17 de outubro de 2012

De casa para casa.

A fila do check-in estava enorme. Gente de tantos lugares, tantos sotaques, tantos mundos. Eu estava começando a ficar assustada, não tinha dado tempo de matar toda a saudade e ela já estava ali, voltando pro lugarzinho exclusivo dela no meu peito. Meu irmão não quis ir me deixar no aeroporto, preferiu ficar em casa com a namorada. Namorada, poxa, quem diria?! Eu nunca imaginei que teria que dividir o tempo dele com outra pessoa. "As pessoas crescem", eu pensei, enquanto ele me dava um beijo no rosto e gritava tchau como se significasse até logo. O voo não foi tranquilo. Sentei próxima a saída de emergência e a aeromoça me deu um papel, e nele dizia que, ao sentar naquela poltrona, eu estaria me responsabilizando em ajudar todas as pessoas ali presentes, caso acontecesse alguma tragédia (ok, não foram exatamente essas palavras). "Eu? Responsável por aquelas vidas? Mas eu nem conseguiria me salvar, imagina salvar os outros!", falei com meus botões, nervosa, balançando as pernas e olhando para as pessoas ao meu redor. Me segurei forte, e esperei o avião decolar. O homem sentado ao meu lado paquerava a aeromoça, e eu estava ficando constrangida. Quarenta minutos que mais pareceram quarenta dias. Quando cheguei em casa fiquei alguns minutos olhando para a porta, imaginando o que me esperaria por trás dela: nada. Vazio, eco, silêncio. As lágrimas começaram a escorrer, como se tivessem vida própria. É triste, sabe? Eu sentia tudo em mim querer desmoronar, sentar ali no chão e, sei lá, esperar alguma coisa interessante. O mundo parecia estar dormindo, as pessoas haviam desaparecido. Nem os grilos faziam algum barulho. A gente nasce só e cresce junto, e se acostuma com as presenças, com as vozes. De longe, posso sentir o cheiro do perfume da minha mãe, posso até ouvir minha vó contando as mesmas piadas e todo mundo rindo. De longe, posso ouvir meu pai cantando Queen como se o mundo fosse acabar. Eles me deixam e a saudade fica, feito passarinho novo que não desgruda da mãe.

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