14 de maio de 2015

"Get out while you can."

Eu sabia que acordar nesse dia não era uma boa opção. Mas eu tinha que ir ao médico fazer exame sei lá de que - esses exames que a gente faz quando não tem doença e fica querendo encontrar uma. Culpa da minha mãe. Culpa dela porque, se não fosse por ela, eu não iria aos médicos. Eu tenho pavor à medicina. Eu tenho pavor à ideia de que a gente tá ali, com umas dores na unha, vai no médico e descobre que tem que retirar a vesícula. "Mas eu nem sabia que precisava de vesícula." E como precisava. Faz uma falta danada essa tal de vesícula. Mais falta que aquele namorado que você morria de amores por ele. Você só nota que aquela coisinha existia quando a perde. É a mesma coisa que uma relação entre seres humanos. Mas o meu ponto é que eu sabia que, mais uma vez, ia dar tudo errado nesse dia. Porque o despertador tocou oito horas mas só consegui abrir os olhos às nove. Porque sonhei que ganhava na loteria. Porque tinha que lavar o cabelo. Porque tinha que escrever algo pra monografia - só consegui escrever uma página e um título - o que já é algo, porque não sei lidar com a ideia de criar títulos. E ai a médica disse que tô bem. "Vamo passar uns exames de rotina." Exame de sangue de novo. Ela não podia passar ultrassom, eu não podia beber aquele tanto de água e vomitar mais uma vez na clínica onde todo mundo já tinha gravado minha cara porque eu já tinha vomitado três vezes por lá. "Não passa ultrassom." Não passou. Exame de sangue. Outro dilema. Minhas veias são tão problemáticas quanto minha própria vida. Acho que o stress reflete no meu sangue e ele resolve que não quer sair, não importa se tem uma agulha e uma seringa ali, implorando pra que ele venha. Não sai. Ai aquela maldita enfermeira aperta meu braço pro sangue sair. E ele sai, mas é tão à força, como que quem é puxado pelos cabelos. "Volta aqui pra mostrar os resultados." Não vou voltar. Não quero saber quais doenças eu tenho ou quais possíveis doenças poderei ter. E eu tinha medo de perguntar aos céus se mais alguma coisa podia piorar porque eu sabia a resposta. Sabia que podia porque minha vida é essa eterna provação: tá ruim, mas piora. E ai eu tinha que ir pra aula. O dilema de ir, ter um horário e ficar esperando até às dez pelo meu irmão. E o mal estar que me dá ao pensar na ideia de ficar sentada naquele banco duro onde parece que logo, logo não vou mais conseguir levantar de lá. E olhar pra aquelas pessoas que eu sei que não gostam de mim porque todo mundo sabe que ninguém gosta de mim. Deve ter muita coisa errada comigo. Não tem aula. Eu sabia, sabia. Que até nas coisas mais simples, o universo resolve que não vai dar certo pra mim. Não vai dar certo e pronto. Não pode fugir à regra. Essa regra desengonçada de que se pode dar errado, vai dar. E era só mais uma quinta-feira normal. E faltava tanto ainda pra vida acabar. 

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