para estar aqui. “Ingrata!”. Mas virei gente. Virei um oceano inteiro de vendavais que enchem minha cabeça. Não tem água, só tem areia. Mas eu insisto em dizer que eu e você, a gente se encontra. Se perder no caminho não é pecado nem maldição, é ser humano. E dure o tempo que for, porque se tem começo e tem meio, também tem um fim.

15 de fevereiro de 2018

"They would not listen, they're not listening still. Perhaps they never will."

Eu gosto de escrever aqui sabendo que ninguém vai ler. Que as pessoas sobre as quais escrevo provavelmente nunca sequer cogitaram a ideia de que eu tenho um espaço só meu há oito anos só para escrever as milhões de coisas que eu não consigo dizer - tirando meu namorado, é claro. De todo jeito, me alivia poder chorar um bocadinho sem medo de alguém abrir a porta do quarto de uma vez. Aqui só tem uma porta e quase nunca é aberta. Existem dias ruins e dias não tão ruins que eu consigo sobreviver quase que forçada. Ultimamente, quase todos são ruins e quase todos me fazem querer ficar escondida o tempo todo. Mas, se tem uma coisa que eu sou péssima é em me esconder. E esconder cada dorzinha que eu sinto quando pisam no meu pé, e eu falo isso de forma figurada e não literal. Na verdade, meu amor pelo mundo é gigante. E eu odiei chegar a essa conclusão porque eu não vou conseguir fugir ou escapar. Não existem colinas para correr, nem remédios que me façam dormir o suficiente. Eu não tenho a quem agradecer. Nem a quem odiar. E quer saber de um segredo? Foi quando eu enchi meu peito de amor que eu não consegui mais respirar. 

"For they could not love you
But still your love was true
And when no hope was left in sight
On that starry, starry night (...)"

8 de fevereiro de 2018

"What doesn't destroy you, leaves you broken instead."

Na maioria das vezes, eu queria me desculpar. Só que quando eu resolvia parar para entender, eu não sabia exatamente por qual motivo deveria pedir desculpas. Ou a quem. Minha terapeuta diria que a ninguém. Que eu não tenho obrigação nenhuma. Mas meu eterno senso de culpa diria que a qualquer ser humano que passasse por mim na rua. Ao velhinho que hoje achei que estava me ajudando a estacionar o carro, mas, quando fui agradecer, me deu uns gritos. Aos meus pais, por ser quem eu sou. Não acredito que eu seja um fardo, mas talvez eu seja aquela pedra no sapato que eles tentam chutar para fora e, ainda assim, continua grudada ali. Que inferno. Aos meus contáveis amigos, por nunca estar disposta. As coisas andam bem esquisitas. Parece que eu voltei a ter treze anos e só sinto aquela vontade de procurar objetos afiados e cortantes em qualquer lugar. Na verdade, eu aprendi que qualquer objeto pode se tornar afiado e cortante quando você precisa. A parte ruim é nunca saber do que eu preciso. Mas acho que, quando não se tem alguém semanalmente, com horário definido, para dizer repetidas vezes que você é forte e que tá tudo bem e que você vai ficar bem e que todo mundo tem problemas, o mundo vira de cabeça para baixo e você só quer gritar e chorar e perguntar porquê. Pelo menos posso me desculpar com você, por ter vindo até aqui perder cinco minutos da sua vida lendo todas essas baboseiras tristes que escrevo. Às vezes, eu só preciso disso.