11 de agosto de 2017

"Icarus."

Eu odiava dirigir. Eu não tinha vontade de soltar o acelerador quando o sinal fechava. E eu me perguntava quase sempre como seria soltar a direção. Quando a luz do sol clareava o quarto, eu tinha vontade de nunca abrir meus olhos. Eu queria dormir mais tempo do que era socialmente permitido. Eu podia ouvir as brigas de longe. Podia ouvir também os passarinhos cantando e aquilo me irritava além do que deveria. Eram passarinhos. Eram sons supostamente terapêuticos e calmantes. Mas não para mim. Não quando eu tinha que tomar banho gelado, queimar meu café da manhã, fazer qualquer coisa no cabelo e desistir de cobrir minhas olheiras. Eu odiava dirigir porque eu tinha medo de não ir no caminho certo. De virar em qualquer rua e acabar em qualquer lugar que só fosse longe. Longe de casa. Longe do barulho. Longe da ideia de que viver se resumia àquilo que eu tinha. Se eu chorasse no trabalho, ninguém veria. Se eu gritasse no meio da rua, o mundo passaria reto por mim. As pessoas só vão. E eu fico. 

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