14 de novembro de 2012

"Você me faz parecer menos só, menos sozinho."

Tudo ficara pequeno diante da imensidão daquele céu azul. O sol tentava queimar todos os seus neurônios e o vento a carregava para os lados, como se ela fosse pena, leve e solta, folha de primavera. Ia encontrar o grande amor da sua vida naquele barzinho da esquina, de um amigo de um primo. "Você vai gostar, tem música boa e conversa maneira", seu primo dissera. Quem fala "conversa maneira" hoje em dia? Família é um negócio que ninguém entende. Não sabia o que vestir, os sapatos seriam simples demais? Que tal o vestido tubinho preto, discreto, mas que a faria parecer uma mulher? Sua mãe sempre dissera que aquele rostinho de menina nunca a faria crescer na vida, que seria difícil conseguir o respeito das pessoas, e jamais conseguiria um namorado. "Agora eu tenho o amor da minha vida, mamãe", ligara para ela no dia anterior, contando como havia conseguido o que sempre sonhou. Tomou um banho, escovou os cabelos pretos e longos, brilhantes. Nunca fora boa em usar maquiagem, envelhecia demais e a deixava parecendo alguém de outro planeta. Um pouco de batom e um colar que não chamasse a atenção. Tudo nela era calmo, discreto, escondido. O mundo era uma grande festa e era aquela garota que ficava escondida no box do banheiro, rezando para todo o barulho acabar e ela poder ir para casa. Escolheu os sapatos mais bonitos, pretos também, sem brilho. Já estava atrasada quando ligou para o táxi, trancou a porta do pequeno apartamento e se foi. No caminho, pensou na vida, mais uma vez. As estrelas haviam desaparecido e ela apostava que ia chover, mas esperava não ter que passar a noite em casa, sozinha, ouvindo os pingos através da sua janela. O lençol, ultimamente, era sua mais fiel companhia. Joe, o gato, havia fugido há alguns meses, deixando seu coração partido. Foi então que ela decidiu que deveria existir alguém no mundo para ela, um ser humano que seja, porque Deus não poderia tê-la colocado no mundo para viver num apartamento de dois quartos sozinha, abandonada por um gato. Ao entrar no bar, reconheceu algumas pessoas, conhecidos de faculdade, ninguém importante. Quando olhou para uma mesa, encostada no canto mais escondido dali, o viu. Um cigarro na mão e um copo de vodka, um olhar triste, cansado. "Ele é tão bonito", pensou consigo, enquanto sorria torto. Andou até a mesa e, quando ele a viu, o mundo girou em sua cabeça e jamais imaginara que a mulher da sua vida fosse tão bonita. Eles se conheceram num restaurante, haviam dividido uma mesa e se encantaram um com o outro. E foi assim, nada sério, sempre com medo de pisar no lugar errado e destruir todo aquele castelo de sentimentos. Ele se levantou, jogou o cigarro fora, e deixou toda a tristeza ir junto com ele. Se abraçaram e logo o beijo foi dado, ele com as mãos em sua cintura, ela com as mãos em seu cabelo liso, caindo nos ombros, com cheiro de shampoo de menino. Era isso, ele era um menino, cheio de manhas, de sonhos altos e imaginação. E ela queria beijar cada parte do seu rosto e dizer aquilo que o Zeca Baleiro disse em uma música que não lembrava o nome: "você me faz parecer menos só, menos sozinho, você me faz parecer menos pó, menos pozinho". A noite foi longa, quase durou uma vida, e ela sabia que eles continuariam tímidos, apaixonados, feito adolescentes de 13 anos, primeiro amor de escola. 

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