10 de setembro de 2012

Dois.

Eu estava lendo um livro quando a porta bateu e você chegou. Cansado. Na verdade, exausto. A secretária nova do escritório passava o dia cantando, e ela tinha uma voz fina, te deixava com dor de cabeça. Fiz um café, mesmo sabendo que você odeia quando me meto a fazer qualquer coisa na cozinha. "Te falta o dom", você diz. Enquanto você jogava o café no ralo da pia (fiz com carinho, eu juro!) e falava sobre mais-um-dia-comum, me esparramei no sofá e peguei uma revista, fingindo ler qualquer coisa ali. "Você nunca me ouve", e faz uma cara de menino birrento, de criança que bate o pé quando pede algo a mãe e ela simplesmente continua a conversar com a amiga tagarela. Você era todo lindo: desde o cabelo meio crescido e bagunçado até o dedo do pé. Eu te gostava por inteiro, nenhum defeito sequer. Você sentou no sofá e colocou minhas pernas por cima das suas. E ficou ali, meio que cochilando, meio que olhando para o céu que pintava a varanda. Te puxei para mais perto e beijei cada pedaço do teu rosto: nariz, olhos, bochechas... É sexta-feira. Alguns casais saem com os amigos. Alguns casais saem e se divertem por ai como se o mundo fosse acabar. A gente fica aqui, deitado, encolhidos num sofá de dois lugares. Você cozinharia ou pediríamos comida? "Não sinto fome nem sede com você." E eu poderia ficar te olhando sorrir para mim a noite toda, o tempo todo, a vida toda. Mas a vida toda ainda é pouco tempo para nós.

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