7 de janeiro de 2011

Sonhos e vontades.

Tínhamos nos encontrado algumas vezes, em alguns lugares. Eu não acreditava muito em destino, até que pela terceira vez que nos vimos, ele esbarrou em mim, por querer, penso eu, e riu. Eu dei um meio sorriso, afinal, ele ainda era um estranho. Chamou-me para tomar um café perto dali, e eu, não sei por qual motivo, aceitei. Me contou que trabalhava no setor administrativo de uma empresa, que não convém escrever aqui tais detalhes, e que ganhava um bom dinheiro para sustentar a si mesmo. Não tinha namorada, morava só em um apartamento não muito longe de onde estávamos, tinha um cachorro, e etc. Começou a perguntar sobre mim, e eu mal tinha percebido isso. Ficou me olhando e sorriu, e novamente perguntou. "Calma, estou pensando." Eu respondi, pois eu realmente estava pensando em algo a dizer, e fiquei alguns minutos com o café na mão, olhando para o céu, e pensando. "Hmm, faço faculdade de Letras, já estou no último ano, e quero ser escritora. Eu sei, clichê, não é? Mas acho que escrever não é para qualquer um. Não é pegar um caderno e começar a escrever coisas difíceis, que só poucos entenderão. Eu gosto de pegar as coisas simples e transformá-las em mágica, em diferentes. Posso escrever uma história deliciosa só com essa nossa conversa. Mas as pessoas não valorizam mais os livros, nem a escrita. Talvez um dia eu mude isso, quem sabe?" E ri. Eu era tão comum dizendo aquelas coisas de adolescente-quase-adulta. Conversamos mais um pouco e dei meu telefone à ele, para que saíssemos depois. Dois dias após nossa conversa, ele me ligou. Eu me ocupava demais com a faculdade que acabava esquecendo das pessoas. Saímos para jantar e acabei me empolgando com o álcool. Lembro de tudo que eu fiz, e gostei. Rimos e conversamos durante horas no restaurante luxuoso que ele havia me levado. Apesar de gostar de coisas delicadas e simples, eu gostava de pessoas diversas, com opiniões diversas, em lugares diversos. Eu me encantava por tudo, e a cada lugar que eu ia, a cada pessoa que eu via, a cada ato que eu presenciava, a cada conversa que eu ouvia, eu fazia uma história dentro da minha cabeça, e ria, ria, e ria, porque aquelas pessoas tão comuns e tão diferentes jamais imaginariam que eu poderia entrar na vida delas e inventar coisas, e imaginar, imaginar como elas eram, e como seriam se eu fosse descrevê-las. Fomos para o meu apartamento e o convidei para beber algo e me fazer companhia. Naquela noite eu tinha exagerado na roupa, talvez de propósito, e usei um vestido preto, não muito colado, mas para definir o meu corpo magro, e uma sandália que combinava com o meu cabelo. Vermelha. Eu já estava um pouco além da conta, e como bebi demais, fiquei feliz demais. Sempre que me excedo fico rindo à toa. Tirei meu salto e sentei no sofá, ao lado dele, conversamos, e não sei em que exato momento aconteceu, mas eu estava dormindo em seu colo, quando senti algo molhando meus lábios. Era um beijo. Abri os olhos preguiçosa e o vi. Tão sedutor, com a cabeça abaixada perto de mim, quase que para me beijar novamente. Eu acho que sempre fui assim: no começo, não consigo ser totalmente eu, me solto aos poucos. Eu não poderia resistir, certo? Talvez ele estivesse esperando que eu gritasse ou lhe desse um tapa na cara, mas não fiz nada disso. Olhei-o por um minuto e puxei sua boca de volta para mim. Eu adorava experimentar as coisas, para as minhas histórias futuras. Nunca dormi com muitos homens, namorei com poucos, como eu disse, não tinha muito tempo para além da minha faculdade e dos meus escritos. Deitamos no chão e fizemos o que qualquer homem e mulher fariam depois de um jantar, bêbados, e felizes. A noite demorou a passar, e não poderia ter acontecido melhor. Quando ele dormiu, fui para a varanda, escrever o que tinha acontecido. Sabe, existem amores e amores. Você pode amar um homem só depois que dormir com ele. Você pode amá-lo antes disso. No meu caso, nenhuma das duas opções haviam acontecido. Quero dizer, a primeira pode vir a manisfestar-se ainda, quem sabe? Mas o que eu realmente amava era experimentar as vidas, sim, são tantas vidas, tantos sabores, eu não poderia desperdiçar isso.

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