31 de outubro de 2010

Amantes.

Faziam 43 minutos e 27 segundos que eu estava sentada lá, lendo aquele livro que parecia não acabar nunca, mas também, deveras, eu não conseguia passar da página que eu estava lendo, minha concentração estava zero. Eu sentia os olhos dele grudados em mim, o que estava me causando um arrepio. Em um momento, ele levantou-se e foi até o balcão da cafeteria, então pensei: "Talvez ele esteja fingindo que não me viu." Mas isso era impossível! Praticamente todas as pessoas ali já deveriam ter percebido os olhos dele me encarando, como se eu fosse algum tipo de comida. 44 minutos. Quanto tempo mais ele demoraria? Céus, eu estava começando a pensar se não deveria ir em sua mesa, sei lá, tentar engatar a conversa. Não! Ele tem que fazer isso! Eu estava esperando por tanto tempo, não sei se aguentaria mais alguns minutos. A garçonete veio e perguntou se eu queria alguma coisa mais, então acabei pedindo outra xícara de café, dessa vez amargo, eu já estava começando a ficar enjoada. A garçonete trouxe o meu pedido e ficou parada, me olhando. Depois de alguns segundos foi que eu percebi, eu estava absorvida em meus pensamentos. "O que?" Perguntei. Por que ela estaria parada ali, me olhando também? "Perdão, mas acho que aquele homem não para de olhar para a senhorita. Por acaso o conhece?" Ela perguntou, tímida. Eu não sabia o que responder ou como responder. Ela percebeu, como todo mundo deve ter percebido. Por que eu tinha que ser tão fraca? Por que eu não conseguia tomar uma atitude? Eu sou uma mulher, pensei, tenho que fazer algo. Levantei-me, sem dar uma resposta à pobre garçonete, e fui à mesa do tal homem. Quando me aproximei, ele mirou seu olhar mais ainda em mim, como se tentasse ler minha mente. Fiquei parada por uns dois segundos, até que ele perguntou: "Por que demorou tanto?" E eu sorri.

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