15 de setembro de 2012

Uma canção.

Senta aqui, deixa eu te contar uma coisa: era difícil, sabe? Ficar longe, ter sonhos bonitos e acordar. Eu ficava mais tempo dormindo e pensando como minha cama seria o lugar ideal para passar o resto da vida. Ai eu te ouvi cantar. Não cantar, exatamente. Era um tipo de assobio. Um assobio feliz, cheio de alegria que, enquanto eu ouvia, automaticamente um sorriso me apareceu. Eu sei que dá vontade de jogar tudo para o alto e se esconder debaixo da cama. Penso nisso principalmente quando aparece alguma barata aqui. Sim, uma barata! Corro para a cozinha e caio no choro. Aquele monstro que não se move e me encara. Me arrepio dos pés à cabeça, procuro um vizinho bondoso para me livrar daquele tormento, mas todos estão ocupados demais vivendo suas vidas. E eu sem conseguir matar uma barata! Rezo, faço promessa, pego o veneno e digo que terei coragem para matá-la, mas não tenho. "Não quero mais morar aqui", digo entre lágrimas. Normalmente levo de quarenta minutos a uma hora para me livrar daquela coisa. E por causa de uma barata eu já quis sumir do mundo! De vez em quando junta tudo, eu sei: uma barata, um grito da vizinha, a água que acaba do nada, o porteiro que não vem nos fins de semana... E vem saudade, falta de companhia, o cheiro bom que ficou no lençol. Mas ai eu lembro que te ouvi assobiar calmamente, sem preocupação, fazendo um ovo mexido para o café-da-manhã. Uma música desconhecida, talvez criação sua, talvez obra do momento. O que eu quero dizer é que em um momento ou em outro eu vou puxar meus cabelos e dizer que a vida tá uma merda. Eu faço isso, sempre. Mas quero te pedir para continuar assobiando por ai, despercebido por uns, encantando outros, e fazendo sorrir o mundo.

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