10 de maio de 2017

“There is a saying in the Neverland that every time you breathe, a grown-up dies.”

Eu já tinha me acostumado a acordar cedo. Não sabia fazer café, então me virava com o que tinha. Na verdade, eu não sabia fazer nada. Às segundas, tomava dois remédios antes de sair para o trabalho. E eu só tinha 23 anos. O que me dava um pânico de morrer cedo. Ou de envelhecer. Viver em minha mente era nunca entender o que eu queria. Levantar da cama todos os dias exigia um esforço que não superava meu cansaço. Mas eu precisava tentar. Hoje esperei quarenta minutos para ser atendida em uma clínica. Mais uma vez, resolvi que ia cuidar da saúde que eu já não tinha. Eu sempre dizia que ia entrar numa dieta porque meu estômago, a qualquer momento, iria parar. Mas eu não conseguia. Não conseguia me comprometer com nada que me fizesse melhorar ou ir para a frente. A cada cinco minutos entrava um idoso pela porta. E eu pensava tanto se eu iria chegar até ali. Como alguém consegue viver uma vida toda? É muito tempo. É muita história para contar e eu não me imaginava tendo tanta história assim. Eu não me imaginava tendo nada. Porque o que eu fazia, todos os dias, era tentar sobreviver à ideia de que eu precisava sobreviver e viver. E eu só queria chorar porque Deus bota a gente no mundo para acordar cedo, trabalhar e querer desistir sem poder. E se, quando criança, me dissessem que eu ia pensar tudo isso, eu negaria. Negaria porque mente de criança é sonhadora. E às vezes acho que continuo sonhando só para ver se, alguma vez, vai dar certo. Se eu não acreditar, finjo que acredito e vou. Porque parar deixou de ser uma opção. Mas algum dia eu vou.

All children, except one, grow up. They soon know that they will grow up, and the way Wendy knew was this. One day when she was two years old she was playing in a garden, and she plucked another flower and ran with it to her mother. I suppose she must have looked rather delightful, for Mrs Darling put her hand to her heart and cried, ‘Oh, why can’t you remain like this for ever!’ This was all that passed between them on the subject, but henceforth Wendy knew that she must grow up. You always know after you are two. Two is the beginning of the end.” 

― J.M. Barrie, Peter Pan

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